a descer da carruagem, virou-se e encarou a Mansão Summerfield. Era peculiar, apesar de pertencer a um visconde. O Capitão Harlow, na maior parte do tempo, morava ali sozinho – de acordo com os rumores –, enquanto o visconde e a viscondessa, junto com os três filhos, preferiam a agitação e o burburinho de Londres. Os arbustos e os canteiros estavam bem cuidados, mas logo ficou aparente que, quem quer que fosse responsável pela propriedade não tinha muita imaginação se tratando de criar um jardim imponente e digno de receber visitas.
— Devo insistir para que não se meta com a flora deles, Bryce. — A firmeza no tom de Deméter chamou-o de volta para a realidade. — Com certeza notarão, e nem todo mundo aqui sabe que existem olimpianos entre eles.
— Bem, mas nem sempre consigo controlar a necessidade de usar magia. — O mau humor continuou a piorar. Odiava quando recebia broncas como se ainda fosse um garotinho. Era um homem agora. Seu poder de criar e controlar plantas era facilmente mantido em segredo quando em casa, em Winterthorne, com seu grande invernadouro e jardins, mas, na grande casa em Londres, o diminuto jardim e estufa não eram de grande ajuda. A terra o chamava para ser semeada e cuidada, e algumas flores cairiam muito bem em Summerfield, mesmo que não fosse ele o responsável por plantá-las.
Os criados os levaram para dentro da mansão, então, foram rapidamente guiados ao outro lado, passaram pela porta dos fundos e deram de cara com um penhasco com vista para o Mar do Norte. Abaixo, um pedaço de floresta encobria a descida que acabava na praia, que, por enquanto, permanecia fora de vista, apesar do ar e da brisa marinhos. Pelo menos, havia um montão de árvores ali. Bryce emitiu um chiado baixinho, impaciente. Deméter o encarou de soslaio, furiosa, e ele fingiu não ter percebido. Em vez disso, focou nas pessoas ao redor.
Um padre conversava com um cavalheiro mais velho, e Bryce o reconheceu rapidamente como o Visconde de Summerfield. Havia muitas mulheres se demorando por ali, com chapéus elaborados que cobriam o cabelo, mas o vislumbre de uma mecha toda violeta lhe chamou a atenção quando uma das moças prendeu o cacho solto sob o chapéu, escondendo-o. Ah, as ninfas do mar. Eram conhecidas por suas cores interessantes; muitas não conseguiam passar desapercebidas por conta disso.
— Parece que nos atrasamos para a cerimônia. — Deméter apontou para a esquerda, onde uma mulher de cabelo dourado e pele beijada pelo sol sorria amavelmente para um homem de cabelo escuro, que segurava as duas mãos dela enquanto lhe dizia algo. Diversas ninfas os bajulavam, exibindo curiosidade – algumas até mesmo inveja, caso os seus biquinhos provassem algo. — Vou cumprimentá-las e as trarei aqui. Não saia do lugar.
Como se Bryce tivesse algum outro lugar para ir… mas, logo que Deméter desapareceu na multidão de ninfas, o homem se mandou na direção oposta, lançando olhadelas ao redor e evitando as pessoas como podia.
Quando ninguém mais parecia se importar com ele, agachou-se e passou pelos arbustos nos limites da mansão, logo, contornou-a e, então, piscou. Uma estufa se assomava no limite das árvores, escondida da parte da frente da casa por um muro de pedras e por um portão de ferro fundido. Com certeza, Deméter o acabaria encontrando ali, mas era um esconderijo que, por enquanto, daria para o gasto.
Atravessou o terreno e alcançou a estufa. Em seguida, verificou se estava trancada, mas conseguiu abri-la sem dificuldade. Deu uma olhadinha sobre o ombro para garantir que não tinha sido seguido, esgueirou-se para dentro e fechou a porta. Soltando um suspiro aliviado, fechou os olhos e inalou o aroma suave e terroso das folhas e das flores fragrantes. Não se interessava nem um pouco em fazer amigos, e a pontinha dos dedos coçava com a vontade de usar a energia que não podia ser exibida na frente dos mortais.
Quando abriu os olhos e se virou para analisar o que a estufa tinha a lhe oferecer, deu de cara com os olhos grandes e muito azuis de uma jovem de cabelo marrom-escuro, envolta por um vestido rosa desbotado, que combinava perfeitamente com o corar rosado de suas bochechas. Bryce perdeu o fôlego. Por que ficou surpreso em tê-la encontrado ali? Por que a sua beleza tinha feito as entranhas dele se remexerem de um jeito estranho? Uma situação interessante, sem dúvida.
