estava prestes a enviar uma mensagem para Nina quando ouviu o som dos passos rápidos de Joshua se aproximando.
“Que diabos é essa porcaria, Keira?” ele gritou antes mesmo de chegar em sua mesa.
Suas palavras ecoaram pelo escritório. Todas as cabeças viraram para assistir o mais recente ataque verbal, simultaneamente felizes por não serem eles recebendo, e animados pela possibilidade de que outro cordeiro de sacrifício fosse satisfazer a necessidade de Joshua de demitir.
“Perdão?” Keira perguntou simpaticamente, embora seu coração estivesse batendo forte.
“Aquela porcaria sobre Irlanda! Tudo aquilo é inútil!”
Keira não sabia como responder. Ela sabia que tinha feito uma boa pesquisa; ela seguiu as especificações, apresentou seus achados em um documento amigável, ela foi além do que foi pedido. Joshua estava com um humor horrível e descontando nela. Provavelmente, isso era um teste para ver como ela reagiria a um ataque verbal público.
“Posso fazer uma nova pesquisa se você quiser,” Keira disse.
“Não há tempo suficiente!” gritou Joshua. “Elliot estará aqui em quinze minutos!”
“Na verdade,” Nina interrompeu, “seu carro acabou de estacionar.” Ela se debruçou na cadeira e olhou para a janela grande.
Joshua ficou vermelho. “Não vou levar a culpa por isso, Swanson,” ele disse, apontando para Keira. “Se Elliot ficar decepcionado, ele saberá de quem é a culpa.”
Ele voltou com passos fortes para sua mesa. Mas, no caminho, um de seus sapatos de couro foi parar em cima de uma poça de café que um de seus escritores ansiosos e apressados tinha derrubado no piso de cerâmica na pressa em chegar ao trabalho.
Houve um momento de animação em suspense, em que Keira pôde sentir que um terrível evento estava prestes a acontecer. E aí começou, os movimentos similares a um desenho animado de deslize e tropeço de Joshua. Ele girou o tronco como se estivesse em uma dança estranha à medida que tentava manter seu equilíbrio. Mas a combinação de piso de cerâmica e macchiato era muito grandiosa para superar.
Joshua perdeu completamente sua passada, com uma perna indo para frente enquanto a outra torcia estranhamente abaixo dele. Todos arfaram quando ele caiu fortemente no chão duro. Um ruído de trituração soou pelo escritório enorme, ecoando de forma repugnante.
“Minha perna!” Joshua gritou, agarrando sua canela por cima de suas calças de cor azul brilhante. “Quebrei minha perna!”
Todos pareciam paralisados em choque. Keira correu até ele, sem saber o que fazer para ajudar, mas certa de que quebrar uma perna daquela maneira era impossível.
“Não vai estar quebrada,” ela gaguejou, tentando tranquilizá-lo. Mas isso foi antes de seu olhar contemplar o ângulo esquisito da perna de Joshua e o rasgo em suas calças, através do qual ela viu um osso saindo. Náusea a dominou. “Na verdade…”
“Não fique parada aí!” Joshua gritou para ela, rolando em agonia. Com um olho semicerrado, ele olhou de relance sua lesão. “Ai meu Deus!” ele gritou. “Eu rasguei minhas calças! Elas custaram mais do que você ganha em um mês!”
Neste momento, as portas de vidro principais abriram-se, e Elliot entrou.
Mesmo que Elliot não tivesse 1,90 m, ele seria imponente. Havia algo sobre ele, sobre o modo com que ele se comportava. Ele conseguia causar terror e obediência nas pessoas apenas com um olhar.
Como um cervo surpreendido por faróis, todos pararam o que estavam fazendo e olharam para ele com medo. Até Joshua ficava assustado em silêncio.
Elliot olhou para frente; Joshua deitado no chão, agarrando a perna, gritando de dor; Keira impotentemente ao lado dele; o bando de escritores parados em suas mesas com expressões de horror em seus rostos.
Mas a expressão de Elliot não mudou. “Alguém chamou uma ambulância para Joshua?” foi tudo o que ele disse.
