Barbara Cartland

Seu Reino Por un Amor


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o que aconteceu com seu Rei e houve inúmeras especulações a respeito.

      Maximiliano sabia que, para o Primeiro-Ministro e o resto do gabinete, era esse também um motivo urgente para tentar convencê-lo a ter um herdeiro.

      O Chanceler disse:

      −Creio ser desnecessário explicar a Vossa Majestade o quanto o povo se sente feliz sob seu reinado, esperando que haja muitos anos de alegria e de prosperidade, ao mesmo tempo...

      Seu olhar encontrou o do rei e ele se calou. Parecia ter medo de dizer mais alguma coisa e de receber uma resposta áspera.

      Maximiliano apertou os lábios. Ia dizer ao Primeiro-Ministro, ao Chanceler e a todos que podiam ir para o inferno, antes de vê-lo casado, quando ele se lembrou de que havia uma ameaça muito maior para Valdastien.

      No ano anterior, em Paris, o Imperador lhe havia dito francamente que temia as ambições da Prússia e que tinha certeza de que Bismarck estava decidido a unir todos os Estados germânicos menores em uma Alemanha imperial que os engoliria a todos, um por um.

      Maximiliano, que não tinha em grande conta a inteligência de Napoleão III, não lhe dera ouvidos.

      Agora, os avisos uns dados por franceses, outros vindos em cartas de monarcas que reinavam em países pequenos como o dele pareciam aumentar cada vez mais.

      Podia visualizar a Alemanha invadindo o mapa da Europa, engolindo um a um os principados até formar uma federação capaz de enfrentar a Inglaterra e a França em pé de igualdade.

      Com surpresa, o Primeiro-Ministro ouviu o Rei dizer, em tom muito diferente do esperado:

      −Vou levar sua proposta em consideração. Compreendo que o que sugere é sensato. Embora não deseje casar, acho justo o desejo de meu povo de eu lhe dar um herdeiro.

      O Primeiro-Ministro respirou, aliviado.

      −Só posso agradecer a Vossa Majestade por se mostrar tão compreensivo.

      −Vou pensar nisso. Acho que o melhor seria eu visitar primeiro os países vizinhos, com os quais pudéssemos fazer uma aliança firme.

      O Primeiro-Ministro, que era um homem astuto, compreendeu exatamente o que o Rei queria dizer. Também ele tinha medo da Alemanha e da ambição de Bismarck, que, como toda a Europa sabia, manipulava o fraco Rei Guilherme, que estava mais interessado em sua saúde do que na grandeza da pátria.

      O Rei levantou-se.

      −Obrigado, senhores, por sua visita. Eu lhes participarei meus planos, assim que tiver tempo de fazê-los.

      Satisfeitos com o resultado da entrevista, o Primeiro-Ministro e o Chanceler se retiraram.

      Depois que ficou sozinho, o Rei sentou-se numa poltrona e ficou olhando, sem vê-lo, o belo quadro de Fragonard na parede oposta. Não viu a figura graciosa no jardim romântico, nem os cupidos acima dela, no céu.

      Pensou apenas na incrível caceteação de ter que tolerar a companhia de uma Rainha cuja única qualidade, no que lhe dizia respeito, seria seu sangue real.

      Pensou nas cortes pretensiosas e aborrecidas que tinha visitado em suas viagens pela Europa; nos monarcas que conhecera. Eram todos iguais, muito cônscios de sua importância, tendo pavor de serem de-postos, não falando de outra coisa a não ser de assuntos familiares e de mexericos a respeito de outras cortes.

      Lembrou-se da comida sem graça, invariavelmente servida nesses lugares que detestava, das camas pouco confortáveis, das intermináveis cerimónias oficiais e compreendeu que uma Rainha traria para o Palácio de Valdastien todas essas coisas que o irritavam e que sempre procurava evitar.

      Sendo solteiro, tinha conseguido reduzir essas cerimônias ao mínimo, podendo divertir-se livremente, quase como se fosse um cavalheiro inglês, em sua propriedade rural.

