Gilbert Keith Chesterton

O Napoleão de Notting Hill


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faça – disse Lambert, balançando com impaciência sua bengala. – Seria mais engraçado do que a bobagem que conta.

      Quin, de pé no alto do morro, estendeu a mão em direção à avenida principal do Jardim de Kensington.

      – A duzentos metros de distância, estão todos os seus conhecidos elegantes com nada para fazer na terra exceto olhar para si mesmos e para nós. Estamos de pé sobre uma elevação sob o céu aberto, como se fosse um pico de fantasia, um Sinai de humor. Estamos num grande púlpito ou plataforma, iluminado com a luz solar, e metade de Londres pode nos ver. Tenha cuidado com o que sugerir para mim. Porque há em mim uma loucura que vai além do martírio, a loucura de um homem completamente ocioso.

      – Não sei do que você está falando – disse Lambert, com desprezo. – Só sei que prefiro você preso na sua cabeça tola, do que falando tanto.

      – Auberon! Pelo amor de Deus… – gritou Barker, saltando para a frente, mas foi muito tarde. Faces de todos os bancos e avenidas se viraram em sua direção. Grupos pararam e pequenas multidões se reuniram, e a luz do forte sol pegou a cena toda em azul, verde e preto, como uma imagem em uma livro infantil. E no topo da colina o pequeno Sr. Auberon Quin estava, com destreza atlética considerável, de ponta cabeça, e acenando com suas botas de couro no ar.

      – Pelo amor de Deus, Quin, levante-se e não seja um idiota – gritou Barker, torcendo as mãos – teremos a cidade inteira aqui.

      – Sim, levante, levante-se, homem – disse Lambert, divertido e irritado. – Eu só estava brincando, levante-se.

      Auberon o fez com um salto, e atirando seu chapéu acima das árvores, começou a pular em uma perna com uma expressão séria. Barker passou a bater o pé no solo descontroladamente.

      – Oh, vamos para casa, Barker, e deixá-lo – disse Lambert – , alguns policiais adequados e corretos vão cuidar dele. Aí vêm eles!

      Dois homens de aparência séria com uniformes discretos vieram até o morro na direção deles. Um deles trazia um papel na mão.

      – Lá está ele, oficial – disse Lambert, alegremente. – Não somos responsáveis por ele.

      O oficial virou-se para o travesso sr. Quin com um olhar silencioso.

      – Meus senhores, não viemos aqui por causa do que acredito estão aludindo. Nós viemos do quartel-general anunciar a seleção de Sua Majestade, o Rei. É a regra, herdada o antigo regime, que a notícia deve ser trazida para o novo soberano imediatamente, onde quer que esteja; então o seguimos até o jardim de Kensington.

      Os olhos de Barker estavam em chamas no seu rosto pálido. Ele era consumido com a ambição por toda sua vida. Com a magnanimidade embrutecida do intelecto, realmente acreditava no método de seleção de déspotas pelo acaso. Mas esta sugestão súbita, que a seleção poderia ter caído em cima dele, o enervou com prazer.

      – Qual de nós – começou, mas o respeitoso funcionário o interrompeu.

      – Não o senhor, sinto informar. Se me é permitido dizê-lo, sabemos de seus serviços para o governo, e seriamos gratos se fosse. A escolha recaiu …

      – Deus abençoe a minha alma! – disse Lambert, saltando dois passos para trás. – Não eu. Não diga que eu sou o autocrata de todas as Rússias.

      – Não, senhor – disse o oficial, com uma leve tosse e um olhar para Auberon, que estava, naquele momento, colocando a cabeça entre as pernas e fazendo um barulho como uma vaca. – No momento, o cavalheiro a quem temos que parabenizar parece estar – er-er- ocupado.

      – Quin? Não! – gritou Barker, correndo até ele – não pode ser. Auberon, pelo amor de Deus, componha-se. Você foi escolhido Rei!

