Michelle Smart

Poder e desejo


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pela cabeça e beijou-o com voracidade. Então, esqueceu tudo menos esse momento, a sensação de o ter dentro dela, o prazer que se apoderava dela, até as palpitações lhe rasgarem todo o seu ser.

      Enquanto assimilava essas sensações maravilhosas, Matteo acelerou os movimentos, beijou-a na boca, gemeu entre os seus lábios e tremeu, antes de cair em cima dela.

      Ficaram assim por um instante, sem dizer nada, ofegantes, com os corações a bater ao mesmo ritmo e abraçados com força.

      Então, como se todas as sensações se tivessem apagado, algo foi ocupando o seu lugar, o espanto.

      Ouviu que Matteo engolia em seco, que se afastava dela, se virava, se sentava na beira da cama e praguejava, primeiro, em italiano e, depois, em inglês.

      Ficou gelada.

      Alegrou-se por estar deitada, porque, se estivesse de pé, teria perdido as forças. O que tinham feito? Como acontecera?

      Não conseguia explicá-lo e duvidava muito que ele conseguisse. Olhou fixamente para o teto e respirou fundo para conter uma náusea. Se conseguisse descongelar as cordas vocais, certamente, também praguejaria.

      Matteo respirou fundo para se acalmar, levantou-se e começou à procura da roupa. Tinha de sair daquela casa naquele preciso instante. Encontrou a camisa por baixo do vestido dela e uma meia presa ao sutiã.

      Sentiu uma náusea.

      O que fizera? Porque saíra do maldito carro? Porque não se fora embora?

      Vestiu as calças pretas, sem se incomodar em abotoá-las, e também vestiu a camisa sem se importar que estivesse ao contrário.

      A outra meia caíra por baixo do pequeno toucador com uma jarra com flores secas. O facto de, evidentemente, ser um quarto de hóspedes, era o único consolo que conseguia encontrar.

      Pôs as meias nos bolsos do casaco, calçou os sapatos e foi até à porta. Então, quando ia sair a correr, pensou em algo que foi como uma martelada no cérebro. Cerrou os punhos enquanto se insultava pela sua estupidez total e absoluta. Virou-se e observou-a.

      Ela não se mexera. Agarrava os lençóis e tinha o olhar fixo no teto. Então, como se tivesse sentido o peso do seu olhar, virou a cara para ele com os olhos esbugalhados de espanto.

      Essa expressão confirmava tudo e não era preciso dizer nada.

      Natasha sabia tão bem como ele que a loucura que se apoderara deles fora incontrolável e que não tinham usado um preservativo.

      Ele também sabia que Natasha não tomava a pílula. Pietro contara-lhe que estavam a tentar ter um bebé.

      Matteo, embargado por mil sentimentos, foi-se embora sem falar, atravessou a rua com quatro passadas e entrou no carro.

      Uma vez lá dentro, deu rédea solta a toda a raiva que acumulara, bateu no volante com todas as forças e, depois, agarrou a cabeça.

      Passaram vinte minutos até se sentir suficientemente tranquilo para conseguir conduzir e nem sequer voltou a olhar para a casa.

      Duas semanas depois

      Natasha tinha de fazer um esforço sobre-humano para não roer as unhas, mas ainda lhe custava mais não abrir uma das garrafas de vinho branco que tinha no frigorífico desde o enterro de Pietro. Não bebia desde o velório e, se começasse, tinha medo de não parar.

      Francesca, a qualquer momento, ia falar-lhe dos planos para o hospital que iam construir em honra de Pietro. Como seria de esperar, a cunhada demorara apenas uma semana a comprar o terreno e a conseguir todas as licenças necessárias. Certamente, a cunhada era uma das mulheres mais decididas que conhecera. Gostaria de ter metade da sua energia e tenacidade.

      Parecia-lhe que perdera toda a energia que tivera. Sentia-se muito cansada, como se pudesse dormir para sempre.