      Ia caçar quando bem entendia, só recebia as pessoas de quem gostava, deixando todas as cerimônias solenes, a não ser uma ou duas por ano, a cargo do Primeiro-Ministro e de outros membros do Governo.

      Pensando bem, achou que o povo de Valdastien via seu monarca menos do que o de qualquer país. Por isso, disse a si mesmo, com ironia, esse povo estava muito mais satisfeito do que qualquer outro.

      Uma Rainha mudaria tudo! Ia querer comparecer a inúmeras solenidades públicas, visitar hospitais, receber bouquets de flores e, sempre que possível, andar de carruagem para receber os aplausos da multidão.

      Ia também querer interferir na direção dos serviços domésticos do Palácio, que o Rei considerava perfeitos, porque tinha o dom da organização.

      Em vez de jantar com seus amigos íntimos, ou de gozar uma noite solitária, lendo ou indo visitar La Belle, ou a mulher que estivesse instalada na mansão na ocasião, teria que ficar conversando com alguma frau feiosa e maçante.

      As damas de honra seriam, sem dúvida, ainda mais feias e mais aborrecidas do que a Rainha.

      Que vida terrível!

      Mas sabia que não havia alternativa.

      O Primeiro-Ministro não falaria com ele daquele modo, a não ser que tivesse sido pressionado pelos outros membros do governo e também pelos cidadãos importantes, que queriam evitar a ameaça germânica.

      Pior ainda era a perspectiva de terem que encontrar um governante estrangeiro para vir ocupar o lugar do rei, caso ele morresse sem deixar um herdeiro.

      Maximiliano sabia que os gregos tinham procurado desesperada-mente por um monarca, tendo recentemente eleito para o trono o segundo filho do Rei da Dinamarca, que se tornou George I.

      Mas sabia também que, se alguma coisa lhe acontecesse, Valdastien era um país pequeno demais para sobreviver. Um tanto desgostoso, pensou que era justo que fizesse um sacrifício por seu povo.

      Há oito anos que reinava e apreciara cada momento. Tinha sido pouco convencional, mas ninguém se queixou, era também totalmente egoísta, quando se tratava de seus interesses particulares, e o povo o admirava por isso.

      Agora, precisava pagar o preço da liberdade que gozava, mas considerava-o muito alto.

      −Só Deus sabe onde poderei encontrar uma esposa que eu ache pelo menos suportável!− murmurou.

      Como se o diabo zombasse dele, viu passar diante de seus olhos uma procissão de Princesas, altas, baixas, gordas, magras, loiras, morenas, ruivas.

      Todas lhe pareciam muito pouco atraentes, e a ideia de tocá-las fez com que estremecesse, mas uma seria a mãe de seus filhos e usaria a Coroa de Valdestien.

      −Não suportarei isso!

      Depois, como se o diabo mudasse o cenário e erguesse o pano para um outro ato, o Rei viu as mulheres que tinha escolhido por seus encantos e que o prenderam durante algum tempo.

      Todas tinham suas qualidades.

      Assim como os quadros que comprara para o palácio, assim como as jóias que dera a tais mulheres, cada uma delas tinha sido perfeita.

      Mais do que qualquer outra coisa, ele detestava a feiúra. Sabia que tinha herdado do pai o amor à beleza, como também da mãe, que, com seu sangue húngaro, tinha sido uma das mulheres mais bonitas que jamais conhecera.

      Era uma magnífica amazona. Tinha morrido muito moça, porque, assim como ele, gostava dos cavalos selvagens, em vez dos que poderia montar sem perigo.

      Se foi bonita em vida, também continuou sendo bonita depois de morta. O Rei sabia que sua beleza o inspirava, e era o que procurava em todas as mulheres, sem jamais a encontrar.

      Consternado com o futuro, que o esperava, teve a impressão de que, de repente, um abismo se abria à sua frente.

      Não estava mais seguro; devia seguir um caminho estranho e traiçoeiro, com a convicção de que sua paz e sua felicidade seriam destruídas para sempre.

      Começou a andar de um lado para outro, inquieto.