Carol Marinelli

Cativa entre os seus braços


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– disse. – Garantiu-me que foi apenas uma saída de um dia com amigos antes de regressar a Londres.

      – E recordaste-lhe que, se houver mais um indício de escândalo, já não poderá usar o apartamento de Londres? Disseste-lhe que cancelarei as suas contas e não terá acesso aos iates ou aos aviões privados da família?

      – Disse-lhe, sim.

      – Talvez, se tivesse de trabalhar para viver, gastasse o dinheiro com mais sabedoria.

      – O Hazin é rico por direito próprio – disse Ilyas ao pai.

      – Poucos são suficientemente ricos para manter os seus hábitos – resmungou o rei. – Mais vale que se emende, Ilyas.

      O rei saiu do escritório. Mahmoud falou com preocupação.

      – O seu pai tem de saber que estão a chantagear o palácio para não tornar os segredos do Hazin públicos. Se isto se souber, será um desastre – insistiu. – O Hazin já teve demasiadas oportunidades.

      – Disse que me encarregarei disso – avisou Ilyas.

      – O rei Ahmed tem de saber! Temos de pagar a essas pessoas. Fui o seu conselheiro durante quase meio século…

      – Já deve ser hora de te reformares – interrompeu Ilyas e Mahmoud soprou de indignação. – O palácio não deve ceder às ameaças. – Encolheu os ombros. – Não acho que exista um vídeo sexual.

      – Não tenho assim tanta certeza – replicou Mahmoud. – Se não pagarmos antes do meio-dia de segunda-feira, tornarão o vídeo público. A mulher voltou a entrar em contacto.

      Ilyas leu as mensagens que, há uma semana, chegavam ao servidor privado, mas as exigências eram mais específicas agora, estabeleciam a soma de dinheiro que queriam e onde e quando tinham de o depositar para impedir a publicação do vídeo.

      – É muito atrevida – disse Mahmoud.

      Ilyas não estava de acordo com isso.

      – Não – respondeu. – Se a tal Suzanne acha que pode chantagear-me, é uma estúpida.

      Examinou as fotografias anexas à mensagem e soube depressa que tinham sido tiradas a bordo do iate do irmão.

      Uma ruiva esplêndida de olhos verdes e grandes e pele pálida de aspeto delicado fora fotografada com um biquíni verde.

      Havia outra fotografia, granulosa, como se a tivessem tirado de longe, que a mostrava deitada numa cama quando Hazin entrava no que Ilyas sabia que era o camarote real.

      A mensagem avisava que as imagens mais explícitas tiradas dentro do camarote seriam perturbadoras, mas Ilyas não acreditava.

      – Se tivessem mais, tê-las-iam enviado.

      – Têm mais – afirmou Mahmoud.

      Ilyas passou para a fotografia seguinte, em que aparecia o irmão de frente, numa posição muito pouco majestosa.

      Hazin estava completamente nu, embora para ser justo, Ilyas parecesse estar a tomar banho, presumivelmente, depois de ter nadado.

      – Isto não é nada que o nosso público sofrido não tenha visto. Na Internet, circulam incontáveis fotografias do Hazin nu. Não é nada.

      Na verdade, era muito. Hazin parecia-se com o irmão nesse aspeto e isso era evidente na fotografia.

      Mas havia outro assunto.

      – Esta fotografia foi tirada nas águas da Zayrinia – indicou Mahmoud. – Até pode ver-se o palácio ao longe. O rei prometeu ao povo que não haveria mais escândalos do Hazin.

      Nesse caso, o parvo era o pai.

      Hazin e Ilyas podiam ser parecidos em certos assuntos, mas eram de naturezas muito diferentes. Ilyas simplesmente não lidava com sentimentos e encontrava-os tão raramente que, quando isso acontecia, tinham pouca influência sobre as suas decisões. Era um homem muito lógico e concentrado, enquanto o irmão optava por ter a vida de um playboy. E, no entanto, Ilyas tinha a certeza de que, depois do aviso que lhe fizera antes da sua visita, Hazin, daquela vez, não se teria portado mal tão perto de casa.

