Stephen Goldin

A Multidão


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não entendo você. Eu lhe dei tudo que qualquer mulher poderia querer—”

      “Exceto identidade. No que diz respeito a você, eu não sou um ser humano, apenas uma esposa. Eu decorei seu braço em jantares de cem dólares o prato e faço barulhos charmosos como as esposas de outros aspirantes a políticos. Eu faço um advogado corporativo socialmente respeitável o suficiente para pensar em correr para o escritório. E, quando você não está me usando, você me esquece, me manda para a cabana ao lado do mar ou me deixa andando sozinha por quinze salas da mansão, apodrecendo lentamente. Eu não posso viver assim, Wes. Eu quero sair.”

      “O que você acha de uma separação de experiência, talvez um mês ou mais—”

      “Eu falei sair’, S-A-I-R. Uma separação não traria nada de bom. A culpa, querido marido, não está em nossas estrelas, mas em nós mesmos. Eu conheço você muito bem, e sei que você nunca mudará algo que seja aceitável para mim. E eu nunca vou ficar satisfeita em ser uma decoração. Assim, uma separação não nos faria bem nenhum. Quero o divórcio.”

      Stoneham cruzou as pernas. “Você falou para alguém sobre isso?”

      “Não.” Ela balançou a cabeça. “Não, eu estava planejando ver Larry amanhã, mas senti que você deveria ser o primeiro a ser informado.”

      “Bom,” Stoneham disse em um sussurro quase inaudível.

      “O que isso quer dizer?” Stella perguntou bruscamente. Suas mãos estavam se mexendo, o que era uma sugestão para buscar na sua bolsa, em cima da escrivaninha, por seu maço de cigarros. Ela realmente precisava de um neste momento.

      Mas, até que ela colocou um cigarro entre seus lábios, percebeu que estava sem fósforos. “Tem isqueiro?”

      “Claro.” Stoneham procurou no bolso do casado e tirou uma caixa de fósforos. “Fique com eles,” ele disse e os jogou para sua esposa.

      Stella os pegou e examinou com interesse. A parte de fora da caixa era de cor prata clara, com estrelas vermelhas e azuis em torno da borda. No centro estavam as palavras que proclamavam:

       WESLEY STONEHAM

       SUPERVISOR

       CONDADO DE SAN MARCOS

      

      Dentro, os fósforos de papel eram da cor vermelha, branca e azul.

      Ela olhou com curiosidade para seu marido, que estava sorrindo para ela. “Gostou deles?” ele perguntou. “Eu acabei de pegar de volta da impressora esta tarde.”

      “Não foi um pouco prematuro?” ela perguntou sarcasticamente.

      “Apenas por alguns dias. O velho Chottman se demitiu da diretoria por causa de problemas de saúde no final de semana, e estão deixando que ele nomeie o homem que quer como seu sucessor para cumprir seu mandato. Não será oficial, claro, até que o governador nomeie o homem, mas eu tenho fontes muito confiáveis que dizem que o meu nome é o que está sendo mencionado. Se Chottman diz que quer que eu cumpra o seu mandato, o governador vai escutar. Chottman tem setenta e três anos e tem muitos favores a cobrar.”

      Uma ideia começou a brotar na cabeça de Stella. “Então é por isso que você não quer o divórcio, não é?”

      “Stell, você sabe tão bem quanto eu o quanto Chottman é puritano,” Stoneham disse. “O velho ainda se opõe firmemente ao pecado de qualquer tipo, e ele acha o divórcio um pecado. Só Deus sabe por que, mas ele acha.” Ele levantou do sofá e foi até sua esposa novamente, segurando seus ombros com ternura, dessa vez. “É por isso que estou pedindo para você esperar. Seria apenas por uma semana ou duas—”

      Stella se afastou com um sorriso elegante e triunfante em seu rosto. “Então é isso. Agora sabemos por que o grande e forte Wesley Stoneham está se rastejando. Você não vai me deixar com qualquer vestígio de auto-respeito, não é? Você nem sequer vai me deixar pensar que veio porque pensou que havia algo em nosso casamento que valeria à pena salvar. Não. Você vem direto com isso. É um favor que você quer.”

