escapatória, apercebendo-se que o tempo deles era curto – mas não havia nada.
O rosnado estava a ficar mais forte à medida que ele corria, Alec olhou para trás – e imediatamente desejou não o ter feito. A desabar sobre eles estavam quatro das mais selvagens criaturas que alguma vez ele tinha visto. Assemelhando-se a lobos, os Wilvox tinham o dobro do tamanho, com chifres pequenos e afiados saindo da parte de trás das suas cabeças, e um grande e único olho vermelho entre os chifres. As patas eram do tamanho das dos ursos, com garras longas e pontiagudas, e a sua penugem era escorregadia e tão preta como a noite.
Ao vê-los tão perto, Alec sabia que era um homem morto.
Alec irrompeu para a frente com a rapidez que lhe restava, as suas mãos a suar mesmo no frio gelado, o seu hálito congelado no ar diante dele. Os Wilvox estavam apenas a uma distância de vinte pés e ele sabia, pelo olhar desesperado deles, pela saliva pendurada das suas bocas, que o iriam dilacerar em pedaços. Ele não viu nenhuma saída. Olhou para Marco, à espera de algum sinal de um plano – mas Marco tinha o mesmo olhar de desespero. Ele claramente não tinha também nenhuma ideia do que fazer.
Alec fechou os olhos e fez uma coisa que nunca tinha feito antes: rezou. Ver a sua vida passar-lhe diante dos olhos, mudou-o de alguma forma, fê-lo perceber o quanto apreciava a vida, e fê-lo mais desesperado do que alguma vez tinha estado para mantê-la.
Por favor, Deus, tira-me disto, Depois do que fiz pelo meu irmão, não me deixes morrer aqui. Não neste lugar, e não por estas criaturas. Eu faço qualquer coisa.
Alec abriu os olhos, olhou para a frente, e quando o fez, desta vez reparou numa árvore ligeiramente diferente das outras. Os seus ramos eram mais encaracolados e estavam mais caídos para o chão, com numa altura suficiente para que ele pudesse agarrar-se com um salto em corrida. Ele não tinha ideia nenhuma sobre se os Wilvox conseguiam subir, mas ele não tinha outra alternativa.
“Aquele ramo!” gritou Alec para Marco, apontando.
Eles correram juntos na direção da árvore, e à medida que os Wilvox se aproximavam, a alguns pés de distância, sem pararem, saltaram, cada um deles, e agarraram o ramo, elevando-se.
As mãos do Alec escorregaram na madeira cheia de neve, mas ele conseguiu segurar-se, dando um impulso para cima até conseguir agarrar o ramo seguinte a vários pés do chão. Ele então imediatamente saltou para o ramo seguinte, mais alto três pés, com Marco ao seu lado. Ele nunca tinha trepado tão depressa na sua vida.
Os Wilvox alcançaram-nos, a rosnar ferozmente, saltando e arranhando-lhes os pés. Alec sentiu o bafo quente deles na parte de trás do seu calcanhar um momento antes de ele levantar o seu pé, os dentes a descer e não os apanhando por pouco. Os dois continuaram a trepar, propulsionados pela adrenalina, até ficarem a uns bons quinzes pés do chão e mais seguros do que precisavam estar.
Alec finalmente parou, agarrando um ramo com toda a sua força, recuperando o seu fôlego, e o suor a fazer arder-lhe os olhos. Ele olhou para baixo, observando, rezando para que os Wilvox não conseguissem trepar.
Para o seu imenso alívio, eles continuavam no chão, rosnando e destruindo, a saltar para a árvore, mas claramente sem o conseguirem fazer. Eles arranharam o tronco em fúria, mas sem sucesso.
Os dois sentaram-se no ramo, e à medida que a realidade os consciencializava de que estavam a salvo, ambos suspiraram de alívio. Marco desatou a rir-se, para surpresa de Alex. Era um riso de um louco, um riso de alívio, um riso de um homem que tinha sido poupado a uma morte certa da forma mais improvável.
Alex, ao aperceber-se do quão perto tinham estado, também não conseguiu evitar rir. Ele sabia que estavam longe de estarem em segurança; ele sabia que eles nunca poderiam sair deste lugar e que provavelmente iriam aqui morrer. Mas por agora, pelo menos, estavam a salvo.
“Parece que estou em dívida para contigo”, disse Marco.
Alec abanou a cabeça.
“Não me agradeças ainda”, disse Alec.
