Barbara Cartland

A Deusa Do Oriente


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por ela não contassem pontos a seu favor junto a uma madrasta, sobretudo em se tratando de alguém tão jovem.

      A tensão que sempre existira entre ela e seu pai acentuou-se rápida e violentamente, em tudo o que dizia respeito à sua nova esposa. Quando, há seis meses, Jean dera a luz àquele filho tão esperado, Brucena constatou que sua posição no Castelo tornara-se insustentável.

      Seu pai a censurava por qualquer pretexto. Tentava ignorar o ódio estampado no olhar de sua madrasta e tinha certeza de que assim que o herdeiro mimado e adorado pudesse ver e pensar acabaria por odiá-la também.

      –Preciso ir embora daqui– pensou dezenas de vezes, mas não tinha a menor ideia de para onde ir.

      Seus parentes não somente não a queriam, como também se sentiriam muito constrangidos em lhe oferecer um lar sem serem solicitados a tal pelo General.

      Apesar de Brucena nunca ter abordado o assunto com ele, achava que o orgulho de seu pai jamais lhe permitiria pedir ou aceitar favores de seus parentes, a maior parte dos quais achava aborrecidos, convidando-os raramente para ir ao Castelo.

      Tudo o que Brucena possuía, eram trezentas libras, deixadas a ela em testamento por sua avó.

      Recebera orientação no sentido de não gastá-las e sabia que seu pai considerava aquela quantia como parte de seu dote, o que, até certo ponto, o dispensava de maiores esforços, no sentido de completá-lo.

      Compreendia agora que aquilo era uma dádiva dos deuses, que lhe permitiria pagar sua viagem à India.

      Debateu durante muito tempo consigo mesma se deveria contar a seu pai o que pretendia fazer e decidiu pela negativa.

      Sentia que, apesar de ele não gostar dela, apreciava no fundo ter alguém que pudesse repreender e com quem pudesse brigar.

      Brucena se encontrava sempre por lá e o General podia despejar sua cólera sobre ela, sempre que alguma coisa o desagradava, e isto de um modo violento, que ele teria hesitado em empregar com qualquer outra pessoa.

      Subitamente, pareceu a Brucena que tudo se harmonizava enquanto lhe passava um plano pela cabeça e ela não encontrou a menor dificuldade em pô-lo em prática.

      Uma garota, sua única amiga depois que ela se tornara uma mocinha, convidou-a para fazer companhia a ela e a seus pais, em uma viagem a Edimburgo.

      –Papai e mamãe vão estar muito ocupados– disse a jovem para Brucena–, papai tem de receber todas as pessoas importantes que vem do sul para a inspeção das tropas.

      Acharam que eu me sentiria muito só e sugeriram que eu a convidasse para viajar connosco. Podemos visitar as lojas e quem sabe até mesmo sermos convidadas para ir a um baile! De qualquer modo, seria divertido viajarmos juntas.

      –Muito divertido!– concordou Brucena.

      Achou que seu pai criaria dificuldades, mas, para sua grande surpresa, ele declarou que achava a ideia muito boa, contanto que ela não se ausentasse por muito tempo.

      A seu modo de ver, ele estabelecera aquela condição porque, em princípio, não lhe permitia nenhuma diversão, mas há um ano a recusa teria sido perentória. É que naquele momento ainda não lhe nascera o herdeiro, o filho que perpetuaria seu nome.

      Ao despedir-se do pai e da madrasta com forçada cordialidade de ambas as partes, Brucena teve certeza de que eles, no fundo, sentiam-se alegres em livrar-se dela por algum tempo.

      Achou que isto a eximia de quaisquer sentimentos de culpa, em relação aquilo que pretendia fazer.

      Permaneceu durante uma semana em Edimburgo, comprando às escondidas tudo aquilo que achava que iria necessitar na Índia.

      Era suficientemente inteligente para não ir para um novo país antes de aprender algo a respeito e fora muito difícil localizar em casa livros que lhe revelassem o que queria saber.