      Com a cabeça ainda de cabeça para baixo entre as pernas, o sr. Quin respondeu modestamente:

      – Não sou digno. Não posso razoavelmente pretender me igualar aos grandes homens que já empunharam o cetro da Grã-Bretanha. Talvez a única peculiaridade que posso afirmar é que sou provavelmente o primeiro monarca que expressou sua alma ao povo de Inglaterra com a cabeça e corpo na presente posição. Isto pode dar-me, para citar um poema que escrevi na minha juventude: Um ofício mais nobre na terra

      Do que por valor, poder cerebral, ou nascimento

      Poderiam dar aos reis guerreiros antigos. Assim, com o intelecto esclarecido por essa postura…

      Lambert e Barker foram encima dele.

      – Não entende? – gritou Lambert. – Não é uma piada. Eles realmente te escolheram rei. Por Deus! Devem ter gostos extravagantes.

      – Os grandes bispos da Idade Média – disse Quin, chutando as pernas no ar, enquanto era arrastado mais ou menos de cabeça para baixo – tinham o hábito de recusar a honra da eleição três vezes e depois aceitá-la. Uma mera questão de detalhes me separa desses grandes homens. Aceitarei o cargo três vezes e recusá-lo depois. Oh! vou trabalhar duro para vocês, meus fiéis! Terão um banquete de humor.

      Por então, já havia sido aterrizado de cabeça para cima, e os dois homens ainda estavam tentando em vão impressioná-lo com a gravidade da situação.

      – Não me disse, Wilfrid Lambert, que eu teria mais valor público se adotasse uma forma mais popular de humor? E quando uma forma popular de humor deveria ser mais firmemente pregada senão agora, quando me tornei o queridinho de todo um povo? Oficial, – continuou ele, dirigindo-se para o mensageiro assustado – não existem cerimônias para comemorar a minha entrada na cidade?

      – Cerimônias – começou o oficial, com constrangimento – foram mais ou menos esquecidas por algum tempo, e…

      Auberon Quin começou a gradualmente tirar o casaco.

      – Toda cerimônia – disse ele – consiste na inversão do óbvio. Assim, os homens, quando desejam ser padres ou juízes, vestem-se como mulheres. Por favor, me ajude com este casaco – e o segurou.

      – Mas, Majestade – disse o oficial, depois de um momento de confusão e manipulação – está colocando-o com as caudas na frente.

      – A inversão do óbvio – disse o rei, com calma – é o mais próximo a que podemos chegar de um ritual com nosso imperfeito aparato. Pode continuar.

      O resto da tarde e noite foi para Barker e Lambert um pesadelo, que não poderiam apropriadamente compreender ou recordar. O rei, com seu casaco invertido, foi para as ruas que estavam à espera dele, e para o antigo palácio de Kensington, que era a residência real. Enquanto passava pequenos grupos de homens, os grupos se transformou em multidões, e emitiam sons que pareciam estranhos para acolher um autocrata. Barker andou atrás, seu cérebro cambaleando, e, enquanto a multidão crescia mais espessa, os sons se tornaram ainda mais incomuns. E quando alcançou o grande mercado local em frente à igreja, Barker sabia que tinha chegado, embora estivesse bem atrás, porque subiu uma gritaria como nunca antes havia recebido nenhum dos reis da terra.

      Livro II

      A Carta das Cidades

      Lambert estava de pé no lado de fora da porta dos aposentos do rei, atônico em meio a aquela agitação de espanto e ridículo. Estava de passagem para a rua, atordoado, quando James Barker cruzou com ele.

      – Onde vai? – perguntou ele.

      – Parar com toda essa tolice, é claro – respondeu Barker, e desapareceu dentro do quarto.

      Entrou de cabeça, batendo a porta, e colocando seu incomparável chapéu de seda sobre a mesa. Sua boca se abriu, mas antes que pudesse falar, o rei disse:

      – Seu chapéu, por favor.

      Revolvendo os dedos, e mal sabendo o que estava fazendo, o jovem político o entregou.

      O rei colocou-o em sua própria cadeira, e sentou-se nele.

      – Um