      Ela acendeu um fósforo furiosamente e começou a soprar seu cigarro como uma locomotiva a vapor escalando uma colina. Ela jogou o fósforo no cinzeiro, e o fósforo caiu ao lado dele. “Bem, eu estou cansada de sua política, Wesley. Estou cansada de fazer as coisas para que você fique melhor ou mais preocupado com os cidadãos de San Marcos. A única pessoa que você considera é você mesmo. Suponho que você me daria mesmo o divórcio sem contestar se eu esperasse, não é?”

      “Se é o que você quer.”

      “Claro. O Grande Compromisso. Faça qualquer acordo, desde que você obtenha o que quer. Bem, tenho uma pequena surpresa para você, Senhor Supervisor. Eu não faço acordos. Eu não dou a mínima se você faz isso na política ou não. Pretendo entrar no escritório de nosso advogado amanhã e começar a fazer os papéis andarem.”

      “Stella—”

      “Talvez eu até converse um pouco com a imprensa sobre todo o líquido de humanidade humana que flui nas suas veias, querido marido.”

      “Estou avisando, Stella—”

      “Esta seria uma grande tragédia, não seria, Wes, se você tivesse que realmente ser eleito...”

      “PARE, STELLA!”

      “...pelos eleitores para entrar no cargo, em vez de ser nomeado pelos seus amigos por causa de sua bondade e simpatia.”

       “STELLA!”

      Suas mãos estavam em sua garganta enquanto gritava seu nome. Ele queria que ela parasse, mas ela não pararia. Seus lábios continuaram se mexendo e mexendo, e as palavras se perderam em uma névoa silenciosa que envolveu a cabana. As cores normais desapareceram quando o quarto ficou com um tom de sangue. Ele a sacudiu e fechou suas enormes mãos em volta do seu pescoço.

      O cigarro caiu de seus dedos surpresos com o ataque inesperado, derramando algumas cinzas no chão. Stella levantou as mãos contra o peito do marido e tentou afastá-lo. Ela conseguiu por um momento, mas ele continuou vindo, lutando com seus braços se debatendo para agarrá-la com toda a força que tinha.

      Havia um entorpecimento em seus dedos quando se fecharam em volta de sua garganta. Ele não sentia o suave calor de sua pele cedendo sob sua pressão, o pulsar das artérias em seu pescoço ou o aperto instintivo de seus tendões. Tudo o que ele sentia era seus próprios músculos, apertando, apertando, apertando.

      Gradualmente, sua luta cessou. A cor de sua face parecia engraçada, mesmo através da névoa vermelha que escureceu sua visão. Seus olhos esbugalhados pareciam prontos para saltar das órbitas, bem abertos, olhando fixamente para ele, olhando, olhando...

      Ele soltou. Ela caiu no chão, mas devagar. Em câmera lenta, como um sonho lento. Ainda não havia nenhum som enquanto ela atingia o chão. Ela caiu, batendo como uma boneca de pano jogada ao lado de brinquedos extravagantes. Exceto por aquele rosto, aquele rosto roxo e inchado. Sua língua para fora de forma grotesca. Um pequeno fio de sangue saia pelo nariz, descendo pelos lábios rolos e caindo sobre o tapete marrom desbotado. Um dos dedos de sua mão esquerda se contraiu espasmodicamente duas ou três vezes, e depois ficou imóvel.

       * * *

      O mundo azul e branco estava abaixo dele, esperando pelo toque de sua mente. Garnna mergulhou na atmosfera e foi dominado pela abundância de vida. Havia criaturas no ar, na terra, na água. O primeiro teste, claro, foi buscar por qualquer Offasii que pudesse estar por perto, mas foi preciso apenas uma varredura rápida para revelar que não havia nenhum por lá. Os Offasii não foram encontrados em nenhum dos planetas já explorados pelo Zarticku, mas a busca tinha que continuar. A raça Zartic não podia se sentir verdadeiramente segura até que descobrissem o que tinha acontecido com os seus antigos mestres.

      O