Barbara Cartland

A Feiticeira de Olhos Azuis


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única coisa boa desta reunião é que ela não podia segui-lo até ali, pensou o Marquês.

      De repente, percebeu, com raiva, que estava na mesma situação, no caso de Lady Brampton.

      —Por que as mulheres nunca percebem que um caso acabou? Que amolação!

      —Vous dites alguma coisa, senhor?— Yvette perguntou, e ele viu que estava falando alto.

      A moça aproximou-se mais, e agora seus lábios vermelhos estavam bem perto dos dele.

      —Vamos nos divertir, mon brave? Você esquece todo o mundo, mas não esquece Yvette. Faço você tão feliz, oui?

      O Marquês levantou-se, livrando-se delicadamente dos braços dela.

      —Peço desculpas, mas de repente me sinto terrivelmente indisposto. Por favor, transmita minhas desculpas à Sra. Hayes e dê-lhes os parabéns pela festa tão diferente e divertida. Foi maravilhoso.

      —Non, non, senhor.

      Yvette parou de protestar, quando o Marquês pôs em sua mão uma nota tão alta, que a fez perder a voz.

      Rapidamente, para que ninguém tentasse segurá-lo mais um pouco na festa, ele deixou a sala, atravessou a rua e chegou em King’s Palace, sem que notassem sua ausência.

      A carruagem o esperava. Aliviado, jogou-se nos assentos almofadados. Um lacaio usando o libré dos Aldridge colocou uma manta leve sobre seus joelhos e esperou ordens.

      —Para casa!

      Os cavalos partiram pela íngreme subida de St. James até Piccadilly e desceram a rua Berkeley até a praça Berkeley.

      A mansão Aldridge era linda por fora e de tirar a respiração por dentro. Tinha sido reformada pelo pai do Marquês, que apreciava arquitetura, competindo com as mais belas mansões do país, inclusive com Carlton House, tanto em tamanho quanto em luxo.

      Os Aldridge sempre foram grandes admiradores de arte, e os tesouros acumulados através dos séculos formavam uma relação magnífica, igualada por poucas grandes famílias inglesas.

      Mas agora, atravessando o hall de mármore, o Marquês só tinha consciência de sua grande preguiça, de seu tédio total e nem percebia as belezas à sua volta. Entrou na grande biblioteca, cujas janelas davam para o jardim e onde habitualmente se sentava quando não havia visitas. As paredes de livros deixavam algum lugar para quadros clássicos e famosos.

      O mordomo esperou até que estivesse no meio da sala e anunciou:

      —Há um bilhete em sua escrivaninha, senhor. O rapaz que trouxe disse que era urgente.

      O Marquês não respondeu. Só relanceou os olhos pelo envelope e reconheceu a letra.

      «Maldita mulher!», disse para si mesmo. «Por que não me deixa em paz?»

      Nem pegou o recado. Sentou-se numa cadeira de balanço e, distraído, aceitou o cálice de conhaque que o mordomo lhe serviu. O empregado deixou a sala silenciosamente, para não perturbar o patrão.

      O Marquês olhava para a parede em frente, onde havia um quadro de Rubens, sem saber o que via. Não se impressionava com as cores vibrantes, os tons de pele e o tema alegórico. Nada, nada podia impressioná-lo agora.

      Pensava apenas na beleza loura de Nadine Brampton e na determinação de seus olhos azuis, olhos que informavam a ele que Nadine era feita na mesma fôrma de onde saíra Lady Jersey. Não seria fácil livrar-se dela.

      Jovem, pois ainda não tinha vinte e seis anos, Lady Brampton casara aos dezessete com um homem muito mais velho e que ficou inválido logo depois. Conquistou Londres assim que chegou. Era bonita, educada e, como se não bastasse, rica, muito rica. Além de tudo, sua aparência de louça de Dresden, de boneca de biscuit, escondia um temperamento fogoso que a fazia trocar de amantes constantemente; tão logo se cansava deles.

      Isso, até encontrar o Marquês. O que deveria ser somente um caso, um interlúdio divertido, transformou-se numa ardente paixão que envolveu completamente seu coração.

