Amy Blankenship

Chuva De Sangue


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direto em seu olho feio. Pensou ter ouvido alguma risada, mas concluiu que veio de algum lugar dentro de si, porque todo o resto estava morto.

      Incapaz de lidar com o cheiro rançoso ou a visão dos corpos mutilados, afastou-se e começou uma caminhada dormente em direção aos raios de luz que acabavam de aparecer sobre as colinas distantes.

      Kriss não sabia por quanto tempo havia caminhado... ou mesmo quantos dias se passaram antes de ter ouvido um som estranho de pisoteio rítmico mais adiante. Ficou ali balançando, tentando não chorar e esperando para ver se teria de lutar de novo. Sangue de demônio... podia senti-lo.

      Não demorou até avistar um homem humano montando um animal, vindo em sua direção. Partes do corpo do homem estavam cobertas com algum tipo de metal entrelaçado e Kriss podia ver a longa espada amarrada às costas... com o punho para fora, ao alcance. Não enxergando nenhum sangue no homem, notou que era ele quem estava coberto de sangue de demônio... estivera assim esse tempo todo.

      Esse foi seu primeiro encontro com Vincent. Encararam-se um ao outro enquanto o homem se aproximava e Kriss recuou alguns passos quando ele deslizou agilmente de cima do grande animal. Seu olhar assustado retornou à espada que parecia perigosa.

      — Não confie em ninguém, exceto em mim — a lembrança da voz de Dean ecoou como um alerta em sua mente e Kriss deu meia volta para fugir.

      — Espere... não corra — Vincent gritou.

      O tom da voz dele se assemelhava ao de Dean, deixando Kriss confuso sobre o que deveria fazer. Estava muito cansado de tentar resolver tudo. Voltou seu olhar para conferir se o homem não tinha empunhado a espada enquanto não estava olhando.

      Vincent respirou de alívio quando o menino se deteve e olhou para ele com curiosidade e ceticismo. As duas últimas aldeias pelas quais havia percorrido eram um caos de sangue e não havia encontrado nenhum sobrevivente até então. Mesmo sujo e coberto de sangue... o garoto parecia saudável e muito atemorizado, levando-o à conclusão de que era de fato um sobrevivente de uma das aldeias.

      — Onde estão seus pais? — perguntou, desejando ganhar a confiança do menino por meio da preocupação em sua voz.

      Onde estavam os pais dele? A pergunta entristeceu Kriss sobremaneira. Seu pai não estava nem mesmo nessa dimensão e provavelmente teria se esquecido dele a essa altura... Dean o deixou e jamais retornou. Kriss sentiu o calor das lágrimas percorrendo seu rosto. A única resposta que podia dar era uma sacudida lenta com a cabeça enquanto virava para ficar de frente ao homem.

      — Está ferido? — Vincent perguntou enquanto se aproximava e se ajoelhava diante de Kriss para que sua altura não intimidasse o garoto... ele não teria mais de nove ou dez anos de idade. Devagar, Vincent estendeu a mão e tocou com sua palma a bochecha manchada, esfregando com a parte macia do polegar, para enxugar as lágrimas.

      Kriss lembrou a si mesmo o que esse homem humano estaria pensando quando olhava para ele... que estava coberto de sangue e vestindo pouco mais que trapos. Já que quase todos seus ferimentos cicatrizaram e sabendo que não deveria contar a um humano o que realmente havia acontecido, respondeu com a única outra coisa que era a verdade.

      — Estou completamente sozinho agora — começou a chorar genuinamente naquele momento... gemidos altos com soluços, fazendo com que Vincent o puxasse para seus braços... sussurrando que estava tudo bem agora... que o protegeria e cuidaria dele.

      E Vincent o protegeu... a ponto de sacrificar a própria vida.

      A dor da taça cortando a palma da sua mão trouxe Kriss de volta ao presente. Abriu seu punho, vendo a saliência do caco de vidro.

      Essa foi a cena que Dean presenciou quando saiu do chuveiro. Franziu a testa ao ver Kriss ali de pé, removendo um caco de vidro da palma da mão. Bater a porta atrás de si fez com que o outro Fallen se esquivasse e seus olhares se encontraram no reflexo da janela. Não estava com disposição para ver seu amante lamentar pela paixão de infância de novo. Uma vez era mais que suficiente.

      Kriss respirou fundo, tentando aliviar a dor no peito. — Nunca pensei que fosse vê-lo novamente, Dean. Na verdade, uma parte de mim tinha esperanças dele já ter me perdoado. Somente estava tentando salvar sua vida.

      — Ele era mortal, Kriss. Você fez muito mais do que simplesmente salvar sua vida e sabe disso — disse Dean apaticamente. — Por sua causa, agora ele pode experimentar a dor da morte pela eternidade e ressuscitar para se queixar disso. A mente humana é limitada. É por isso que a longevidade deles foi feita para ser curta.

      — Eu sei — rosnou Kriss. — Você nunca hesitou em me lembrar disso. Tomei uma decisão egoísta, mas estava completamente sozinho num mundo onde demônios vagueavam livremente, e não pensei que você fosse voltar. Você esteve longe por tanto tempo que eu temia que os demônios o tivessem matado... Não quero perdê-lo também.

      Dean suspirou e tentou manter o humor sob controle. — Você descobriria no instante em que algo acontecesse comigo, então seu medo foi por nada.

      — Eu era uma criança, Dean — Kriss replicou. — Tudo o que eu queria era alguém que cuidasse de mim e que me deixasse cuidar dele em troca.

      — Você é tão chorão — Dean troçou, bem ciente de que o príncipe adolescente havia se apaixonado pelo cavaleiro durante a sua ausência. Esse pequeno fato foi uma pílula difícil de engolir enquanto observava Kriss lamentar a perda de seu amor. Cerrou os dentes, imaginando se Kriss ficaria obcecado de novo por sua paixão de infância.

      Kriss arremessou a garrafa de Heat pela sala, fazendo Dean inclinar um pouco para o lado, para que não fosse atingido. — Vá se ferrar, Dean.

      Dean endireitou os ombros: — Eis o meu príncipe malcriado, em toda sua glória mimada.

      Sem mais palavras, Kriss se jogou em Dean com o punho recuado, pronto para acertar em cheio o rosto do outro Fallen.

      Dean estava pronto para o ataque e agarrou o pulso fechado de Kriss com uma mão e a camisa dele com a outra. Com pouco esforço, Dean aproveitou o ímpeto da raiva de Kriss e fez os dois rodopiarem, abatendo o príncipe Fallen contra o chão. Alguns botões pularam pelo assoalho, abrindo a camisa de Kriss.

      — Quer fazer uma nova tentativa contra mim? — Dean exigiu, com um olhar duro. — Aguento a noite toda.

      Kriss afundou-se no chão como que desistindo, e então repentinamente meteu o punho no rosto de Dean, fazendo a cabeça do outro Fallen estalar para o lado.

      — É claro que você não entenderia — Kriss gritou enquanto chutava Dean no estômago por prazer. — Você nunca ligou se eu estava sozinho ou não. Provou isso ao sair de fininho para cometer suicídio, quando... ainda ontem? Se a ambrósia funcionou nos Fallen, eu a teria enfiado abaixo da sua goela egoísta e não me arrependeria de te matar.

      Dean caiu de pé e escorregou para trás por causa da força do chute. Quer dizer que Kriss ainda estava bravo com ele, sim? Ou ele só estava esfregando isso na sua cara, agora que o ex-namorado tinha regressado? Seus ciúmes rapidamente surgiram com esse pensamento.

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