Barbara Cartland

A Feiticeira de Olhos Azuis


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      A FEITICEIRA DE OLHOS AZUIS

      Barbara Cartland

      Barbara Cartland Ebooks Ltd

      Esta Edição © 2020

      Título Original: “The Blue-Eyed Witch”

      Direitos Reservados - Cartland Promotions 2020

      Capa & Design Gráfico M-Y Books

       m-ybooks.co.uk

       NOTA DA AUTORA

      O homem, vivendo atarefado na era da mecanização, perdeu de vista a fé que sempre orientou os povos primitivos.

      Quem viveu entre os nativos, na África, Índia ou em outras partes isoladas do mundo, compreendeu que esses nativos conseguem realizar verdadeiros milagres porque acreditam no poder da mente e em seus deuses.

      Mas nem mesmo um feiticeiro, na África, pode evitar que uma pessoa morra se essa pessoa já pôs em sua mente que morrerá. Os vodus da América do Sul podem ensinar muitas coisas extraordinárias àqueles que se dispuserem a ouvi-los.

      Os soldados que serviram na Índia no tempo do domínio inglês foram testemunhas de que muitos indianos tinham o poder de saber que um parente havia morrido, estando a centenas de quilômetros de distância.

      O que esses povos usam é seu instinto, ou o que os egípcios chamam de «terceiro olho». Muito do que chamamos de «clarividência» é apenas o instinto que todos nós temos e que, se desenvolvido e usado corretamente, pode nos servir de inspiração e proteção.

       CAPÍTULO I

      O Marquês de Aldridge bocejou. Se havia coisa que o aborrecia de verdade eram os bordéis.

      Quem não sabia que sempre se divertia com mulheres? Era o assunto preferido das altas rodas, o foco de maledicências, o alvo dos cochichos mais entusiasmados. Mas jamais pagara pelos favores de uma prostituta.

      Naquela noite, no entanto, tinha sido impossível recusar o convite de seu anfitrião, que fazia o possível para divertir o Príncipe de Gales e tirá-lo da melancolia em que se encontrava há algumas semanas.

      As doze tão faladas «ninfas» executavam uma dança complicada, mas o Marquês não prestava a mínima atenção, preocupado que estava com o Príncipe, pelo qual tinha uma afeição sincera e profunda. Eram amigos há nove anos.

      Disfarçou o bocejo e continuou a pensar no caso. O Príncipe tinha toda a razão de estar deprimido. Não só seu casamento havia sido um desastre, como estava cada vez mais difícil romper a ligação com Lady Jersey. Para escapar da esposa, a Princesa Caroline, que detestava, e de Lady Jersey, a amante que já o cansava, decidira reatar seu caso com a Sra. Fitzherbert. O problema era que a referida Lady, teimosa e persistente, não queria abrir mão da Sua privilegiada posição de favorita.

      Aliás, quem mais, senão ela, havia sido responsável pelo fracasso do casamento do Príncipe? Claro que a noiva foi uma desastrosa escolha dos ministros do rei, mas o casal poderia pelo menos viver em paz, não fosse a intervenção de Lady Jersey, que começou antes do casamento real.

      Na época, o Príncipe estava envolvido com a Sra. Fitzherbert. Irresponsável e namorador, ele mordeu a isca de Lady Jersey, que o perseguia, não só por sua posição social, mas porque o jovem Príncipe herdeiro era divertido, atraente, culto e, como o Marquês bem sabia, um companheiro agradável e interessante. Seria realmente difícil escapar das malhas de alguém com tanta vontade de vencer. As cenas de ciúmes da Sra. Fitzherbert só ajudaram a atirar o amante nos braços da rival. Além disso, Lady Jersey era uma beleza que os homens achavam irresistível e as mulheres, sem princípios e astuta.

      Nove anos mais velha do que o Príncipe! Já avó! Nada disso foi obstáculo, pois ele gostava de mulheres maduras. Mas que idiota tinha sido ao se apaixonar por ela! Impressionável como um menino, deixou-se prender pela sagacidade de uma mulher sem coração, ambiciosa, experiente, sensual. Com mais de quarenta anos, conseguiu fazer o Príncipe perder a cabeça.