      O Marquês sentia-se como preso num redemoinho tão forte que era perigoso até se mexer. Nadine Brampton perseguiu-o com um fôlego de sete gatos e ele, que tinha fama de não se dar a ninguém, de ser egoísta e caprichoso, deixou-se vencer por sua persistência.

      Se Lady Jersey o incomodava, Lady Brampton deixava-o louco, a ponto de não saber como acabar com uma ligação que tinha se tornado um inferno de tédio e mau humor. Ela o bombardeava com bilhetes, presentes e convites. Ia à sua casa nos momentos mais imprevisíveis, parecendo não desconfiar de que acabava assim com o pouco de reputação que lhe restava. Conseguia, por métodos só dela, estar em toda festa, toda reunião, todo espetáculo junto com o Marquês. Se fosse andar a cavalo no parque, ela aparecia por milagre a seu lado. Se estivesse no Palácio, o que acontecia diariamente, lá estava a mulher, solicitando uma audiência com Sua Alteza Real. Como o Príncipe tinha bom humor e apreciava mulheres bonitas, era difícil para o Marquês convencê-lo a mandá-la embora.

      Só naquela noite conseguira livrar-se dela, o que o Marquês considerava um presente caído do céu, a única coisa boa que acontecera na reunião. Era apenas trégua, sabia, porque com certeza a melancolia do Príncipe não ia desaparecer por causa das ninfas da Sra. Hayes. Amanhã seria outro dia, com o herdeiro a desfiar lamentações, reclamar de sua ligação com Lady Jersey e exagerar seu já exagerado desejo de unir-se outra vez à Sra. Fitzherbert. O pior é que tanto o Príncipe fugia de Lady Jersey, quanto a Sra. Fitzherbert fugia dele. Não frequentava mais a corte e morava, sossegada, numa pequena casa em Castle Hill, recusando qualquer possibilidade de reconciliação.

      —Nunca se pode reparar um vaso quebrado— disse quando o Marquês lhe pediu para ouvir o que Sua Alteza tinha a dizer.

      Para ajudar naquela delicada tarefa, o Marquês levou vários presentes, como uma pulseira com a inscrição «Rejoindre ou mourir».

      A Sra. Fitzherbert aceitou os presentes, mas continuou se recusando a encontrar o ex-amante.

      —Vou morrer! Fico doido se ela não me aceitar de novo!— dizia o Príncipe, dramático—, meu coração... meu coração não vai aguentar!

      Estava em tal estado que o Marquês, como muitos de seus amigos, temia por sua saúde. Mas não havia nada a fazer.

      «Nossas situações, é claro, são completamente diferentes», pensou o Marquês. «Não vou morrer, nem adoecer por causa de Nadine Brampton». Ainda assim, precisava tomar alguma decisão em relação a ela. Aquilo não podia continuar assim!

      Mordeu o lábio. Graças à persistência e teimosia dela, ele já estava se tornando motivo de riso. Sabia que no passado machucara muitos corações. Mas que culpa tinha? Era inevitável, pois, além de ser um homem bonito, tinha aquela espécie de indiferença cínica em relação ao amor que fazia com que as mulheres o perseguissem ainda mais. Todas achavam que teriam sucesso onde as outras falharam. Bastava olhar para uma mulher, para que ela visse nisso um encorajamento e resolvesse que com ela seria diferente: dessa vez, ele se apaixonaria. Invariavelmente e com uma rapidez desconcertante, descobriria que estava errada.

      O Marquês era generoso quanto a presentes. Seus elogios, mais gentis e mais inteligentes do que os da maioria dos homens, e um perito na arte de amar, como todas as suas amantes diziam! Mas era muito independente…

      Ninguém jamais conseguira tomar de assalto a cidadela bem defendida que era seu coração. Ninguém, depois de uma noite de amor, podia dizer que tinha possuído algo mais do que seu corpo. Ou mesmo, que sentira o que dizia.

      —Você é desumano!— uma linda mulher acusou, certa vez—, você pensa que é um Deus, concedendo favores aos que estão a seus pés? Por que tanta distância, por que essa insistência em não descer à terra?

      Ele aplacou sua fúria com um beijo, mas ela sabia que, quando a deixasse, nunca mais o veria.

      —Oswin,