Sophie Love

Amor Como Aquele


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tenso. E, em vez de atender a ligação com um nome de animal exageradamente bobo como coelho ou pétala, ele usou seu nome verdadeiro.

      “Keira, oi,” ele disse, com voz de cansado, como se tivesse tido o pior dia imaginável.

      A euforia de Keira imediatamente se transformou em angústia. No fundo, ela podia escutar sons não familiares, muita conversa e telefones tocando.

      “O que aconteceu?” Ela perguntou, começando a entrar em pânico. “Onde você está?”

      “Hospital.”

      “Meu Deus, por quê?” O coração de Keira começou a disparar de medo, com a cabeça a mil por hora. “Você está machucado? Doente?”

      “Não sou eu,” disse Shane. “Eu estou bem. É o meu pai.”

      Keira viu o pai de Shane, Calum Lawder, em sua mente. Ele era uma das pessoas mais gentis e doces que ela já havia tido o privilégio de conhecer. Só de pensar que algo havia acontecido com ele, era horrível.

      “Ele está bem? Conte-me o que está acontecendo.”

      Shane respirou fundo. “Ele vai ficar bem agora que o operaram.”

      Keira sentiu seus ossos se enrijecerem. “Operado?” ela gritou.

      “Estive o dia todo no pronto-socorro. Ele teve um ataque cardíaco. Os médicos tiveram que fazer um cateterismo. É um milagre ele estar vivo. Se hoje de manhã não houvesse um cirurgião no hospital com uma consulta marcada, ele não haveria sobrevivido.”

      “Shane, eu sinto muito,”  respondeu Keira, sentindo o peito apertado de angústia. Ela queria poder entrar pela linha do telefone e puxar o Shane por ela, dar-lhe carinho e afeto. “Como sua mãe está? Suas irmãs?”

      “Estamos bem,” respondeu Shane. “Ainda em choque, para ser honesto. Especialmente Hannah.”

      Keira pensou na irmã caçula de Shane, a menina de dezesseis anos de cabelos dourados que ela sentiu uma ligação especial. “Coitadinha,” ela respondeu. De repente, agora não parecia o momento de falar sobre a visita de Shane. Não parecia correto falar sobre todos os planos emocionantes após o susto que o Shane havia acabado de passar. “Como o Calum está agora?”

      “Ele está acordado e fazendo piadas, mas posso perceber que ele está apenas tentando nos tranquilizar.”

      “Sinto muito, babe,” disse Keira. “Gostaria de poder estar com aí para apoiá-lo, mas vou ter que guardar todos os meus abraços para a próxima semana quando você chegar.”

      No outro lado da linha, Shane ficou em silêncio. Keira só conseguia escutar os telefones tocando do hospital movimentado, aparelhos apitando, o som remoto de sirenes e o corre-corre da equipe médica realizando seus deveres.

      “Soa caótico aí,” ela adicionou enquanto Shane ainda permanecia mudo.

      “Keira,” ele disse, interrompendo o final de sua frase.

      Keira não gostou do tom de sua voz. Ela teve a nítida impressão de que Shane estava prestes a dar más notícias.

      “O que…?” Ela perguntou, pronunciando a palavra como se estivesse escolhendo.

      “Vou ter que cancelar a viagem,” declarou Shane.

      Keira percebeu que ele estava arrasado apenas pelo tom de sua voz. Sua própria voz caiu para um sussurro doloroso. “Verdade?”

      “Sinto muito,” respondeu Shane. “Mas preciso ficar aqui. Pela mamãe e as meninas. Elas estão despedaçadas nesse momento. Eu iria me sentir um idiota se fosse para Nova York e as largasse aqui.”

      “Mas é só daqui a uma semana,” respondeu Keira. “As coisas não estarão mais calmas? Calum já vai estar recuperado. E você não ficará longe por muito tempo. Apenas uma semana. Não é como se você fosse ficar por um mês ou algo louco do tipo. Elas ficarão bem sem você por alguns dias. Quero dizer, elas ficam bem sem você uma vez por ano quando você está trabalhando de guia turístico em Lisdoonvarna.”

