que retornavam, 38% se divorciavam em seis meses. Um terço dos prisioneiros federais eram veteranos do Vietnã. Ainda assim, mais uma vez as consequências para a saúde mental de veteranos em agonia foram negadas.
Eventualmente, eles foram às ruas para que sua angústia fosse reconhecida. Foi somente então que a política da psiquiatria lhes concedeu um diagnóstico - transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Ele continha um reconhecimento limitado de todas as aflições que os veteranos estavam revivendo ou suprimindo.
Civis Durante a Guerra. Apesar de suas circunstâncias serem diferentes, os civis também estão ameaçados de morte e ferimentos. A extensão do dano mental depende de circunstâncias semelhantes às dos soldados: fé e liderança, o grau e duração da destruição, vitória ou derrota, e a proporção da população e dos entes queridos mortos ou feridos.
Na blitz de Londres a moral era alta, exceto na minoria que foi gravemente afetada. A natureza de seus distúrbios mentais era variada, como com os soldados. Em Hiroshima, após a explosão da bomba atômica, a população sobrevivente se assemelhava a soldados com exaustão de combate.
Crianças Durante a Guerra. Mesmo quando protegidas por adultos, as crianças vivenciam os bombardeios e o caos, e absorvem os medos e as emoções dos adultos. A vulnerabilidade das crianças se reflete em suas taxas relativamente altas de morbidade e mortalidade em comparação com os adultos. E quando o escudo protetor dos pais é arrancado, o sofrimento das crianças é extremo. Em crianças pequenas os sintomas psicossomáticos e comportamentais dominam a expressão de sua angústia. As crianças mais velhas sofrem sintomas semelhantes aos dos adultos.
O Holocausto
O Holocausto foi a perseguição mais completa e generalizada de um povo na história. Isso provocou a morte de seis milhões de judeus. As consequências deste genocídio foram bem documentadas e têm sido estudadas ao longo de três gerações.
No período que antecedeu sua aniquilação, foram relatados um aumento de doenças psiquiátricas, suicídios, hipertensão e angina. Em campos de concentração a metade dos prisioneiros morreram em poucas semanas. Alguns, chamados de mexilhões, pairavam entre a vida e a morte. Eram pessoas emaciadas, de aparência velha, emocionalmente entorpecidos e com deficiências cognitivas. Seus reflexos de sobrevivência desapareciam e eles pareciam silhuetas de humanidade. A maioria morreu. Se assemelhavam aos que sofriam de exaustão de combate, mas estavam traumatizados em outro nível, o último.
Aqueles que sobreviveram ao Holocausto, o fizeram através de uma combinação de sorte e intensa determinação, esperança e a manutenção da motivação. No entanto, no pós-guerra eles sofreram uma série de doenças biológicas, psicológicas e sociais. Nas décadas seguintes, suas taxas de morbidade e mortalidade foram mais altas do que as do resto da população.
Sequelas psicológicas do Holocausto, apesar de enormes, foram mais uma vez negadas por duas décadas. Inicialmente foram reconhecidos os sintomas físicos. Finalmente, era óbvio que os sobreviventes do Holocausto sofriam uma grande quantidade de sintomas e problemas.
Os sobreviventes eram atormentados por perdas irreconciliáveis, a culpa do sobrevivente, raiva, desespero, depressão, doenças psicossomáticas e perda de sentido e propósito. Eles tentaram encontrar esse sentido em casamentos rápidos, ter filhos e trabalho duro.
Crianças. Nove décimos (um milhão e meio) de crianças judias foram assassinadas no Holocausto. A maioria dos que sobreviveram foram separados de seus pais, escondidos por estranhos. As crianças entorpeceram seus sentimentos, foram supremamente obedientes e viveram o dia a dia esperando um fim milagroso para seu sofrimento.
Após a guerra, foi negado às crianças o reconhecimento de seus sofrimentos. Elas tinham que lidar silenciosa e inconscientemente com suas experiências de guerra, que, sem serem reconhecidas, ainda permeavam nelas. Elas lidaram silenciosamente com as perdas de sua infância e de seus sonhos. Conforme um dos autores (PV), as crianças sobreviventes do Holocausto foram reconhecidas somente nos anos 90, quando as estavam na casa dos cinquenta (Valent, 1994). Foi somente então que começaram a processar seus traumas.