      Não sabia de onde saíra essa letargia e tinha de presumir que era uma daquelas fases do luto de que lhe tinham falado. Aparentemente, todos eram peritos em luto, todos a observavam e todos esperavam que se desmoronasse.

      Além disso, e apesar de tudo, estava magoada, mas não pelo motivo que todos pensavam. A dor não era por causa do futuro que perdera, mas pelos sete anos que Matteo e ela tinham desperdiçado… E também se misturavam as náuseas que sentia cada vez que se lembrava de como a noite do funeral acabara. Não queria pensar nisso, mas fazia-o, por muito que tentasse bloquear as lembranças.

      A campainha tocou.

      Soprou e tentou recompor-se antes de a empregada abrir a porta a Francesca. Ouviu os passos no chão da casa enorme onde vivera com Pietro e Francesca entrou no escritório, acompanhada pelo irmão Daniele. No entanto, a figura que apareceu atrás do cunhado deixou-a em choque.

      Como era costume entre a família italiana, beijaram-se e abraçaram-se efusivamente entre palavras de consolo sussurradas… Até ter de cumprimentar Matteo.

      Preparou-se, pôs-lhe uma mão no ombro enquanto lhe punha outra na anca e representaram um gesto inevitável se não quisessem levantar suspeitas.

      Quando sentiu a barba incipiente na face, teve de fechar os olhos com todas as forças para tentar não ver a lembrança dessa mesma barba a tocar-lhe no interior da coxa, algo que tinha de esquecer. No entanto, conseguia cheirar a pele e o perfume dele, conseguia sentir a força do corpo, conseguia sentir os caracóis morenos por baixo dos dedos…

      Fora um erro enorme, algo que não tinham de expressar com palavras.

      Não sabia se era possível odiar-se tanto como ela se odiava. Não devia nada a Pietro, mas…

      Simplesmente, não conseguia acreditar que acontecera, não conseguia acreditar que perdera o domínio sobre si própria, não conseguia entender como ou porque acontecera.

      Era como se uma espécie de loucura se tivesse apoderado dos dois.

      Durante uma hora, deixara de ser a menina que fizera algo para agradar aos pais, que renunciara à vida que desejara e mostrara a mulher que nunca deixara que existisse.

      A última coisa em que pensara fora a… proteção, tinham sido néscios e irrefletidos.

      Francesca não lhe dissera que viria com o irmão e o primo e não pensara em perguntar-lhe. Daniele e Matteo geriam umas empresas incrivelmente prósperas que os levavam por todo o mundo e pensara que a sua contribuição para o hospital, sobretudo a de Matteo, chegaria mais tarde.

      Então, olhou melhor para Francesca e compreendeu porque Daniele, pelo menos, ficara em Pisa. A cunhada parecia mais consumida do que no funeral, melhor dizendo, parecia que se apagara a luz que sempre a iluminara por dentro. Daniele nunca abandonaria a irmã nesse estado.

      Francesca também olhou para ela com atenção.

      – Como estás? Estás pálida.

      – Só estou cansada.

      – Seguras as costas, doem-te?

      – Um pouco.

      A empregada chegou com uma bandeja de café com biscotti e pararam de falar da saúde de Natasha. Sentaram-se ao redor da mesa de sala de jantar onde Francesca deixara os documentos. Natasha já nem sequer se lembrava deles. Estar com Matteo sob o mesmo teto fazia com que o seu cérebro parasse.

      Porque viera? Para a torturar?

      Aceitara essa tortura cada vez que o vira durante os últimos sete anos. Deixara que a beijasse e depois, algumas horas mais tarde, aceitara casar-se com outro homem e fizera-o à frente dele e de todos. E fora com o primo e melhor amigo. Naquele momento, deveria ter-lhe dito que ia casar-se com Pietro, mas esquecera tudo com o beijo.

      As coisas teriam mudado se lhe tivesse dito, tanto nesse momento como semanas antes, quando as intenções de Pietro se tinham tornado claras ou o resultado teria sido o mesmo?

      Ligara-lhe e deixara dúzias de mensagens, mas Matteo não atendera nem reagira. Tirara-a