— Eu te conheço — disse ela, de repente, levantando-se da cadeira ao lado de uma mesa diminuta nos fundos da estufa. A mulher tinha estado podando folhas mortas de uma pequena lavanda do vaso logo em frente. — Conde de Winterthorne, acho. Mas não fomos devidamente apresentados.
Ele assentiu, e um cacho louro de seu cabelo caiu sobre os olhos. Então, devolveu-o ao lugar.
— Eu mesmo. E quem tenho o privilégio de encontrar nesta estufa sossegada à beira-mar? — Nossa, ele realmente tinha exagerado, não tinha? Estremeceria se ela não estivesse acompanhando todos os movimentos dele, como se tentando descobrir todos os seus segredos.
— Senhorita Wendelin Harlow. — Ela fez uma mesura, e Bryce não soube dizer se estava sendo educada ou zombando-o. No entanto, agora que sabia quem ela era, o fato de aquela moça estar ali deixou tudo muito mais interessante.
Apoiou as costas na porta e cruzou os braços, dando a ela o seu sorriso mais malandro.
— E o que, conte-me, por favor, a irmã do noivo está fazendo escondida no dia do casamento dele?
Ela piscou, pois claramente não estava esperando ser acusada de tal coisa, mesmo sendo verdade.
— Ah… bem… — A moça sentou-se outra vez. — Meus irmãos são superprotetores. — Ela franziu a testa para a planta em sua frente, então, para a pilha de folhas mortas que ela mesma havia criado ao lado do vaso. — Eu estava caminhando ao redor da propriedade com o Duque de Shellington, e acho que ele tentou me roubar um beijo… — Ela corou e deu uma espiada em Bryce pelo canto do olho.
O homem não achou que ela fosse revelar algo tão escandaloso, e o conde não sabia quem o Duque de Shelligton era. Nunca tinha ouvido falar nele, o que não fazia sentido. Se era um nobre – um duque ainda por cima –, com certeza deveria conhecê-lo. De repente, ficou irritado – porque não conseguia se lembrar do duque, obviamente, e por nenhuma outra razão –, mas assentiu para que ela continuasse.
— Jonathan estava saindo da casa quando o Lorde Shelligton se inclinou sobre mim… Meu irmão teve um acesso de fúria que atraiu diversos espectadores para o que estava acontecendo. Ele não me deixou mais sozinha e me fez ficar ao lado dele durante o casamento, para manter o Lorde Shellington longe de mim. — Ela suspirou, apesar de não ter ficado claro se por conta das atitudes do irmão ou se porque queria que o duque a tentasse roubar um beijo outra vez. Estaria aquela lady correndo atrás de escândalos?
Sem descruzar os braços por completo, Bryce indicou os arredores com uma das mãos.
— Não estou vendo o seu irmão aqui. Você fez picadinho dele e o enterrou nesses vasinhos de flor?
A Senhorita Harlow o encarou por um momento, boquiaberta.
— Você subestima demais a habilidade de Jonathan de me atormentar. Ele voltaria dos mortos se fosse para me atazanar — disse ela, rindo. O som suave e tilintante fez o coração dele bater um pouquinho mais rápido, e Bryce se afastou da porta, aproximando-se dela, mas parou, desajeitado, ao lado da mesa.
— Você gosta de plantas?
Sorrindo, ela encontrou os olhos dele.
— Muito. Não tenho chance de cuidar delas tanto quanto antes, mas, quando visito Summerfield, gosto de passar o maior tempo possível aqui. — Ela olhou ao redor, para as prateleiras nos dois lados da construção, cobertas por vasos e botões em plena floração. — É uma pena nada disso sobreviver na terra.
Mas que coisa esquisita para se dizer.
— Como assim?
— Plantei rosas na primavera passada, na frente da casa, sob as janelas gigantes. — Ela fez uma pausa, esperando para ver se o homem tinha notado as janelas mencionadas. Bryce assentiu. — Em vez de florirem, morreram. Tínhamos um jardim riquíssimo, entretanto, há uns cinco anos, parece que nada com flores sobrevive. Mas, por alguma razão, sobrevivem aqui dentro da estufa. — Ela deu de ombros. — É muito estranho.
Bryce veria o