      Ela percebeu que estava divagando, e parecendo um tanto desesperada. Mas ela estava tão animada para rever Shane, para trazê-lo ao seu mundo da forma como ele teve a chance de fazer com ela. A espera era tão difícil, a ausência tão dolorosa de suportar. Isso sem mencionar todo o dinheiro que ela havia gasto nas passagens de avião, tudo que havia esbanjado—todas aquelas atividades com reserva sem políticas de cancelamento. Ela poderia ter usado o bônus que Elliot lhe deu para pagar um lugar em vez de ficar no sofá de Bryn arruinando suas costas.

      “Meu pai quase morreu, Keira,” Shane disse bruscamente. “Não é a mesma coisa que passar um mês longe de casa uma vez por ano.”

      “Eu sei,” ela disse, docilmente. “Não quero ser egoísta. É que sinto muito a sua falta.”

      “Também sinto a sua falta,” respondeu Shane, suspirando profundamente.

      A garganta de Keira estava apertada de infelicidade. Mas ela não queria falar sobre isso, especialmente quando não era o parente dela no pronto-socorro. Ele decidiu se alegrar.

      “Acredito que não há nada que possa ser feito,” ela disse, soando mais calma do que realmente estava. “Vamos apenas pensar em uma data para que não precisemos suspender a viagem. Não sei o quão bem vou lidar sem poder contar os dias.” Ela deu uma risadinha, tentando dar a impressão de que estava mais do que bem do que realmente estava.

      Novamente, não houve resposta de Shane. No intervalo onde a voz dele deveria estar, Keira conseguia apenas ouvir o som de uma recepcionista explicando para alguém o caminho para a ala de hemodiálise.

      “Shane?” Ela perguntou, timidamente, após receber o máximo de silêncio que conseguia suportar.

      Ele finalmente falou.

      “Não acho que posso agendar outra data,” Shane disse a ela.

      “Por causa de seu pai? Shane, ele vai estar melhor antes que imagina. Recuperado, trabalhando na fazenda. Eu lhe prometo que até novembro tudo estará de volta ao normal. Ou, se você preferir, podemos marcar para dezembro. Isso dará séculos para ele voltar ao trabalho.”

      “Keira,” interrompeu Shane.

      Ela calou-se, interrompendo a linha de pensamento que sabia ser uma tática para evitar a questão, para adiar o que ela temia que estava por vir, uma forma de pausar a terrível fatalidade que Shane estava prestes a dizer.

      “Não posso ir,” ele declarou. “Nunca.”

      Keira sentiu suas mãos começando a tremer. Seu telefone de repente ficou pegajoso em sua mão, como se não estivesse segurando-o de forma apropriada.

      “Então eu vou para a Irlanda,” ela disse docilmente. “Não me importo de viajar se você acha que não pode. Eu adorei a Irlanda. Posso ir até você novamente.”

      “Não é o que eu quis dizer.”

      Keira sabia o que ele queria dizer, mas não queria acreditar. Ela não iria deixar que Shane desistisse no primeiro obstáculo. O amor deles era maior do que isso, mais importante e especial. Ela teria que convencê-lo do contrário, mesmo que isso significasse parecer desesperada ou se tornar, nas palavras de Bryn, muito dependente.

      Ela escutou ao som da inspiração profunda e triste de Shane . “Precisam de mim na fazenda, com minha família. A Irlanda é o meu lar. Não posso me mudar para outro lugar.”

      “Ninguém está falando em mudar,” respondeu Keira.

      “Mas falaremos, em breve,” disse Shane. “Se quisermos que nossa relação funcione, em algum momento teremos que morar no mesmo país. Não posso me mudar para aí. Você não se mudará para cá.”

      “Eu poderia,” gaguejou Keira. “Estou certa que poderia. Em algum momento.”

      Ela pensou no lindo país que havia se apaixonado. Ela com certeza poderia morar lá se fosse necessário para ficar com Shane.

      “Na fazenda?”

      “Claro!”

      A