      Havia, entretanto, numerosas informações sobre a Índia nas livrarias de Edimburgo e ela logo reuniu uma pequena biblioteca. Sabia que teria tempo de ler e reler aqueles livros durante a viagem.

      Disse a seus amigos de Edimburgo que precisava voltar para casa, pois seu pai estava à sua espera e quando eles, com relutância, despediriam se dela, tomou um trem para Londres.

      Era agora que a verdadeira aventura começava, pensou, enquanto viajava para o sul.

      Por mais estranho que parecesse, Brucena tinha plena confiança em que saberia tomar conta de si mesma e que chegaria à Índia sem que nada de mal lhe acontecesse.

      A Sra. Sleeman mandara-lhe instruções completas sobre as providências que deveriam ser tomadas em relação à viagem da babá, se acaso encontrasse uma que quisesse ir.

      Ao ler todas aquelas páginas preenchidas pela caligrafia elegante de prima Amelie, Brucena pensou, com um sorriso, que suas recomendações mais se assemelhavam ao despacho de uma encomenda valiosa que não deveria ser danificada durante a viagem.

      Certificou-se de que a companhia P.&O. tomaria todas as providências e que uma acompanhante para a jovem seria encontrada entre as passageiras que viajavam na segunda classe.

      Haverá missionárias ou senhoras cristas pertencentes a alguma organização e que estarão viajando para Bombaim.

      Prima Amelie escrevera:

      “ Tenho certeza de que não aceitariam dinheiro por seu trabalho, pois o considerariam um ato de caridade. Você deve dar à pessoa que escolheu, um presente adequado, a fim de que ela recompense aquelas senhoras por sua bondade.”

      No escritório da companhia P&O, Brucena relatou uma história um tanto diferente.

      –Tenho de viajar até a Índia para ficar com meus parentes, mas infelizmente a senhora que deveria me acompanhar adoeceu. Os senhores não fariam a gentileza de encontrar alguém que pudesse tomar conta de mim durante a viagem?

      O funcionário olhou para o rostinho bonito de Brucena e achou que era absolutamente necessária a presença de uma acompanhante para uma garota tão atraente.

      Havia sempre oficiais de volta à pátria, de licença. Lidar com romances nascidos a bordo era uma das tarefas menos árduas com que um Comissário se via a braços.

      Algumas vezes, no entanto, a situação tornava-se traumatizante quando os passageiros se envolviam demais e então surgiam dificuldades inesperadas…

      Ele, entretanto, dispôs-se a colaborar no que pudesse, vindo portanto de encontro às expectativas da Sra. Sleeman.

      –Acho que tenho precisamente a pessoa de que necessita, Srta. Nairn. O pastor Grant e sua mulher, estão de regresso a Bombaim e tenho certeza de que a Sra. Grant colaboraria de muito bom grado, quando eu lhe explicar as circunstâncias.

      –Seria muita bondade de sua parte.

      Notou pela expressão do funcionário que ele removeria céus e terras a fim de ajudá-la.

      A Sra. Grant e o pastor revelaram-se pessoas extremamente prestimosas, porém muito aborrecidas… cercaram Brucena com uma aparência de respeitabilidade, mas não interferiram em sua vida e ela passou grande parte da viagem lendo.

      Também apreciava os divertimentos a bordo e à noite transformava-se no centro de atração dos homens que queriam todos dançar com ela, para grande despeito das outras passageiras.

      Era a primeira vez na vida que se sentia livre e sem ser continuamente censurada, como acontecia o tempo todo em casa.

      Sentia uma grande alegria em poder exprimir uma opinião sem ser reprimida e uma alegria ainda maior em saber que, quaisquer que fossem os sentimentos de seu pai em relação ao que ela acabara de fazer, não havia nenhuma atitude que ele pudesse tomar.

      Havia gasto uma quantia apreciável com as roupas e a passagem, mas ainda lhe sobrava algum dinheiro.

      Agora que havia tomado a decisão e deixado sua casa, sabia, no fundo do coração,