Barbara Cartland

A volta do sedutor


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veio!— a enferma exclamou com voz suave.

      —Sim, estou aqui. E, naturalmente, disposta a ajudá-la no que estiver ao meu alcance.

      —É muita... bondade de sua parte.

      A Condessa fez uma breve pausa antes de prosseguir, como se falar lhe fosse penoso.

      —Por favor, leve Kathy até o pai dela. Foi um grande erro trazê-la comigo. Mas eu a amava… tanto!

      As palavras saíam com dificuldade de seus lábios.

      Janet, que continuava a segurar a mão da enferma, tranquilizou-a:

      —Compreendo. Cuidarei de Kathy.

      —Ele não deve… ficar zangado com ela.

      Percebendo que a Condessa referia-se ao marido, asseverou-lhe num tom confortador:

      —Tenho certeza absoluta de que ele ficará imensamente feliz em ter a filha de volta.

      A Condessa fechou os olhos e continuou com a mão presa à de Janet. Esta olhou ao redor e notou que o médico e a enfermeira haviam se afastado para deixá-las à vontade.

      —Não me arrependo do que fiz— a Condessa estava dizendo—, o amor é algo muito, muito maravilhoso! Mas Stafford… não me amava.

      —O que importa é que foi muito feliz aqui! Aqui encontrou o amor.

      —Fomos muito felizes— a enferma murmurou—, mas Kathy não pode ser punida por uma culpa que foi… apenas minha.

      —Nào! É claro que nào!

      —Leve-a de volta para a Inglaterra— a Condessa pediu numa voz sumida e lenta—, ensine-a a ser uma verdadeira inglesa, será melhor para ela se for assim.

      —Tentarei, prometo-lhe que tentarei.

      Olhando para a Condessa, ela pensou, com dor no coração, que era uma pena ser tão linda e tão jovem e estar tão irremediavelmente enferma. Ansiosa por dar um pouquinho de alegria àquela criatura que definhava, Janet disse novamente:

      —Prometo-lhe que cuidarei de Kathy e a levarei para o pai.

      —Você é… muito bondosa.

      A Condessa tinha os olhos fechados, e sua voz foi quase inaudível. Notando que a mão que segurava tornara-se flácida, Janet compreendeu que a enferma perdia as forças, por essa razão devia deixá-la.

      Levantando-se, ela fez uma prece silenciosa para que a Condessa morresse sem sofrer e que a felicidade que ela havia conhecido na terra não se perdesse na outra vida.

      Janet atravessou o quarto e viu que o Dr. Pirelli a esperava perto da porta. Ambos deixaram o aposento da enferma, e o médico agradeceu-lhe com voz emocionada:

      —Obrigado, minha querida… você foi mesmo muito bondosa, pois nenhuma outra pessoa poderia ter sido mais gentil.

      —Sinto imensamente por ela. É de cortar o coração ver uma vida terminada, sendo a pessoa tão jovem.

      —Ela viveu estes anos na mais perfeita felicidade, creio que não se pode pedir mais do que isto.

      O médico falou com tal sentimento que fez Janet lembrar-se de que ele era viúvo.

      Ambos seguiram pelo corredor, também cheio de quadros, obras de mestres, indo para o quarto de Kathy.

      Era um cômodo ricamente mobiliado, havia brinquedos por toda parte; uma grande casa de bonecas ficava a um canto, e não muito distante dela via-se um cavalo de balanço.

      Sobre o assoalho estavam espalhados inúmeros cubos, blocos e tijolinhos de brinquedo multicoloridos. Uma garotinha, sentada entre eles, tentava construir um Castelo, ajudada pela babá italiana.

      Ao ver o médico, a garota deu um grito de alegria e correu até ele.

      —Dr. Pirelli! Que bom que o senhor veio! Trouxe aqueles doces gostosos?

      —Há uma caixa cheinha deles esperando por você lá em baixo, na minha carruagem. Prometi-lhe esses doces, desde que você fosse uma garota boazinha e não aborecesse sua mãe.

      —Fiquei muito comportada— Kathy assegurou-lhe—, não é verdade, Giovanna?

      A conversa estava sendo mantida em italiano e a babá confirmou:

      —Você foi mesmo muito boazinha e muito comportada.

      —Então a caixa de doces é toda sua. Agora quero que conheça esta encantadora lady, que é minha amiga, a Srta. Janet Compton.

      Janet abaixou-se para ficar da mesma altura de Kathy.

      —Estive admirando sua casa de bonecas. Também já tive uma quando tinha a sua idade, mas era bem menor do que esta.

      —A minha é uma beleza. Mas eu gosto mais do cavalo.

      —Qual o nome dele? Também tive um cavalo igual ao seu e o montava antes de ter um pônei de verdade.

      Kathy não era nem um pouco tímida e olhou para Janet com interesse; esta aproveitou para conquistar-lhe a confiança.

      —Creio que, se for para a Inglaterra, conforme sua mãe deseja que você faça, poderá ter um pônei de verdade só seu.

      —Posso mesmo? Ah, isso seria maravilhoso! Eu queria um pônei, mas mamãe me disse que no jardim não há lugar suficiente para ele. Mas eu já montei de verdade quando estive do outro lado do mar.

      —Montou mesmo? Em um cavalo ou um camelo?

      Kathy riu.

      —Nos dois! Foi muito divertido, muito engraçado montar no camelo!

      —Ah, tenho certeza disso. Você vai me contar como foi. Se quiser ir até minha casa comigo, posso lhe mostrar fotografias dos cavalos que eu tinha quando morava na Inglaterra.

      —Eu gostaria muito.

      Janet olhou para o médico com uma pergunta tácita no olhar, e ele respondeu com um aceno de cabeça. Em seguida o Dr. Pirelli pediu a Giovanna que arrumasse algumas roupas para Kathy o mais depressa possível.

      Tomando a mão da menina, o Dr. Pirelli desceu com ela a grande escadaria, e Janet seguiu-os.

      Indo atrás dos dois, Janet notou que, ao deixar seu próprio quarto e passar pelo da mãe, Kathy ficou de repente muito quieta. A jovem sentiu-se comovida diante da atitude da criança: era de admirar que uma garota daquela idade tivesse aprendido a ser tão ponderada.

      Só ao chegarem ao hall Kathy falou, em voz baixa, com o Dr. Pirelli:

      —Posso subir e ver mamãe antes de ir com vocês?

      —Creio que no momento sua mãe está dormindo, mas, se você der apenas uma espiada, acenar para ela e jogar-lhe beijos, poderá fazer isso.

      —Prometo que terei muito cuidado e não farei barulho. Vou jogar muitos beijos para mamãe porque sinto tanta falta de beijá-la de verdade!

      Janet compreendeu que a filha estava proibida de beijar a mãe devido aos riscos de contágio. Era uma pena ver aquela criança sozinha, tendo apenas a atenção dos criados.

      Os três foram até a carruagem do médico, e este deu a Kathy uma caixa de amêndoas glaçadas.

      —Obrigada! Muito obrigada!— ela agradeceu com entusiasmo e com muita naturalidade deu um beijo no rosto do Dr. Pirelli,

      Abrindo a caixa a garota ofereceu doces ao médico, que não os aceitou, e então voltou-se para Janet, que serviu-se de um.

      Kathy sentou-se na carruagem com a caixa de doces no colo e os foi comendo um após o outro.

      —Estão deliciosos!— ela exclamou—, Giovanna disse que não devo comer muitos doces para não ficar gorda demais. Acho que mamãe deve comer bastante doces.

      —Sua mãe está muito doente e não aprecia doces—