ouve-me…” A voz de Bill sumiu-se.
Riley sabia o que Bill deixara por dizer. Ele compreendia perfeitamente que tudo o que Riley queria era alguns minutos a sós com Joel. Bill sentiu relutância em permiti-lo.
Ainda com a arma apontada a Joel, Riley olhou para Bill com uma expressão implorativa. Bill anuiu lentamente, dirigiu-se ao homem, leu-lhe os direitos, algemou-o e levou-o para o exterior da casa.
Riley fechou a porta. Depois ficou silenciosamente a fitar Joel Lambert com a arma ainda erguida. Este era o rapaz por quem April se apaixonara. Mas não se tratava de um adolescente qualquer. Estava profundamente envolvido no negócio da droga. Ele tinha usado essas drogas na sua própria filha e tinha tentado vender o corpo de April. Esta pessoa não era capaz de amar ninguém.
“O que é que pensa que vai fazer, senhora chui?” Disse Joel. “Eu tenho direitos, sabe.” E presenteou-a com o mesmo sorriso de gozo que mostrara no seu último encontro.
A arma tremeu ligeiramente na mão de Riley. Ansiava premir o gatilho e rebentar com aquele verme de uma vez. Mas não se podia permitir fazê-lo.
Riley reparou que Joel se esgueirava na direção da mesa de apoio. Era robusto e um pouco mais alto do que Riley.Tentava alcançar um taco de basebol encostado à mesa, obviamente à mão para fins de autodefesa. Riley reprimiu um sorriso sinistro. Parecia que ele ia fazer exatamente aquilo que ela queria que ele fizesse.
“Estás preso,” Disse Riley.
Guardou a arma e pegou nas algemas. Tal como esperava, Joel pegou no taco de basebol e arremeteu-o contra Riley. Ela conseguiu desviar-se do golpe e preparou-se para a próxima investida.
Desta vez Joel ergueu o taco mais alto, pretendendo esmagar-lhe a cabeça com ele. Mas quando o braço desceu, Riley agachou-se e apanhou a extremidade do bastão. Agarrou-o e atirou-o para longe dele. Riley apreciou o olhar de surpresa no rosto de Joel quando perdeu o equilíbrio.
Joel tentou apoiar-se na mesa de apoio para evitar cair. Quando a mão se agarrou à mesa, Riley esmagou-a com o taco. Foi audível o som de ossos a partirem-se.
Joel soltou um grito patético e caiu no chão.
“Sua cabra maluca!” Gritou. “Partiu-me a mão.”
Tentando recuperar o fôlego, Riley algemou-o a um dos pés da cama.
“Não o consegui evitar,” Disse ela. “Tu resististe e eu, acidentalmente, entalei a tua mão na porta. Peço perdão.”
Riley algemou a mão sã ao pé de uma cama. Depois pisou a mão partida e apoiou todo o seu peso nela.
Joel gritou e contorceu-se. Esperneava indefeso.
“Não, não, não!” Gritava.
Ainda com o pé em cima da mão de Joel, Riley agachou-se próximo do seu rosto.
Riley repetiu, zombeteiramente, “’Não, não, não!’ Onde é que eu já ouvi estas palavras? Nos últimos minutos?”
Joel estremecia de dor e horror.
Riley pisou-o com mais força.
“Quem o disse?” Perguntou ela.
“A sua filha… ela disse-o.”
“Disse o quê?”
“’Não, não, não…’”
Riley libertou um pouco a pressão.
“E porque é que a minha filha disse isso?” Perguntou.
Joel mal conseguia falar por entre os violentos soluços que soltava.
“Porque… estava indefesa… e a sofrer. Eu percebo. Eu compreendo.”
Riley retirou o pé. Parecia-lhe que ele tinha percebido a mensagem – pelo menos por agora, embora talvez não de vez. Mas aquilo era o melhor – ou o pior – que podia fazer para já. Ele merecia a morte ou pior ainda. Mas ela não podia ser o instrumento dessa vontade. Pelo menos de uma coisa tinha a certeza: aquela mão nunca mais se recomporia.
Riley deixou Joel algemado e correu para junto da filha. Os olhos de April estavam dilatados e Riley sabia que ela não estava a conseguir vê-la bem.
“Mãe?” Disse April num queixume baixinho.
O som daquela palavra soltou um mundo de angústia em Riley. Desatou a chorar ao começar a ajudar April a vestir-se.
“Vou tirar-te daqui,” Disse entre soluços. “Vai correr tudo bem.”
Mas ao proferir aquelas palavras, Riley só rezava para que fossem verdadeiras.
CAPÍTULO UM
Riley rastejava na terra num espaço escuro debaixo de uma casa. Escuridão total a rodeava. Perguntava-se porque é que não tinha consigo uma lanterna. Afinal de contas, já tinha estado naquele lugar horrível.
Mais uma vez, ouviu a voz de April a chamá-la na escuridão.
“Mãe, onde estás?”
O desespero apoderou-se do coração de Riley. Ela sabia que April estava presa algures no meio daquela maléfica escuridão. E estava a ser torturada por um monstro horrível.
“Estou aqui,” Disse Riley. “Estou a ir. Continua a falar para te encontrar.”
“Estou aqui,” Disse April.
Depois a voz ecoou na escuridão.
“Estou aqui… Estou aqui… Estou aqui…”
Já não era apenas uma voz e já não era apenas uma rapariga. Muitas raparigas estavam a pedir a sua ajuda. E Riley não fazia a mínima ideia de como as encontrar a todas.
Riley acordou do seu pesadelo por alguém que lhe apertava a mão. Adormecera a segurar na mão de April e agora a filha começava a acordar. Riley sentou-se e olhou para a filha deitada na cama.
O rosto de April ainda estava algo pastoso e pálido, mas a sua mão estava mais forte e já não estava fria. Tinha muito melhor aspeto do que no dia anterior. A noite que passara na clínica fizera-lhe muito bem.
April conseguiu fixar o olhar em Riley. Depois vieram as lágrimas, tal como Riley previra.
“Mãe, e se tu não tivesses chegado?” Disse April com a voz sufocada.
Riley sentiu os olhos a arder. April já tinha feito aquela pergunta vezes sem conta e Riley nem conseguia imaginar a resposta, quanto mais verbalizá-la.
O telemóvel de Riley tocou. Era Mike Nevins, o psiquiatra forense e grande amigo que tinha ajudado Riley em muitas crises pessoais e que mais uma vez a auxiliava nesta.
“Só para saber se está tudo bem,” Disse Mike. “Espero não estar a ser inoportuno.”
Riley ficou feliz por ouvir a voz amigável de Mike.
“De maneira nenhuma, Mike. Obrigada por ligares.”
“Como é que ela está?”
“Melhor, acho eu.”
Riley não sabia o que teria feito sem a ajuda de Mike. Depois de Riley ter libertado April das garras de Joel, teve que recorrer a serviços de emergência, tratamentos médicos e relatórios de polícia. Na noite anterior, Mike tinha conseguido que April fosse admitida no Centro de Saúde e Reabilitação de Corcoran Hill.
Era muito mais agradável do que um hospital. Mesmo com todo o equipamento necessário, o quarto era agradável e confortável. Pela janela, Riley via árvores dispostas em terrenos bem tratados.
Naquele preciso momento, o médico de April entrou no quarto. Riley terminou a chamada assim que o Dr. Ellis Spears, um homem de aspeto bondoso e rosto jovem com algumas brancas, entrou.
Tocou