que num instante o seu corpo se tinha convertido em algo flexível e, no instante seguinte, em algo sólido.
– Estás bem? – perguntou Jack divertido. Ellie, ainda ausente, levantou a cabeça para ele tentando encontrar uma explicação para o que acabara de experimentar. Nunca havia sentido nada igual. Ele ficou quieto, com os olhos abertos antes que adquirisse um ar pensativo. Ellie ficou com a estranha sensação de, de repente, terem ficado isolados. Era muito estranho, algo que não sabia definir, mas, sem dúvida, tratava-se de uma força superior a qualquer sensação que tivesse experimentado anteriormente.
– Estás cómoda?
A pergunta de Jack, carregada de uma ligeira ironia, sobressaltou-a, levando-a de regresso à realidade. Ele estava a olhar para ela com um brilho nos olhos decididamente travesso. Então, apercebeu-se que continuava pegada a ele. Ellie sentiu-se inundada pela vergonha.
– O que pensas que estás a fazer? – gemeu com a voz afogada. Tentou afastar-se dele. Finalmente, conseguiu safar-se do seu abraço e ficou a observá-lo cautelosamente, respirando com dificuldade.
– Apenas evitei que tomasses um banho – respondeu Jack alegremente, metendo as mãos nos bolsos das calças. Ellie afastou o cabelo dos olhos e arranjou a roupa para ganhar algum tempo. Precisava tranquilizar-se antes de voltar a olhá-lo na cara.
– Obrigado, mas não era necessário que me abraçasses – respondeu, gemendo por dentro. Como podia deixar-se levar pelas suas emoções daquele modo? Ele teria pensado que estava encantada por estar entre os seus braços. Não podia voltar a cair numa paixão irracional com outro Thornton.
– Na realidade, tu estavas tão abraçada a mim como eu a ti – corrigiu, olhando-a nos olhos.
– Não estava a abraçar-te, Jack – negou Ellie, com calor. Mas, ele limitou-se a sorrir.
– Pois, fiquei com essa sensação – contestou ele. Ellie não conseguiu evitar por mais tempo o olhar dele e virou a cabeça para outro lado.
– Pois, estás enganado – repetiu. Abraçá-lo? Ela? Antes preferia ser atravessada por uma espada. Por amor de Deus, durante anos pareciam cão e gato! «Detestas Jack Thornton, não esqueças», disse.
– Interrogo-me se te apercebes do que revela a tua reacção.
Típico de Jack, fazer uma montanha de um grão de areia! Ellie cruzou os braços e bateu com o pé no chão, irritada!
– Imagino que revelei até que ponto és detestável – disse ela. Dirigiu-lhe um olhar gelado.
– Pois, curiosamente, isso é justamente o que não percebi – disse Jack penteando o cabelo com os dedos. Estava surpreendido por não se ter revoltado no seu abraço como um gato furioso!
– Ah, sim? Bem, da próxima vez esforçar-me-ei por demonstrá-lo com mais clareza. Podemos ir?
– Não queres saber o que me revelou? – desafiou Jack. Ellie sabia que, fosse o que fosse, não ia gostar.
– Não me interessa minimamente – assegurou, baixando-se para levantar a sua mala. Com sorte, ele esquecer-se-ia. No entanto, tratando-se de Jack, isso jamais aconteceria.
– Tu também o sentiste, vi nos teus olhos.
Aquelas simples palavras fizeram-na estremecer por dentro e sentiu um nó na garganta. Não queria falar, mas se não o negava, pensaria que estava a dar-lhe razão.
– Eu não senti nada.
– Mentirosa – acusou Jack. Ela viu-se na obrigação de olhar para ele. – Sentiste a ligação entre nós. Foi como se um milhão de pequenas faíscas percorresse a tua pele, não é verdade? Embora não queiras admitir, sentias-te bem nos meus braços. Vamos, nega-o.
