Juan Moisés De La Serna Tuya

Cérebro E Pandemia


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       ências190

      A pesquisa sobre o cérebro tem sido uma constante na ciência, há vestígios sobre isso desde a época dos egípcios, que deixaram evidências de trepanações cranianas que realizavam para “libertar” o paciente de seus problemas, prática que se manteve até o desenvolvimento da medicina como ciência (Collado-Vázquez & Carrillo, 2014).

      Os primeiros estudos anatômicos descritivos dos cérebros post mortem permitiram diferenciar lobos, sulcos e fissuras cerebrais a nível de córtex e a identificação das estruturas subcorticais, as quais eram visíveis apesar do tamanho reduzido de algumas.

      O desenvolvimento do microscópio permitiu o surgimento da histologia, conhecida também como anatomia microscópica, onde com o tempo começaram-se a observar as células do cérebro, e posteriormente foi possível classificá-las e estabelecer as regiões onde são encontradas com mais frequência, e graças às manchas e contrastes como, por exemplo, com cloreto de ouro ou cromato de prata, foi possível delimitar a estrutura das camadas e dentro delas as formas dos neurônios.

      

Ilustração 1 Tweet de Neurônio no Miscroscópio Eletrônico

      Atualmente os microscópios eletrônicos, tem uma resolução cinco mil vezes maior que os microscópios óticos, e tem nos permitido observar as mitocôndrias, o complexo de Golgi e outras estruturas internas dos neurônios, assim como das proteínas (@rafaelsolana2, 2020) (ver ).

      É preciso esclarecer que, hoje em dia, falar das neurociências e do cérebro é bastante habitual, mas nem sempre foi assim, por ser um campo do conhecimento que surgiu há relativamente pouco tempo; apesar de que em sentido estrito não é possível dizer que exista uma neurociência como tal, e sim um conjunto de contribuições dos diversos ramos do conhecimento que alimentam e compõem o corpo das neurociências. Então, se o seu objeto de estudo for levado em consideração, o sistema nervoso e sua atividade poderá ser entendido abrangendo tanto a anatomia e a bioquímica, como também a genética, e até a psicologia.

      Embora inicialmente possa ter surgido como uma especialização da medicina, das análises anatomofisiológicas do sistema nervoso, hoje em dia seria impossível separá-lo de todas as contribuições que recebeu das outras áreas do conhecimento.

      As neurociências não só vão servir para explicar como funciona o sistema nervoso, e seu órgão mais importante, o cérebro, mas também vão lidar com várias subáreas, como o neuromarketing, a neuroeconomia (Terán & López-Pascual, 2019), a neurofarmacologia, a neuropsicologia, a neuroanatomia, a neurolinguística entre outras.

      A importância deste campo de estudo é que graças a ele se pôde conhecer muito melhor como agir como pessoa e como sociedade, assim como na hora de encarar transtornos de desenvolvimento superimportantes como o Transtorno do Espectro Autista ou doenças neurodegenerativas como a Doença de Alzheimer.

      É um campo de conhecimento em que participam pesquisadores de todos os países, que dia a dia vão apresentado novas informações, nos fazendo pensar em novas questões, na busca para entender o órgão mais complexo do corpo humano, o cérebro.

      Por exemplo, no estudo para a compreensão sobre o tema do desenvolvimento dos superdotados ou das pessoas com altas habilidades, este parece estar um pouco longe do interesse da sociedade, mais sensibilizada com outras problemáticas, entendendo que os “mais inteligentes” vão poder “sobreviver” e “seguir adiante” por si próprios, focando as políticas em necessidades especiais com os que “realmente necessitam” para que possam alcançar o mesmo nível que o resto, e melhorar na medida do possível.

      Por outro lado, existem pessoas que se preocupam com este grupo, que estabelecem políticas orientadas a detecção precoce e treinamento específico para potencializar suas capacidades como uma forma de investir no seu próprio futuro por parte da sociedade, sabendo que estas pessoas vão ser as que amanhã vão conseguir solucionar os problemas que vão surgindo, trazendo novos avanços e descobertas.

      Existem duas concepções baseadas em abordagens distintas da inteligência. A primeira seria de uma mais biológica, onde se assume que por uma dotação genética, a pessoa será assim por toda a sua vida, e isso vai “facilitar” seu desenvolvimento.

      Em contrapartida, a segunda, sem negar a dotação genética, diz que se tem que trabalhar com esforço e prática para poder conseguir desenvolver ao máximo suas capacidades, o que permitirá à pessoa ser um “grande” médico, músico ou cientista, mas os superdotados possuem cérebros diferentes?

      Isto é o que se tem tentado descobrir com um estudo realizado com a participação do Instituto de Investigação Biomédica August Pi i Sunyer (IDIBAPS); a Escuela Oms y Prat, Fundació Catalunya; a Fundación Oms; o Centro de Diagnóstico por Imagem do Hospital Clinic; o Grupo de Procesamiento de Datos y Señales; o Grupo de Investigação em Cuidado Digital da Universidade de Vic; junto ao Instituto de Neurociências e o Departamento de Psicologia Clínica e Psicobiologia da Universidade de Barcelona (Espanha) e a Unidade de Mapeamento Cerebral do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Cambridge (Inglaterra) (Solé-Casals et al., 2019).

      No estudo participaram 29 meninos com média de 12 anos, 15 superdotados com Q.I. maior que 145 com percentual acima de 90% em memória, inteligência espacial, numérica, raciocínio abstrato e verbal; e o restante que seria o grupo controle com Q.I. até 126, avaliado pelo Wechsler Intelligence Scale for Children (Wechsler, 2012).

      Todos eles passaram por uma ressonância magnética em repouso para comparar as características cerebrais de ambos os grupos.

      Os resultados mostraram diferenças anatômicas entre ambos os grupos igualados por idade, que no caso dos superdotados continham estruturas com uma interconexão global e integrada, ou seja, uma concentração topológica é produzida no nível neural o que aumenta sua eficiência em comparação ao grupo controle, que tem uma distribuição mais ampla e difusa.

      Desta forma os cérebros dos superdotados não só realizam processos mais eficientes em áreas específicas, como também a comunicação entre essas áreas e a integração da informação é mais rápida e eficiente, permitindo, por exemplo, ter uma maior capacidade na memória de trabalho, que requer a participação de diversas regiões para poder seguir e completar uma tarefa dada.

      Entre as limitações do estudo existe o fato de que somente os meninos foram incluídos, deixando de fora a análise do cérebro das meninas e também que foi analisado somente o cérebro dos destros, sendo que a proporção de destros entre os superdotados foi muito menor que na população em geral.

      Apesar disso, o estudo anterior permite a compreensão de que os menores superdotados vão ter uma maior capacidade cerebral de processamento da informação, o que não necessariamente se relaciona com melhores resultados acadêmicos.

      Ainda que os autores não comentem sobre a “origem” destas diferenças, ao não valorizar o papel da genética ou do ambiente, é evidente que fica nas mãos do sistema educacional poder proporcionar a estimulação necessária para poder desenvolver o potencial neural do menor.

      O desenvolvimento do cérebro é determinado geneticamente, de modo que as estruturas neurais são “repetidas” de humano para humano, o que permite uma identificação morfológica, apesar de que não significa que os cérebros sejam iguais, mas sim a distribuição em lobos, áreas e regiões, e também os sulcos, tratos ou ventrículos neurais.

      De fato, os primeiros estudos anatômicos do cérebro, realizados post mortem, focavam especialmente nas semelhanças e diferenças dos cérebros de pessoas que haviam sofrido alguma patologia, para compará-lo com os cérebros sãos, e desta