Морган Райс

A Fábrica Mágica


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incomodado".

      A expressão de Chris se fechou ainda mais. "E manchar minha reputação de filho favorito? De jeito nenhum. Você diz".

      Oliver sabia que não valia a pena continuar com aquilo. Seu irmão podia ficar irado por causa de coisas mínimas. Ao longo dos anos, tendo o azar de ser o irmão mais novo de Chris Blue, Oliver havia aprendido a ter cautela, a pisar em ovos para não provocar o seu humor instável. Ele tentou ser racional com ele.

      "Não há outro lugar onde dormir", argumentou. "Aonde eu deveria ir?"

      "O problema é seu", Chris respondeu, empurrando Oliver mais uma vez. "Por mim, pode dormir embaixo da pia da cozinha, com os ratos. Mas não vou dividir o quarto com você".

      Ele moveu o punho no ar, uma ameaça que dispensava explicações. Não havia mais o que dizer. Com um suspiro resignado, Oliver se recompôs, desamassou as roupas e desceu as escadas com pesar.

      Seu irmão enorme desceu trotando pelos degraus e bateu nele com um cotovelo ao passar.

      "Oliver disse que não quer dividir", Chris berrou enquanto passava.

      Da sala de estar, Oliver ouviu a mãe, o pai e Chris começarem a discutir sobre a questão de onde ele poderia dormir. Ele então diminuiu o ritmo, sem a menor vontade de se envolver na confusão.

      Recentemente, Oliver elaborou uma nova estratégia para lidar com as discussões familiares, e envolvia deixar sua mente divagar para um lugar diferente, uma espécie de mundo de fantasia onde tudo era calmo e seguro, onde o único limite era sua imaginação. E era para lá que ele se dirigia agora, fechando os olhos e imaginando-se em uma enorme fábrica de tijolos repleta de invenções incríveis. Havia dragões voadores feitos de latão e cobre, e enormes máquinas fumegantes com engrenagens girando. Oliver adorava invenções, portanto, uma grande fábrica cheia de máquinas mágicas era exatamente o tipo de lugar em que ele desejava estar, ao invés de ali, naquela casa horrível, com sua família horrível.

      De repente, a voz estridente de sua mãe o trouxe de volta à realidade.

      "Oliver! Por que você está criando todo esse problema?"

      Oliver engoliu em seco e deu o último passo até a sala. Quando entrou, os três estavam reunidos, de braços cruzados, com os cenhos igualmente franzidos.

      "Você sabe que a casa só tem dois quartos", o pai começou.

      "E você está causando problemas, dizendo que não quer dividi-lo com seu irmão", acrescentou a mãe.

      "O que devemos fazer?" papai continuou. "Não temos dinheiro para bancar um quarto para cada um".

      Oliver queria gritar para eles que era tudo culpa de Chris, mas a ameaça de apanhar do seu irmão era grande demais. Chris o encarava com raiva. Não havia nada que Oliver pudesse fazer a não ser aceitar as palavras duras e injustas de seus pais.

      "E aí?" sua mãe pressionou. "Onde exatamente sua Excelência planeja dormir então?"

      Chris sorriu enquanto Oliver olhou em volta de si. Até onde podia ver, o andar de baixo tinha a forma de uma letra L, com uma sala de estar que levava a uma espécie de sala de jantar — que na verdade era apenas um canto contendo nada mais do que uma mesa bamba — seguida por uma pequena cozinha. Não havia espaço extra no andar de baixo, apenas um plano aberto.

      Oliver não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Todas as casas em que haviam morado tinham sido terríveis, mas pelo menos ele sempre teve um quarto.

      Então, Oliver olhou para trás e viu um pequeno recuo, talvez de uma lareira que havia sido removida anos antes. Era pouco maior que um nicho, mas havia outra escolha? Ele teria que dormir em um canto! Sem privacidade nenhuma!

      E quanto a todas as suas invenções secretas, aquelas em que ele trabalhava à noite quando ninguém estava olhando? Ele sabia que, se Chris descobrisse o que estava fazendo, arruinaria tudo. Ele provavelmente iria destruir suas invenções até virarem pó. Sem seu próprio quarto e algum lugar para guardar todas as suas bugigangas, peças e engrenagens secretas, Oliver não poderia trabalhar de jeito nenhum!

