tarde, viu as nuvens cinzentas que se aproximavam pelo horizonte com uma velocidade inesperada e o pânico voltou a apoderar-se dela. Seria impossível chegar a terra firme antes de começar a tempestade.
O vento começou a levantar ondas cada vez mais altas e era difícil manter o rumo. Um relâmpago rasgou silenciosamente o céu, como um aviso mudo do que se aproximava. Kira segurou com força o remo, pensando que talvez aquilo fosse um erro que podia pôr em perigo a sua vida e a do seu filho, mas decidida a seguir em frente.
A chuva não demorou a chegar, em forma de uma cortina densa que a cercava várias vezes. Tinha a roupa encharcada e o cabelo colado à cara e às costas. O caiaque encheu-se de água. Cansada, continuou a remar, consciente de que parar significaria o lançamento do caiaque contra as rochas. Mas cada vez tinha menos forças.
Sem saber o que fazer nem para onde se dirigir, à mercê do vento e da chuva, Kira achou ouvir o ruído de um motor. Alguém saíra para o alto-mar com a tempestade! Seria o pai do jovem caribenho que vira na praia? Talvez alguém que pudesse ajudá-la? Arriscou-se a virar a cabeça, com a esperança de ver alguém por perto que pudesse ajudá-la. Ofegou de cansaço, mas verificou, aliviada, que alguém viera ajudá-la.
Era André! Não! Como a encontrara tão rapidamente?
Mas o importante era que estivesse ali. Confiava totalmente nele, mesmo que fosse apenas para a salvar das garras daquela tempestade.
Naquele momento, a natureza pareceu gozar com ela e uma rajada de vento virou o caiaque de costas e a força da água arrancou-lhe o remo das mãos. O vento apagou os seus gritos. E, de repente, o caiaque virou-se. As ondas envolveram-na e arrastaram-na para baixo e, então, viu-se novamente a afogar-se num lugar escuro que lhe arrancava a vida.
O seu pesadelo voltava a tornar-se realidade.
O coração de André parou, embora fosse apenas por um instante, e pensou em matá-la por fazer semelhante loucura, por se pôr em perigo.
Mas, antes de a estrangular com as suas próprias mãos, tinha de a salvar das ondas e de a levar sã e salva para Noir Creux, a ilhota desabitada que era uma reserva natural. Desligou o motor da mota aquática e mergulhou de cabeça no lugar onde a vira desaparecer sob as ondas, contando os segundos, consciente de que o tempo era de vital importância. Procurou no redemoinho e, finalmente, conseguiu tocar numas madeixas de seda. Segurou o cabelo dela e puxou-a com ele para cima, contra a força das ondas.
Saíram juntos para a superfície, sob a chuva e a fúria das ondas e, então, viu o receio e o alívio nos olhos femininos.
Muitas emoções invadiram-no, mas tentou ignorá-lo. Não queria sentir mais do que simples desejo físico por ela. Porque agora, depois da reunião em Martinica com o seu advogado, sabia que Kira era apenas uma oportunista, que passava de um benfeitor para outro, tentando tirar o máximo proveito.
Mas não com ele e muito menos agora que tinha consciência de que era apenas uma encantadora de serpentes que não hesitaria em usar a fraqueza que sentia por ela para tentar destruí-lo.
Passando-lhe um braço pela estreita cintura, nadou para terra firme e, depois do que pareceu uma eternidade, sentiu a areia vulcânica da margem sob os pés. A chuva continuava a cair com força e ele dirigiu-se para a gruta que se abria atrás das rochas. Vendo-se finalmente a salvo da força das ondas, André respirou fundo e olhou para ela.
– Estás bem? – atreveu-se a perguntar, sem conseguir compreender como se atrevera a entrar no mar com o pânico que sentia pela água, pondo a sua vida e a do seu filho em perigo.
– Sim – respondeu ela. – Estamos bem.
Ela e o seu filho. Os três estavam a salvo.
– Só queria telefonar e voltar para Petit Saint Marc.
Sem dúvida, estava desesperada por entrar em contacto com Peter e confirmar que conseguira o seu objectivo.
– Terias esperado uma eternidade – respondeu ele. – Noir Creux está desabitada. É um santuário natural sob protecção francesa e a minha também.
Kira olhou para ele com incredulidade.
– Tu vigias um espaço protegido?
– Um espaço protegido e muito mais coisas – disse ele. – Como o Château Mystique. Na verdade, esta manhã recebi uma chamada a oferecer-me as tuas acções, tal como aconteceu com as de Edouard.
– Isso é impossível – disse ela. – Quem te telefonou?
– Isso não importa.
– Sim, claro que importa, porque as minhas acções não estão à venda nem nunca estarão.
– Agora não podes voltar atrás.
– Não é necessário. Nunca autorizei nenhuma venda – disse ela, esfregando os braços. – Tenho de telefonar ao meu advogado e parar tudo isto antes de…
– Já é demasiado tarde. Paguei o preço que pediam – disse ele. – Há uma hora, o Château Mystique é meu a cem por cento.
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