Miranda Lee

O playboy implacável


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–, mas, como costuma dizer-se, o dinheiro não é tudo.

      Alice reparou, embora não se importasse, que os olhos de Jeremy tinham parado de brilhar por um segundo.

      Aproximou-se um empregado com uma bandeja com bebidas e ofereceu-lhes taças de champanhe ou copos de sumo de laranja. Todos escolheram champanhe, menos Alice, que já tinha uma taça. Não podia beber demasiado se tivesse de lidar com esse Don Juan toda a noite. A sua tentativa de o evitar até ao jantar fracassara.

      – Tenho de me misturar – interveio Alice. – Vejo-vos durante o jantar, estamos todos na mesma mesa.

      – Que bom! – exclamou Mandy.

      – Eu acompanho-te – ofereceu-se Jeremy.

      – Não é preciso – replicou Alice. – Devias ficar com os teus amigos.

      – Podemos ficar sozinhos – replicou George. – Vão à vontade.

      Alice apercebeu-se do olhar de cumplicidade que George lançava a Jeremy. Preferia não imaginar o que lhe contara.

      – Porque é que o George olhou assim para ti? – perguntou ela, enquanto abriam caminho entre a multidão crescente.

      – Como?

      Ela parou e observou-o com raiva.

      – Como se estivesse a fazer de casamenteiro.

      – Não percebi…

      Alice suspirou com desespero.

      – O George é um pouco romântico – continuou Jeremy. – Não faças caso.

      Ela estava a tentar encontrar alguma coisa para dizer quando um casal, um executivo da televisão e a esposa, chamou a atenção de Jeremy. Isso foi o que aconteceu durante os quarenta minutos seguintes. Os convidados competiam para monopolizar a sua atenção como se fosse uma celebridade e presumiam que ela era a namorada dele, algo que ele nunca negou. Embora isso também não impedisse que as mulheres o seduzissem nem que ela se sentisse ridícula e irracionalmente ciumenta.

      Alice, irritada e perplexa, mal conseguia manter a sua calma habitual. Mal conseguiu conter a vontade de gritar com uma loira muito maquilhada e com umas pestanas falsas tão grandes que estavam prestes a cair. Respirou fundo, virou-se para Jeremy e sorriu com desinteresse.

      – Lamento muito, Jeremy, mas tenho de ir à casa de banho antes de começar o jantar. Vemo-nos na mesa, a nossa é a número um.

      Sentiu um alívio enorme ao afastar-se dele, mas olhou-se ao espelho e viu que tinha os olhos demasiado brilhantes, algo preocupante. Tinha de ter cuidado, muito cuidado.

      Jeremy encontrou George e a esposa quando entrou na sala de baile às oito e vinte e cinco e foram a conversar até à mesa número um, que era à frente do palco. Não via Alice e essa ausência constante desesperava-o. Como não gostava de desperdiçar energias, começou a aceitar que era possível que Alice não se sentisse atraída. No entanto, se fosse verdade, porque reagira negativamente quando algumas mulheres o tinham seduzido? Percebera a irritação na sua linguagem corporal, sobretudo, quando essa loira começara a babar-se.

      Estava a pensar nos motivos que Alice podia ter para o evitar quando apareceu no palco e se dirigiu lentamente para o atril. Estava impressionante e não conseguia desviar o olhar dela. Era como uma Audrey Hepburn jovem, mas com o cabelo loiro. Que classe! Uma vez no atril, ligou o microfone e deu-lhe umas pancadinhas para conseguir silêncio na sala de baile buliçosa. Quando todos se sentaram, sorriu e começou a falar nesse tom refinado e cristalino.

      – Bem-vindos. Para começar, quero agradecer-vos por terem vindo esta noite para apoiar uma causa tão querida para mim. É uma desdita que os refúgios para mulheres sejam necessários no nosso mundo, que devia ser civilizado e ilustrado, mas são. É possível que alguns de vocês não saibam, mas sou assistente social de alguns refúgios de bairros marginalizados e sei que custa imenso seguir em frente e ajudar todas as mulheres que lhes pedem ajuda. Precisamos de mais refúgios, de mais assistentes sociais, de mais assessores… Naturalmente, tudo isso implica mais dinheiro e, esta noite, esperamos angariar parte, graças à vossa generosidade. Por favor… abram os cordões à bolsa. Acreditem em mim quando vos digo que tudo será crucial para essas mulheres que não têm para onde ir nem a quem recorrer. Precisam da vossa ajuda. Obrigada.