      Naquele momento, ia a caminho de Londres num avião privado e desconhecia os últimos acontecimentos.

      – Não faças nada – disse Ilyas a Mahmoud. – Se houver mais algum contacto, quero que me informem, não ao meu pai.

      Percebeu que o vizir ainda continuava com dúvidas sobre se devia informar ou não o rei. Ilyas examinou novamente as fotografias. Apesar das suas palavras, só a imagem em que aparecia nu podia fazer danos. As pessoas costumavam esquecer as transgressões de Hazin no estrangeiro, mas não seriam tão magnânimas se trouxesse o escândalo para casa.

      Depois, olhou para a mulher. Não sabia se seria a tal Suzanne ou se era apenas o isco com que tinham tentado Hazin.

      Entendia perfeitamente que o irmão o tivesse mordido.

      Ela era espetacular.

      O vento deitava o seu cabelo ruivo para trás, comprido e ondulado, e o seu corpo não era como os corpos das mulheres que iam a esse tipo de festas.

      Era incrivelmente branca, com sardas nos braços e nas coxas. O seu corpo era esbelto e as suas curvas subtis e muito femininas. Os seus lábios eram grossos e, na fotografia, estavam entreabertos num sorriso.

      No entanto, o sorriso não chegava aos olhos e Ilyas tinha a certeza de que era falso.

      Sim, ela era o assassino sorridente.

      – Não faças nada sem as minhas instruções – repetiu Ilyas. – E contacta-me se for necessário. Agora vou ao hammam.

      – Alteza… – Mahmoud assentiu e fez uma inclinação de cabeça antes de sair.

      O palácio era fantástico.

      O edifício gigantesco de mármore parecia, de fora, estar situado por cima de um canhão vermelho, à beira do Golfo Pérsico. Olhava de cima para a cidade que fervia de atividade, exceto pelo lado oeste, que dava para o deserto.

      O palácio era uma verdadeira obra de arte e fora construído ao redor de um oásis natural que ainda continuava a existir. Era vasto e continha muitas residências, assim como zonas para funções formais e espaços para a oração.

      Mas guardava mais segredos, pois não estava simplesmente situado por cima de uma falésia, fora esculpido de dentro.

      Os túneis que havia por baixo do edifico estavam decorados com desenhos antigos e mosaicos detalhados. Ilyas desceu primeiro os degraus esculpidos em mármore, que depressa deram lugar a outros esculpidos nos alicerces.

      Lá, o ar era mais fresco. Ilyas dirigiu-se para o seu túnel privado, onde círios gigantes iluminavam o caminho. O som da água a cair ao longe fazia-o confiar que não demoraria a desaparecer a preocupação que o corroía.

      O hammam era divino e algumas zonas eram acessíveis por diferentes caminhos, mas poucos podiam aventurar-se por onde estava Ilyas naquele momento.

      Era um mundo que poucos sabiam que existia.

      A peça central era uma gruta com uma cascata e a corrente contínua oferecia um fundo audiovisual espetacular. Havia vários lagos e cataratas mais pequenas, que caíam em lagos maiores por baixo do hammam. Quando a luz era apropriada, a entrada para um das grutas estanque emitia um brilho vermelho profundo por causa dos rubis do subsolo. De dia, entravam raios de sol que criavam uma catedral natural, de noite, eram as estrelas e a lua que banhavam a água com a sua luz. Na verdade, era um refúgio digno de reis.

      Ilyas tirou o robe e mergulhou num lago profundo. Mas a tensão continuava presente nele quando saiu para a superfície.

      Apesar da sua calma aparente à frente de Mahmoud, estava muito preocupado.

      Sabia que parecia tão frio e indiferente como o pai, mas não fora cortado pelo mesmo padrão.

      Não