Margaret Moore

Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro


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assentiu com um movimento de cabeça, embora não parecesse convencida.

      – Milady não pensa que... o barão está interessado nela? – perguntou Robert, chocado. – Para que é que ele ia querer Gabriella, se pode ter milady?

      Um sorriso melancólico curvou os lábios de Josephine.

      – Ele não é apaixonado por mim. Se ele realmente quiser ter Gabriella, tê-la-á. Nenhuma mulher consegue resistir por muito tempo a Etienne.

      – Ainda acho que ele não tem grande oportunidade de conseguir – insistiu Robert. – Gabriella nunca se entregaria a um homem, como se fosse uma... como se...

      Robert enrubesceu, dando-se conta de que por pouco não fora indelicado com lady de Chaney. Ela, no entanto, não pareceu abalar-se. No fundo, era uma mulher inteligente e prática.

      – Não, ela já deixou isso claro – admitiu Josephine. – Mas Etienne é... bem, ele é um homem envolvente. Ela pode deixar-se levar...

      – Não, milady. Gabriella, não – interrompeu Robert. – Além do mais, ela não perde a esperança de que o irmão volte.

      – Tu achas isso provável?

      – Não, milady.

      – Eu lamento ouvir-te dizer isso – murmurou Josephine, e Robert sabia que ela estava a ser sincera. Era uma jovem compreensiva e bondosa, com um coração de ouro! – Achas, então que não tenho nada a temer? Que o barão não está interessado em Gabriella?

      – Por que é que ele se interessaria por ela, quando tem milady? – repetiu Robert, inconformado com a insegurança de Josephine. Ela era a mulher mais desejável do universo!

      – Porque ele não me ama e sabe que eu não o amo.

      – Oh... – O coração de Robert deu um salto e começou a bater mais depressa. – N... Não?

      – Não. Eu nunca me apaixonei, Robert.

      Robert não sabia o que dizer. Mesmo que soubesse, não conseguiria falar; aquela inesperada confissão de Josephine deixara-o sem voz.

      – Robert, tu continuarias no castelo, se Etienne fizesse de Gabriella a sua concubina?

      Robert não esperara aquele tipo de pergunta, e não sabia como responder. De repente, uma visão surgiu-lhe na mente, de si mesmo com aquela mulher ao seu lado, juntos. Impossível! O simples pensamento era, na melhor das hipóteses, loucura, e na pior, traição. Lady Josephine pertencia ao barão DeGuerre! E, apesar da conversa agradável que durava há minutos, ela nunca olharia para ele com outros olhos. Afinal, ele não passava de um camponês! E... que pensamento terrível! Talvez o barão tivesse contado a lady Josephine sobre as acusações de Gabriella, em relação à sua honestidade.

      Apesar de tudo, de todas as resoluções, temores e pensamentos conturbados, naquele instante Josephine de Chaney capturou completa, total e irrevogavelmente o coração solitário de Robert Chalfront.

      Ela levantou-se, com graciosidade.

      – Pensarei no que me disseste, Robert – murmurou, estendendo a mão. – Sei que és um homem ocupado, e não te quero ocupar mais o teu tempo.

      Ela ia ficar com o barão; ela pertencia ao barão. Ele não passava de um simplório, um tolo, um idiota, repetia a si mesmo, enquanto se curvava para beijar os dedos incrivelmente macios de Josephine.

      Não foi o mesmo, no entanto, que pensou Josephine de Chaney, enquanto observava Robert Chalfront a retirar-se. Ela pensava, pelo contrário, que há muito tempo que não apreciava tanto conversar com alguém. Robert Chalfront não tentara seduzi-la, ou impressioná-la, ou bajulá-la. Em nenhum momento, ela ficara preocupada com o que devia dizer, ou se dissera a coisa certa, ou não. Robert não era fisicamente atraente como outros homens que ela conhecera, mas havia nele uma pureza e uma sinceridade que compensavam aquela falha.

      De qualquer forma, fora uma conversa muito agradável.