      —Como é que ele pôde me tratar assim?— lamentou a Sra. Fitzherbert, ao contar ao Marquês que o jovem lhe escrevera uma carta, sob a sábia direção de Lady Jersey, dizendo que havia encontrado a felicidade em outro lugar.

      —Parece-me, madame, que Lady Jersey vem, há bastante tempo, persuadindo Sua Alteza Real de que a relação amorosa que mantém com a senhora não é aconselhável. Já ouvi inclusive que, segundo ela, a impopularidade do Príncipe é devida ao fato de a senhora ser uma católica romana.

      —Mas como poderia alguém acreditar em tais mentiras?

      —Parece-me também que a ouvi afirmar— continuou o Marquês—, que o Príncipe não teria dificuldade financeira, se não fosse pela senhora!

      A raiva dela era compreensível. Todos sabiam que, muito pelo contrário, o Príncipe tinha gastado toda a fortuna que o marido lhe deixara e que não era pouca! E agora ele queria as duas mulheres ao mesmo tempo! As brigas começaram a se tornar mais frequentes e, apesar da mediação dos amigos, Sua Alteza rompeu com madame Fitzherbert e avisou ao pai que, se tivesse todas as dívidas pagas, consideraria a ideia de se casar.

      Daquele momento em diante, pensou o Marquês, tudo saíra dos eixos.

      Os amigos tinham a esperança de que, com o casamento, o Príncipe se livraria das dívidas. Mas, como devia a imensa soma de seiscentas e trinta mil libras, isso não foi possível. Também esperavam que rompesse com Lady Jersey; em vez disso continuou a vê-la mais do que nunca, instalando-a numa casa vizinha a Carlton House.

      A Princesa só se referia a ela como «aquela bruxa velha», uma descrição que o Príncipe, ultimamente, começava a achar bastante adequada.

      Tão distraído estava o Marquês com aquelas lembranças, que custou a perceber que a dança estava acabando.

      As doze bonitas ninfas, «virgens imaculadas», como todos garantiam, dançavam sob a direção de Vénus, papel que a própria Sra. Hayes representava.

      Charlotte Hayes dirigia o estabelecimento há anos, com enorme sucesso. O Marquês suspeitava de que, com a grande fortuna que juntara, iria se aposentar em breve. Tinha contra ela a idade e, a seu favor, muitos serviços prestados à aristocracia. Principalmente, conseguido aumentar o padrão dos bordéis londrinos. Seria realmente difícil encontrar em qualquer salão da corte um grupo tão selecionado como o presente naquela noite. Havia vinte e três nobres, comandados pelo Príncipe de Gales, e cinco membros da Câmara dos Comuns.

      A comida era maravilhosa; os vinhos, excelentes. O Marquês sabia que pagariam caro pela festa, mas a Sra. Hayes estava preparada para retribuir à altura. As ninfas eram realmente muito atraentes e as outras mulheres, extremamente hábeis em sua profissão e escolhidas tanto pela beleza quanto por outros dotes especiais.

      O Marquês tinha como companheira de jantar uma moça chamada Yvette, que se dizia belga, mas que ele podia jurar ser francesa. Uma criatura inteligente, com senso de humor e um jeito fascinante de olhar os homens, por entre os longos cílios. Era, no momento, um truque tão antigo, que o Marquês chegou a se irritar, ao sentir os dedos finos e elegantes acariciando seu pescoço.

      —Está muito calado— disse Yvette, fazendo beicinho com os lábios vermelhos demais.

      Poderia ter excitado um homem mais jovem, mas conseguiu dele apenas um novo bocejo.

      —Detesto representações desse tipo. Elas me cansam.

      Yvette chegou mais perto.

      —Venez para algum lugar calmo avec moi, mon cher. Sei divertir mais, muito mais, do que peças de teatro.

      O Marquês olhou em volta. Os convidados que tinham comido e bebido demais estavam agora recostados nos divãs, abandonados ao prazer, ou com suas companheiras de jantar, ou as ninfas seminuas cuja representação chegara ao fim.

      O Príncipe, cercado de mulheres, devia ter esquecido