Não interpretem-me mal, não digo que não seja correto compartilhar com os outros, mas isso deve ser um passo evolutivo espontâneo da criança.
A criança deve querer fazê-lo porque ele entende por si mesmo que é certo, não deve ser imposto.
Mas isso deve necessariamente passar antes do egoÃsmo de alguém.
O egoÃsmo não é errado, pelo contrário, é o trampolim para o altruÃsmo, é necessário para a formação do amor-próprio, um elemento indispensável de cada pessoa.
O egoÃsmo é saudável, perverso é apenas o seu excesso.
O egoÃsmo serve-nos principalmente para a sobrevivência, somos indivÃduos únicos e temos o direito de viver como qualquer outra pessoa e qualquer outro ser vivo; e quem fará esse trabalho, o de nos manter vivos?
No inÃcio da nossa vida, quando somos pequenos e indefesos, são nossos pais que se encarregam dessa tarefa, eles são felizes, porque é bom cuidar doutra vida, especialmente se ela foi gerada por nós.
Isso é altruÃsmo, mas isso acontece, na verdade, não quando somos crianças, mas como adultos.
Até que um se torne um adulto, os pais cuidam da sobrevivência, mas gradualmente a criança cresce, cada vez mais começa a ter independência e, portanto, também é responsável por si e por sua própria proteção.
E, como adultos, o fardo da responsabilidade está completamente nas mãos do indivÃduo que, se tiver seguido um desenvolvimento harmonioso do amor-próprio, do egoÃsmo sadio mencionado acima, está plenamente desenvolvido.
Mas a nossa sociedade mostra ao invés e inexoravelmente que isso não acontece para quase toda a população.
Se, por um lado, o instinto de sobrevivência funciona ao nÃvel do perigo iminente, ou seja, presto atenção a tudo o que poderia matar-me rapidamente, por exemplo, atravessar a rua com cuidado para não ser atropelado por um carro, ou evitar comportamentos arriscados, como se sobressair duma varanda ou comer alimentos conspÃcuos e deteriorados, por outro lado, temos no nÃvel social toda uma série de comportamentos autodestrutivos do nosso corpo e de nós mesmos.
Um exemplo para todos, para ser claro e não ir longe demais com tantos exemplos, o hábito de fumar ou o de álcool.
Perfeito comportamento completamente contra a natureza, porque nenhum ser na natureza vai contra o seu próprio instinto de preservação da sua individualidade ou da sua espécie.
Qualquer um, até mesmo as crianças das escolas primárias podem entender que, se tais vÃcios não trazem nenhum benefÃcio, mas sim, só mais ou menos graves e incapacitantes doenças, até a morte, são coisas para evitar absolutamente.
O fumante ou o alcoólatra também entende isso perfeitamente, embora busque desculpas para evitar tal argumento, essa responsabilidade com ele mesmo, como, por exemplo, "eu terei que morrer de alguma coisa", ou "tanto o ar está cheio de venenos".
Mas a verdade óbvia é que é melhor evitar qualquer coisa que aproxime-me da morte, o que faz-me envelhecer, o que torna-me inválido de alguma forma.
Isto porque ninguém é feliz quando não é capaz de fazer algo porque já não tem forças ou capacidades, ninguém vive bem se está doente e qualquer um, por quanto possa fazer o forte e o modelo fora da lei dos antigos filmes de Faroeste, fica aterrorizado com a aproximação da morte.
No entanto, isso, como muitos outros comportamentos autolesivos, é a norma em nossa sociedade.
Por quê? Por não termos amor-próprio, não fomos capazes de desenvolver esse egoÃsmo saudável, necessário e vital quando éramos crianças.
Não fomos bem sucedidos porque tudo o que nos rodeia contribuiu para garantir que nos faltasse tal autoestima, até os nossos pais, os nossos primeiros e essenciais modelos, careciam de autoestima, porque, como nós, sofriam exatamente o mesmo tratamento, na época das suas infâncias.
E a falta de amor-próprio tem sido a base de todos os outros problemas que trouxemos connosco desde então, que foram se diversificando de indivÃduo para indivÃduo.
Então, alguém escolheu reagir violentamente e se tornou um criminoso; alguém decidiu não encarar a situação e, em algum momento da sua vida, encontrou-se com ansiedade e ataques de pânico; outra pessoa decidiu não merecer nada e tornou-se um indivÃduo sem sonhos, sem esperanças.
No curso da nossa existência, os problemas foram diversificados e cada um os enfrentou de forma diferente, mas a base comum é a falta de amor.
E a falta de amor é preenchida pelo oposto do amor, o medo, também uma palavra que une toda uma série de problemas, distúrbios e maneiras diferentes de reagir.
Se existe amor por nós mesmos, há segurança, enquanto insegurança é medo.
Onde há paz, serenidade, alegria e felicidade, graças ao amor, a falta disso se torna inquietude, pessimismo, resignação, tristeza, ou seja, sempre medo.
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