      Josephine aproximou-se da janela, de onde podia avistar o homem de rosto redondo, um homem que era mais jovem do que aparentava a sua expressão constantemente séria, a atravessar o pátio. Ele era, também, inteligente, responsável e honesto. Seria um marido bom e fiel para com a mulher com quem se casasse; uma mulher virgem, que não se vendera a um nobre.

      Com um suspiro entrecortado, Josephine empertigou-se. O que fizera estava feito, e de nada adiantava lamentar-se. Precisava, agora, de pensar no futuro.

      – Milady? – Gabriella bateu discretamente à porta do quarto, à procura de Josephine, que subira para trocar de roupa, depois da refeição do meio-dia. – Encontra-se no salão um mercador de roupas, que gostaria de lhe falar. A esposa dele é chapeleira.

      – A sério? – perguntou Josephine, jovialmente, abrindo a porta. – Descerei num minuto. Oh, espera... – ela voltou para dentro do quarto e reapareceu em seguida com uma pilha de roupas nos braços. – Há alguém no povoado que aproveite estas roupas?

      – De certeza, milady – respondeu Gabriella, reparando num traje preto que duvidava que algum dia tivesse pertencido a Josephine.

      – Óptimo. Então, leva – ela entregou as roupas a Gabriella. – Podes ir para o povoado, agora, se quiseres. Acho que vou ficar ocupada durante algum tempo com os mercadores.

      Dizendo isto, Josephine passou por Gabriella e desceu as escadas. Gabriella seguiu-a e viu-a cumprimentar o efusivo mercador e a sua menos bajuladora esposa, que tinham chegado com trouxas e cestas de mercadorias para vender.

      Robert Chalfront entrou no salão e inclinou ligeiramente a cabeça para Gabriella, antes de concentrar a atenção em Josephine. Não que fosse algo de se estranhar; todos os homens olhavam para Josephine, mas alguma coisa na expressão de Chalfront fez com que Gabriella hesitasse, por um momento, ao pé da escada. Era algo subtil, porém inegável. Seria possível?... Ter-se-ia ele finalmente desiludido e transferido a sua afeição para Josephine de Chaney?! Era só o que faltava: Chalfront engraçar-se pela concubina do barão! Pobre homem! Tudo o que poderia esperar era a ira do barão, e a indiferença de Josephine.

      Decidindo, no entanto, que as intrigas amorosas daquela gente não eram da sua conta, Gabriella saiu do salão, apressada. Mary encarregar-se-ia de distribuir as roupas a quem achasse conveniente.

      Gabriella respirou profundamente o ar fresco e húmido, enquanto se dirigia para a cabana de Mary. O céu cinzento ameaçava chuva, mas pelo menos ela estava fora do castelo e longe dos seus habitantes.

      Um grupo de crianças camponesas colhiam os frutinhos maduros que salpicavam as sebes de vermelho-escuro, e Gabriella sorriu, ao passar por elas. Ao atravessar a ponte estreita de madeira sobre o rio, ela avistou Osric, o cavaleiro, a caminhar a passos largos ao longo do rio, em direcção à sua casa. Parecia ansioso, quase transtornado, e Gabriella teve a impressão de que as roupas dele estavam sujas de sangue. Talvez se tivesse magoado...

      Ela decidiu segui-lo, pois a mãe de Osric tinha bastante idade e poderia precisar de ajuda, se o ferimento fosse grave. Gabriella parou do lado de fora da porta, e já ia bater quando ouviu a voz áspera de Osric.

      – Ele quase me viu – balbuciava o cavaleiro, ofegante.

      – Quem?

      Gabriella ficou paralisada. Baixou a mão, sem bater, mas também não se conseguiu afastar. Nunca ouvira Alice a falar naquele tom; a velhinha sempre lhe parecera tão meiga e humilde... e agora falava com brusquidão, como se fosse a mais rabugenta proprietária de uma taberna da Inglaterra.

      – O barão! Eu seria um homem morto, se ele me tivesse visto, mamã – choramingou Osric. – Acho que está na hora de nos mudarmos daqui.

      – E deixar estas matas? – Alice proferiu um impropério e Gabriella levou uma mão à boca, arregalando os olhos, incrédula. – Não sejas palerma, Osric! Os coelhos daqui têm a melhor pele que já vi! Tu