Os Wilvox estavam a rosnar ferozmente, levantado o pelo da arte de trás dos seus pescoços, e Alec olhou para o cimo da árvore, com as mãos a tremer, a querer conseguir ficar ainda mais longe e questionando-se quão alto eles conseguiriam trepar, e se tinham alguma outra saída.
De repente, Alec congelou. Quando olhou para cima, ele estremeceu, atingindo por um pavor que ele nunca tinha conhecido. Ali, nos ramos acima dele, a olhar para baixo, estava a criatura mais hedionda que ele alguma vez vira. Oito pés de comprimento, com o corpo de uma cobra mas com seis conjuntos de pés, todos com longas garras, e uma cabeça em forma de enguia, com estreitas fendas para os olhos, amarelo baço, e que estavam focados em Alec. A pouca distância, arqueou as suas costas, assobiou e abriu a boca. Alec, em choque, não podia acreditar o quanto a sua boca se tinha aberto – o suficiente para o engolir inteiro. E ele sabia, pela sua cauda barulhenta, que ele estava prestes a atacar – e a matá-los a ambos.
A sua boca veio para baixo certeira à garganta do Alec, e ele reagiu involuntariamente. Ele gritou e saltou para trás perdendo o seu equilíbrio, Marco por detrás deles, pensando apenas em escapar daqueles dentes pontiagudos mortíferos, daquela boca grande, uma morte certa.
Ele nem sequer pensou no que poderia estar por baixo. Quando deu por ele a cair de costas pelo ar, rodopiando, apercebeu-se, demasiado tarde, que estava a passar de um conjunto de dentes afiados para outro.
Ele tinha trocado uma morte por outra.
CAPÍTULO TRÊS
Kyra voltou lentamente para trás pelos portões de Argos, os olhos de todos os homens do pai dela sobre ela, e ela ardeu em vergonha. Ela tinha interpretado mal a sua relação com Theos. Ela tinha pensado, estupidamente, que o podia controlar – e em vez disso, ele tinha-a tratado com desprezo diante de todos aqueles homens. Aos olhos de todos, ela era impotente, não tinha domínio sobre um dragão. Ela era apenas mais uma guerreira – nem sequer uma guerreira, mas apenas uma jovem miúda que tinha levado a sua gente para uma guerra que eles, abandonados por um dragão, não podiam mais ganhar.
Kyra voltou para trás pelos portões de Argos, sentindo os olhares sobre ela no silêncio mais incómodo. O que é que eles pensariam agora sobre ela? Indagava-se ela. Ela nem sequer sabia o que pensar de si própria. Será que o Theos não a tinha vindo buscar? Teria ele apenas lutado esta batalha para os seus próprios fins? Teria ela, de todo, alguns poderes especiais?
Kyra ficou aliviada quando os homens deixaram de olhar, e voltaram às suas pilhagens, todos ocupados a juntar armamento, preparando-se para a guerra. Apressavam-se de um lado para o outro, recolhendo todas as recompensas deixadas para trás pelos Homens do Lorde, a encher carrinhos, levando os cavalos para fora dali, o tilintar do aço sempre presente enquanto escudos e armaduras eram atirados à mão-cheia para amontoados. À medida que caía mais neve e o céu escurecia, todos tinham pouco tempo a perder.
“Kyra”, aproximou-se uma voz familiar.
Ela voltou-se e ficou aliviada de ver a cara sorridente do Anvin quando ele se aproximou dela. Ele olhou para ela com respeito, com a reconfortante bondade e calor da figura paternal que ele sempre tinha sido. Ele colocou um braço afetuosamente à volta do ombro dela, com um sorriso largo por detrás da sua barba, e ele segurou diante dela uma nova espada reluzente, com a sua lâmina gravada com símbolos da Pandesia.
“Do melhor aço que tenho segurado em anos”, notou ele com um sorriso largo.”Graças a ti, temos aqui armas suficientes para começar uma guerra. Tornaste-nos a todos muito mais formidáveis.”
Kyra sentiu-se reconfortada com as palavras dele, como sempre; no entanto, ela ainda não era capaz de ignorar o seu sentimento de depressão, de confusão, de ter sido tratada com desdém pelo dragão. Ela encolheu os ombros.
“Eu não fiz isto tudo”, respondeu ela.”Foi o Theos que fez.”
“No entanto, o Theos voltou por ti”, replicou ele.
Kyra olhou de relance para os céus cinzentos, agora vazios, e questionava-se.
“Não tenho assim tanta certeza.”
Ambos