Ellie sentiu o rosto a arder. Era verdade que tinha sido agradável, mas não pensava reconhecê-lo. Não queria sentir nada mais que ódio por ele. Nunca se tinham dado bem, por isso se se envolvessem sentimentalmente, aquilo podia ser uma catástrofe. Sorriu desafiante.
– Disseste muita estupidez na tua vida, Jack, mas esta supera todas as outras.
Ele sorriu com essa classe de arrogância masculina que fazia com que ela sentisse desejo de matá-lo.
– Acreditas nisso? Logo veremos.
Ellie voltou a responder-lhe com segurança:
– Não, não vamos ver nada.
– Também não precisas de te assustar, mulher – disse Jack. Ellie fulminou-o com o olhar.
– Não digas maluqueiras, não me metes medo.
– Referia-me a que não tens por quê temer os teus próprios sentimentos – respondeu ele. Ellie ficou surpreendida. Olhou para ele com os lábios entreabertos.
– O que queres dizer?
– Não há nada de mal em que desejes outro homem que não seja Luke.
– Obrigado pelo conselho – disse com sarcasmo. – Que compreensivo da tua parte!
– Não podia ser de outro modo quando é a mim que desejas – acrescentou ele sorridente. Ellie perdeu a compostura. Podia haver alguém mais arrogante?
– O quê? Não sigas por aí, Jack, nem penses. Não preciso ouvir as tuas barbaridades – respondeu. E, apertando os dentes, agarrou com força a mala e começou a caminhar, afastando-se dele.
– Aonde pensas que vais? – inquiriu Jack, alcançando-a. Ellie não voltou a olhar para ele.
– Vou apanhar um táxi – disse. Ele sorriu.
– Pois, espero que tenhas sorte. Estamos na época alta do turismo, se encontrares um vazio será um milagre.
– Vai-te embora – insistiu ela, embora soubesse que era verdade.
– Sabes? Fugir não mudará as coisas – disse Jack atrás dela. Ellie parou, deixando cair a mala no chão antes de lhe lançar um olhar hostil.
– Eu não estou a fugir, idiota. Por que é que iria fazê-lo? – perguntou. Podia dizê-lo mais alto, mas não mais claro.
– Demonstra-o. Janta comigo esta noite – convidou-a Jack. Ellie não esperava aquela mudança de táctica.
– E arriscar-me a sofrer uma indigestão fatal? Não, muito obrigado – repôs. Enquanto não conseguisse dominar aquelas estranhas reacções que ele lhe provocava, seria melhor que não passassem mais tempo sozinhos.
– Acho que deverias saber que Luke e Andrea não jantarão connosco esta noite – advertiu Jack.
Ellie encolheu os ombros. Que tonto! Se soubesse como ficava contente ao ouvir aquilo! Quanto menos tivesse que ver Luke, melhor.
– E depois? Tenho muitas coisas do que falar com o pai e a mãe.
– Sinto defraudar-te as expectativas, mas, esta noite, têm uma partida de bridge – interrompeu Jack. Ellie olhou para ele desesperada.
– Isto diverte-te muito, certo? – perguntou devido à forma como ele sorria.
– És tão engraçada… Bem, que me dizes? Queres jantar comigo ou preferes escutar Paul a falar sobre vulcões? – insistiu. Ellie fechou os olhos por um instante. No fundo tinha razão. Paul era um encanto, mas estava obcecado com as montanhas que cospem fogo.
– Está bem, irei – aceitou.
– Que gentil da tua parte, Ellie! – disse Jack, apanhado a sua mala do chão e levando-a para o carro. Ellie deixou-se cair no assento do acompanhante, enquanto ele guardava a sua mala no porta-bagagens.
– Conheço-te demasiado bem para me emocionar só porque me convidaste para jantar.
– É isso que pensas? Ficavas surpreendida com a quantidade de coisas que não sabes sobre mim – disse Jack, sentando-se ao volante,