A geração seguinte aos sobreviventes foi grandemente influenciada pelo Holocausto através de seus pais. Eles carregavam emoções negativas, sensações, imagens, julgamentos e atitudes que eram incompreensíveis para seus filhos, pois os pais frequentemente mantinham uma conspiração de silêncio sobre suas experiências e sobre o que as crianças significavam para eles.
Os Responsáveis e Seus Filhos. A Alemanha nazista produziu extremos de violência e atrocidades, mas elas poderiam ocorrer em outros lugares, como as que foram documentadas no Vietnã.
Antecedentes de violência são tão amplos quanto os de trauma. Eles incluem relações familiares pobres, privação, pobreza e tumultos sociais. As pessoas podem usar o medo, a pressão do grupo, a desumanização e o oportunismo para cometer atrocidades que seriam odiosas em circunstâncias normais (Valent, 2020).
Filhos dos responsáveis vivem um dilema. Eles podem se identificar com seus pais e avós, como fazem alguns neonazistas, ou precisam se dissociar dolorosamente deles.
Agressão Física; Violência Doméstica; Violência Sexual
Nos anos 80, milhões de pessoas foram documentadas anualmente como sendo vítimas de violência nos EUA. Dois milhões de casos de abuso e negligência infantil foram relatados anualmente. Todo ano, mais de 3,3 milhões de crianças testemunharam o abuso do cônjuge.
As agressões são traumáticas. Por exemplo, as vítimas de violência doméstica não só sofrem de TEPT, mas também perdem as crenças fundamentais na segurança, confiança, autoconfiança, autocrítica e num universo moral.
Em 2002, a Organização Mundial da Saúde estimou que 73 milhões de meninos e 150 milhões de meninas menores de 18 anos foram abusados sexualmente. Nos Estados Unidos, 11% das meninas e 4% dos meninos nas escolas secundárias haviam sido abusados sexualmente. Na faculdade, uma sexta parte das mulheres universitárias foi vítima de estupro. A violência sexual, especialmente contra crianças, é especialmente virulenta, pois abala a autoestima, identidade, intimidade, amor, criatividade e realização. Pior ainda, o abuso de crianças as deixa incapazes de processar conscientemente o que aconteceu com elas e as razões de seus intensos problemas. Mesmo que saibam, e reclamem, as crianças têm sido muitas vezes desacreditadas e culpadas por seus problemas.
Morte e Luto
Todos precisam enfrentar a morte, a própria e a dos outros. Em circunstâncias normais, atravessam-se as etapas de perda e choque, negação, lamento, dor e aceitação.
As mortes traumáticas são especialmente angustiantes porque são sem sentido e sem propósito. São absurdas, sem moral, honra, motivo ou fechamento de uma história pungente. Tais mortes e lutos são difíceis de lamentar e aceitar. Muitas vezes levam a um luto mal resolvido, depressão e uma variedade de disfunções biopsicossociais.
Resumo
Diferentes situações traumáticas enfatizam diferentes aspectos do estresse e do trauma. As catástrofes nos ensinaram que as situações traumáticas têm fases pré-impacto, impacto, pós-impacto e recuperação, embora a angústia possa permanecer por décadas. Aprendemos que há vítimas primárias e secundárias, como o pessoal médico. Precisamos prestar atenção às diferentes faixas etárias (especialmente não nos esquecendo das crianças), e às gerações posteriores.
A psiquiatria de combate trouxe à luz a revivificação e supressão das circunstâncias de combate e fuga. O abuso sexual e o Holocausto enfatizaram as consequências biopsicossociais e espirituais do trauma ao longo do tempo e das gerações.
Temas comuns surgiram a partir de diferentes situações traumáticas. Primeiro, cada situação traumática foi inicialmente negada. Em seguida, as vítimas foram culpadas. Quando reconhecidos, os sintomas físicos foram os primeiros a serem identificados.