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Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, instituições, lugares, eventos e acontecimentos são produtos da imaginação da autora ou foram utilizados de maneira ficcional. Quaisquer semelhanças com pessoas reais, vivas ou mortas, ou eventos da realidade não passam de coincidência.
Capa por Victoria Miller.
Copyright © 2021 por Rebekah Lewis
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Para Niki e Nelly,
Não tivemos a chance de trabalharmos juntas por muito tempo, mas vocês transformaram aquela época no escritório em uma festa.
Obrigada.
Capítulo 1
11 de agosto de 1817
Bryce Stirling, o terceiro Conde de Winterthorne, cruzou os braços ao encarar, pela janela, o interior inglês em movimento. Summerfield ficava a apenas um dia de viagem de Londres, mas o problema não era essa.
— Não sei por que temos que ir… — Ele se virou e encarou a muitíssimo velha tataravó com um olhar que intimidaria a maior parte das pessoas. A Duquesa de Ceres, no entanto, pareceu entediada com as reclamações do homem. Reclamações, arrependia-se Bryce, das quais ele não abria mão desde que tinha sido informado que a acompanharia ao casamento de pessoas que o neto sequer conhecia. Honestamente, não compreendia por qual razão estava sendo arrastado ao interior contra sua vontade.
Claro, a tataravó não era uma velhinha frágil a quem ele tinha que agradar por dever ao laço familiar ou para ser educado. Não, a Duquesa de Ceres era ninguém menos do que a deusa Deméter, e, de acordo com a sociedade londrina, ela era tia dele. Isto, porque parecia ainda mais nova do que a mãe de Bryce, com a pele sem manchas, o cabelo ruivo e os olhos verdes brilhantes e atentos.
— Por que você está dificultando tanto a situação? Ione é sua prima…
— Prima de muitos graus — corrigiu-a o neto, ignorando o olhar que recebeu por não a deixar terminar a frase. — Eu não cresci com ela. Eu nunca sequer a conheci.
— É raro alguém que sabe da sua origem passar mais do que alguns dias em Londres. Faria bem a você ter uma conhecida com quem conversar. Se ao menos você pudesse ir ao Olimpo… — Deméter franziu a testa. Esta era uma queixa comum. Fazia tempo que Zeus tinha fechado os portões para os forasteiros, incluindo para os membros do próprio panteão que não estavam presentes quando o cadeado mítico foi fechado. Sendo semideus, Bryce deveria poder fazer uma visitinha ao outro lar ancestral quando desbloqueasse os seus poderes divinos, mas, infelizmente… nunca teria essa chance. Não havia como sentir falta daquilo que nunca tinha vivido. Por alguma razão, a ideia de jamais visitar o Olimpo sequer o incomodava.
— Não preciso conversar com ninguém sobre isso. — Por que precisaria? Ser um semideus tinha seus pontos positivos, mas não era como se a sua condição tivesse se tornado um fardo tão grande ao ponto de Bryce não a aguentar. Ainda era novo, tinha vinte e cinco anos e uma vida toda para aproveitar suas… habilidades.
— As irmãs de Ione vão estar lá. Bem, pelo menos um punhado delas. Nem todas vão conseguir comparecer, já que têm outras obrigações.
Em resposta a isso, Bryce bufou. Que tipo de obrigações uma sereia tinha?
— Tenho certeza de que as ninfas do mar são uns amores, mas não tenho interesse em ser atormentado nem em ser afogado por uma delas. — Era o que elas faziam, afinal de contas. O fato de o Capitão Harlow estar se casando com uma ninfa que havia rejeitado aquela parte de seu ser era um acidente e nada mais. Desejava sorte ao homem.
Deméter assentiu.
— É o meu sangue correndo pelas suas veias que o deixa tão preocupado. Você quer ficar em terra, e o mar parece que está fora de questão para você. — Ela alisou a saia verde desbotada do vestido, que exibia rendas prateadas e bordados de contas. — Isso, e o medo de ser levado e enganado como aquele filho horrendo do…
Ele ergueu a sobrancelha.
Pigarreando, Deméter continuou, a voz mais calma:
— O que eu quero dizer é que… o sofrimento de Perséfone se transformou em um estresse sem fim dentro da nossa linhagem. Talvez seja culpa minha, também. — Ela deu de ombros e encarou o teto, como se buscasse o perdão pela reação exagerada, há tantos séculos, quando os tios avós de Bryce, Perséfone e Hades, abalaram o panteão com seu casamento. Deméter nunca perdoou Hades. — Se ele não a tivesse enganado com aquela romã…
Não querendo entrar naquele assunto outra vez – porque, quando ela começava a reclamar de Hades, a conversa podia se arrastar por dias –, Bryce voltou a focar nas ninfas do mar, com quem a tataravó queria arranjar um encontro para ele.
— Respirar estaria fora de questão para mim caso eu sequer olhasse por tempo demais para uma dessas ninfas. — Sem mencionar que os poderes dele estavam enraizados na terra, e o homem não pretendia se afastar de sua fonte de poder.
— Ah, que seja. Mas não significa que você não possa se divertir e conhecer a Ione e o Capitão Harlow. Você precisa de mais amigos em Londres, dos quais não tenha que esconder o seu verdadeiro eu. Como eu lhe disse, faria bem a você.
Ela tinha razão, mas Bryce não precisava concordar. Teria preferido conhecê-los em Londres. Aparentemente, havia comparecido a um baile, há pouco tempo, onde tanto ele quanto Ione estiveram presentes, mas Deméter não achou prudente apresentá-los naquela ocasião – só os deuses sabem por