Marina Iuvara

Vida De Aeromoça


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p>VIDA DE AEROMOÇA

      O mundo é a minha casa

      Tradução de André Spiller Fernandes

      Obra protegida por direitos - todos os direitos reservados - é proibida a sua divulgação ou reprodução, total ou parcial, sem a expressa autorização.

      Este livro é uma reformulação da primeira edição de “Vita da hostess” (sem tradução para o português).

      Passaram alguns anos desde a primeira publicação daquele livro, e decidi renová-lo e complementá-lo.

      Bem-vindos a bordo: this is the next flight.

      Marina Iuvara

      Anjos do ar

      Mulheres independentes, de uniforme, perambulando pelo mundo.

      Ícone glamoroso de liberdade.

      Em sua maioria mulheres que exercem uma profissão com peculiaridades únicas, uma fonte inigualável de alegria e satisfação, mas também cheia de facetas difíceis e reflexos muito importantes na vida pessoal.

      As comissárias de bordo são tradicionalmente identificadas no imaginário coletivo pelo que é aparente: seus uniformes elegantes, escalas em todos os lugares do mundo, o contato com diversas pessoas ou as compras por toda a parte. É fácil encontrá-las nos aeroportos, junto do resto da tripulação: por vezes, são vistas ainda hoje com admiração e uma pontinha de inveja. “Eu gostaria tanto de ter esse trabalho também”, pensam em segredo muitos. Outros dizem o contrário: “Nunca poderia fazer isso”.

      Na verdade, as aeromoças - naturalmente, também chamadas comissárias de bordo - desempenham com eficiência e profissionalismo um papel exigente e são um componente fundamental para a segurança do voo, capazes de lidar, com técnica e paciência, com emergências de todo tipo. Devem estar sempre prontas para resolver os mais impensáveis e complicados imprevistos, mantendo, além disso, a distância dos afetos e de casa, ou ainda a difícil gestão de seu tempo, além dos efeitos do fuso horário.

      Neste livro, tentei contar os aspectos menos notáveis e dificilmente imagináveis.

      Dedico-o, portanto, a todas nós.

      Introdução

      A figura da aeromoça aparece pela primeira vez nos anos 30, em uma companhia aérea norte-americana.

      No início, a maioria duvidava da utilidade dessa função: frágeis e graciosas garotas, com menos de 25 anos de idade, cujo peso não podia passar de 52 quilos e a altura nunca mais de 1,63m, vestidas com o mesmo uniforme, formadas em enfermagem e convidando os passageiros a ocuparem seus assentos com gentileza.

      Sua figura e função mudaram muito ao longo dos anos.

      Em 1940, depois do ataque a Pearl Harbour, as aeromoças foram alistadas em aviões militares para servir a pátria.

      Em 1950, foi escrito o primeiro manual da aeromoça perfeita: forte como um soldado, afetuosa como uma mãe, disponível como uma gueixa, bem informada como um guia turístico.

      Nos anos 60 e 70, as aeromoças inspiraram orgulho ao representar as companhias aéreas e foram comparadas a modelos.

      Eram vistas como mulheres dotadas de beleza, desejáveis e invejáveis, com a possibilidade, ainda não disponível a todos, de viajar e conhecer o mundo.

      Em 1960, no jornal New York Times, uma estatística norte-americana descreveu as aeromoças como “mulheres perfeitas”, porque, ao caminhar 300 milhas para cima e para baixo entre as poltronas, parecem muito bem treinadas, comprovadamente resistentes ao cansaço.

      Com a chegada da revolução feminista e das conquistas posteriores em matéria de direitos das mulheres, em 1971, foi abolida a regra que as proibia de se casar. Em 1974, o salário foi equiparado ao dos homens. Em 1975, foi removida a proibição à maternidade e, em 1979, foram abolidos os limites de peso.