      Oliver considerou sinceramente dormir no armário da cozinha, imaginando se poderia realmente ser uma opção melhor. Mas imaginou que ver os ratos mordiscando suas invenções seria tão ruim quanto assistir a Chris pisoteando-as. Então, decidiu que, com um pouco de imaginação - uma cortina, uma prateleira, algumas luzes etc. - aquele cantinho poderia se tornar quase um quarto.

      "Ali", Oliver disse baixinho, apontando para o recuo.

      "Ali?!" sua mãe exclamou.

      Chris soltou uma de suas gargalhadas. Oliver o encarou. O pai apenas lamentou e balançou a cabeça.

      "Ele é um garoto estranho", ele falou, indiferente, para ninguém em especial. Então, deu um suspiro exagerado, como se todo aquele desentendimento tivesse sido muito desgastante para ele mesmo. "Mas se ele quer dormir no canto, deixe-o dormir no canto. Já desisti de tentar saber o que fazer com esse garoto".

      "Tudo bem", a mãe falou, frustrada. "Mas você tem razão. Ele está cada dia mais esquisito".

      Os três se viraram, indo na direção da cozinha. Voltando a cabeça, Chris sorriu para Oliver e sussurrou: "Doente".

      Oliver respirou fundo. Caminhou até seu canto e colocou a mala no chão, ao lado dos pés. Não havia onde colocar suas roupas; não havia prateleiras nem gavetas, e quase nenhum espaço para acomodar sua cama - presumindo que seus pais tivessem uma cama para ele. Mas ele daria um jeito. Poderia pendurar uma cortina para ter privacidade, fazer algumas prateleiras de madeira e construir uma gaveta para puxar debaixo da cama - a cama que ele esperava ter - para que houvesse pelo menos algum lugar seguro para guardar suas invenções.

      Além disso, se ele olhasse pelo lado positivo - algo que Oliver sempre tentava ao máximo fazer - ele estava bem ao lado de uma grande janela, o que significava que teria muita luz e pontos de vista para observar.

      Apoiou os cotovelos no peitoril e olhou para o dia cinzento do final do outono. Ventava muito lá fora e o lixo estava sendo levado para o outro lado da rua. Em frente à sua casa havia um carro batido e uma máquina de lavar enferrujada, deixada ali. Definitivamente, era um bairro pobre, Oliver concluiu. Um dos piores em que eles já moraram.

      O vento soprou, sacudindo o vidro das janelas, e uma brisa passou por uma abertura na estrutura de madeira. Oliver estremeceu. Para outubro, o tempo estava muito mais frio do que costumava ser em Nova Jersey. Ele até ouviu no rádio que uma forte tempestade estava se aproximando. Mas ele adorava tempestades, especialmente quando havia trovões e relâmpagos.

      Oliver fungou quando o cheiro de comida penetrou em suas narinas. Saindo da janela, se aventurou na cozinha. Sua mãe estava em pé em frente ao fogão, mexendo alguma coisa em uma panela grande.

      "O que tem para o jantar?" ele perguntou.

      "Carne", disse ela. "E batatas. E ervilhas".

      O estômago de Oliver roncou. Sua família sempre fazia refeições simples, mas Oliver não se importava muito. Ele tinha gostos simples.

      "Vão lavar as mãos, meninos", disse o pai, sentado à mesa.

      Do canto do olho, Oliver viu o sorriso maldoso de Chris e percebeu que o irmão já tinha outro tormento cruel na manga. A última coisa que ele queria fazer era ficar preso no banheiro com Chris, mas o pai levantou os olhos novamente, erguendo as sobrancelhas.

      "Preciso dizer tudo duas vezes?" ele reclamou.

      Não havia como escapar. Oliver saiu da sala e Chris o seguiu de perto. Ele subiu correndo as escadas, indo direto para o banheiro, na tentativa de lavar as mãos o mais rápido possível. Mas Chris se antecipou, e assim que eles estavam longe da visão de seus pais, ele agarrou Oliver e empurrou-o contra a parede.

      "Adivinha, otário", disse ele.

      "O quê?" Oliver disse, se preparando.

      "Estou com muita, muita fome", Chris