Houve uma enxurrada súbita de movimento.
“Eu ligo!” todos começaram a falar ao mesmo tempo, à medida que escalavam até o telefone em suas mesas, desesperados para serem vistos por Elliot como os salvadores.
Um reflexo de suor frio brilhava na testa de Joshua. Ele olhava para cima para Elliot.
“Vou ficar bem,” ele disse com seus dentes cerrados, tentando parecer indiferente, mas miseravelmente enfraquecido. “É apenas um osso quebrado. Ainda bem que é minha perna e não meu braço. Não preciso de minha perna para escrever o artigo da Irlanda.” Ele parecia um tanto delirante.
“Mas você precisa entrar em um avião e caminhar pelas Colinas,” Elliot disse calmamente.
“Muletas,” Joshua disse, fazendo caretas. “Cadeira de rodas. Apenas precisamos adaptar um pouco.”
“Joshua,” Elliot respondeu, firmemente, “o único lugar que vou te mandar é para o hospital.”
“Não!” gritou Joshua, tentando sentar. “Eu posso fazer a tarefa! Preciso somente de um gesso e, então, ficarei novo em folha!”
Sem comoção alguma, Elliot ignorou os apelos de Joshua e olhou para seu relógio. “Vou começar a reunião as onze em ponto,” ele anunciou aos redatores. Em seguida, ele foi para a sala de conferência sem olhar para trás.
Todos ficaram parados, em silêncio, chocados, sem saber o que fazer. E, então, o grito de Joshua chamou novamente a atenção deles.
“Vou pegar água para você,” disse Lisa.
“Não quero nenhuma porcaria de água!” gritou Joshua.
“Aqui,” disse Duncan, avançando apressadamente. “Você precisa elevar a lesão.”
Ele foi ao alcance da perna lesionada de Joshua, mas Joshua afastou os braços dele com um tapa. “Não me toque! Juro por Deus que se você me tocar vou te demitir!”
Duncan se afastou com as mãos em posição de trégua.
“A ambulância está aqui,” Nina chamou pela janela. Luzes azuis piscando do outro lado.
Graças a Deus, Keira pensou. Ela já tinha suportado de Joshua o que conseguia por um dia. Por uma vida inteira, se ela fosse honesta com si mesma.
Neste momento, ela olhou para cima e percebeu que Elliot estava parado na entrada da sala de conferência, observando todos alvoroçados ao redor de Joshua, agindo como galinhas sem cabeça. Ele não estava nem um pouco impressionado. Keira notou o relógio. A reunião iria começar em menos de um minuto.
Keira percebeu que havia uma oportunidade ali. Não tinha como Joshua finalizar a tarefa da Irlanda, Elliot deixou bem claro. Isso significava que todos iriam se esforçar para sem notados. Não era o trabalho mais glamoroso, mas era mais do que Keira tinha conseguido até então. Ela precisava daquela tarefa.
Deixando seus colegas para trás, Keira caminhou em direção à sala de conferência. Ela passou por Elliot parado na porta e sentou-se próximo ao lugar que ela sabia Elliot iria ocupar.
Duncan foi o primeiro a notar Keira. Vendo-a sentada na sala de conferência vazia o fez repentinamente perceber o que Keira já havia percebido, que a tarefa da Irlanda estava vaga e era necessário um deles para preenchê-la. Ele correu (ao mesmo tempo em que tentava esconder o fato de estar apressado) para ser o próximo a entrar na sala. Os outros notaram, e houve uma corrida súbita para a sala de conferência, cada colega educadamente se desculpando por “acidentalmente” empurrar o outro na pressa de entrar, para impressionar Elliot, e para ganhar a tarefa cobiçada.
Isto fez com que Joshua ficasse completamente sozinho no meio do escritório de ambiente aberto, paramédicos o erguendo sobre uma maca e o levando, enquanto que na sala de conferência todos seus funcionários se preparavam para brigar por sua tarefa.
“Não sei se vocês notaram,” disse Elliot, “que o acidente infeliz de Joshua me deixou em uma situação um pouco difícil.”
Ele