      Até hoje, a responsabilidade principal de uma aeromoça é garantir a segurança dos passageiros a bordo das aeronaves, assim como servi-los durante o voo.

      Prefácio

      Perfeitamente treinadas no campo da segurança aérea, habilitadas e certificadas em primeiros socorros, competentes em línguas estrangeiras, hábeis nadadoras, bem cuidadas, sorridentes e bem educadas, as aeromoças devem ter, além de uma predisposição às relações interpessoais, um excelente equilíbrio emocional e um forte senso prático.

      O estilo de vida é frenético, o trabalho é cansativo e estressante, também por causa dos fusos horários; o ambiente onde trabalham é pressurizado, e o solo onde se movem durante o trabalho não está sempre na horizontal. No entanto, têm autocontrole e devem estar sempre prontas para se virar em situações imprevisíveis.

      As aeromoças estão em contato com pessoas de todas as etnias, culturas, níveis de escolaridade, origens e caracteres.

      Encontram crianças esplêndidas como raios de sol ou, às vezes, também mais turbulentas que as turbulências, pessoas de idade avançada com quem se deve lidar com tato e sensibilidade, personalidades que requerem discrição e segredo, homens de negócio, divas, grupos de turistas alegres e despreocupados, casais românticos em lua de mel, doentes a cuidar, emigrantes de países distantes, proselitistas e catequistas de diferentes fés. Todos devem ser tratados com cuidado e profissionalismo.

      Elas devem gerir as incumbências urgentes antes da decolagem e da aterrissagem, observar as disposições de segurança enquanto realizam suas tarefas e obrigações, observar as hierarquias e zelar pelos muitos pedidos a satisfazer. São submetidas a longos e contínuos períodos longe de casa e a relações pessoais difíceis por causa das ausências impostas pelo trabalho.

      São muitos os aspectos negativos desta profissão única: pelo menos muitos dos que veem de fora não imaginam ou conhecem essas dificuldades.

      Contudo, toda aeromoça, apesar de tudo, sente uma melancolia e uma nostalgia quando não está voando.

      Lindos postais se guardam no pensamento a cada nova rota, e mesmo o voo mais difícil é sempre uma experiência enriquecedora.

      O sushi japonês, a areia das Maldivas, os arranha-céus de Nova York, a vida noturna argentina, a alegria brasileira, os céus de Londres e os perfumes parisienses surgem no horizonte, ganham vida e trazem emoções únicas, mesmo que em curtos espaços de tempo, mesmo que cobertos pelo cansaço do fuso horário, mesmo que sempre apressados pelo pouco tempo disponível.

      Cada anoitecer se apresenta espetacular visto de cima, sobre as nuvens.

      E a bordo dos aviões, acontece e pode acontecer de tudo: muitos passageiros se distinguem por sua classe ou estilo inigualável, alguns se mostram menos elegantes.

      Pode acontecer que algumas pessoas percam o controle se estiverem nervosas ou estressadas: muitos precisam de apoio psicológico porque sofrem de aero- ou claustrofobia. Excepcionalmente, alguns bebem demais e podem ficar violentos. Tudo pode acontecer durante o voo.

      De fato, no avião, até o menor e mais insignificante episódio ou incidente pode se transformar em algo que demanda a máxima atenção.

      Quem precisa de cuidados deve ser assistido imediatamente, e as emergências médicas são frequentemente resolvidas de maneira brilhante.

      Em quase todo voo, acontecem experiências comoventes, que demonstram profunda humanidade e solidariedade.

      Como se reconhece uma aeromoça?

      - Verifique os objetos que ela tem em casa: não sabe o que são, para que servem, de onde vêm?

      - Veja as fotos nas paredes: os fundos parecem ser de outro lugar no mundo?

      - Pergunte se ela já provou o frango frito das ruas de Bangkok, frequentou os melhores restaurantes franceses ou provou o serviço de quarto na frente de um espelho em um hotel luxuoso.

      - Preste atenção nos horários em que ela