      Quando parou de falar, a sala irrompeu em aplausos. Jeremy sentiu-se orgulhoso dela e francamente comovido. Que discurso! Bela mulher! Os políticos deveriam aprender com ela. Se não fosse o leiloeiro, teria licitado em todos os lotes para que alcançassem o preço mais alto antes de cair o maço. No entanto, decidiu que faria uma doação considerável no fim da noite. Até era possível que esse gesto servisse para que ela aceitasse sair com ele. Porque, certamente, sabia que ia pedir-lhe.

      Quando Alice se sentou à mesa, todos se dirigiram a ela ao mesmo tempo. Felicitaram-na e garantiram-lhe que doariam. Jeremy não conseguiu falar, mas, assim que pôde, inclinou-se para ela para falar em voz baixa.

      – Foi um discurso muito impressionante, Alice. Se quisesses, poderias ser angariadora de fundos profissional.

      Alice ficou rígida com a reação do seu corpo à voz dele e ao calor da respiração na orelha. Sentiu um nó no estômago e os mamilos endureceram. Era aterrador, mas também era maliciosamente cativante. Desejava virar-se e sorrir a sério, com um sorriso que lhe indicasse como queria deixar-se levar por esse feitiço carregado de erotismo que achava que poderia fazer-lhe… se deixasse.

      No entanto, seria como brincar com o fogo. Vira o que os homens podiam fazer a uma mulher.

      Era possível que Jeremy não fosse tão atroz como o marido abusador da irmã ou como esse descarado desalmado com quem saíra na universidade, mas era um mulherengo compulsivo que queria as mulheres apenas para uma coisa. Embora também tivesse de reconhecer que a sua mente traiçoeira estivera a pensar nessa coisa desde que o conhecera. Evidentemente, Jeremy era um Casanova consumado que não precisava de levantar um dedo para que as mulheres se derretessem. A sua elegância e beleza naturais faziam-no por ele… e essa voz tão maravilhosa e sensual, claro.

      Apesar da tentação poderosa, recusou-se a ser mais uma das suas conquistas de playboy. Esboçou um sorriso de mera cortesia, antes de virar a cabeça para responder. No entanto, infelizmente, não esperara que Jeremy estivesse tão perto. Os seus narizes, os seus olhos e as suas bocas ficaram a escassos centímetros. O seu sorriso congelou, olhou para os lábios dele e odiou-se por se questionar como seria beijá-los. Mesmo assim, desejou-o. Efetivamente, desejava-o e, durante um instante, quase cedeu a esse impulso premente de encurtar a distância que havia entre eles. No entanto, conseguiu dominar-se no último segundo e ele, graças a Deus, endireitou-se na sua cadeira.

      – Não poderia ser uma angariadora de fundos profissional – replicou ela, com a frieza habitual. – Não gosto de pedir dinheiro a ninguém. Pelo menos, desta forma, as pessoas recebem alguma coisa em troca da doação. Garantiram-me que a comida e o vinho serão bons, mas, claro, não haverá muito por onde escolher. É um menu fixo com duas alternativas em cada prato. Era a única forma de conseguir servir tantos jantares.

      – Parece-me bem – comentou Jeremy, enquanto chegavam os primeiros pratos.

      Alice alegrou-se por poder concentrar-se em algo que não fossem essas sensações desatinadas. Conteve um suspiro de alívio quando todas as pessoas da sua mesa começaram a comer com aparente satisfação. Os empregados ofereciam constantemente vinho branco ou tinto e cada mesa tinha jarros de água fresca e de sumo de laranja para o caso de alguém não beber álcool. Mandy, que estava à sua direita, e ela escolheram vinho branco, embora não tencionasse beber muito.

      – Come – disse Jeremy, ao vê-la com o garfo na mão e a cabeça noutro lugar. – Adoro as mulheres que desfrutam da comida.

      – Parece-me que gostas de todas as mulheres.

      – É possível que tenhas razão, são o sexo mais bonito sem nenhum género de dúvidas.

      – Com especial