Catherine Labbe

As Chamas Gémeas


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      Embora a nossa visão enquanto seres humanos possa ser delimitada e adulterada na sua perceção, tornar o Amor pequeno pode, por vezes, ser importante para compreender como o Amor é na realidade grande. É muito maior do que somos capazes de imaginar, acreditar e conceber com a nossa consciência e mente humana.

      Dito isto, podemos, cada um à sua maneira e com a devida intenção, estabelecer uma ligação com o Amor em estado puro. O Amor que é a essência de todas as formas de vida e criação. O Amor que é Tudo. Está em todos os lugares e em todas as coisas. É infinito e ilimitado. É o que a minha orientação chama de “Fonte do Amor Absoluto”.

      Quando encontrei a ligação com esta Fonte do Amor Absoluto, a minha vida transformou-se.

      Então, lembrei-me que, durante a infância, eu possuía esta ligação natural com a Fonte, como certamente acontecia com outras crianças.

      Também senti esta ligação com o Amor Absoluto quando estive perto da morte num acidente quando tinha cerca de 12 anos. Senti-me envolvida, amada, apoiada por uma vibração de Amor profundo. Não existem palavras para descrever o que experienciei e senti nesse momento. Esta experiência ficou gravada na minha memória. E, nesse momento, eu soube e tive a certeza de que este Amor Absoluto existia e que podíamos aceder a ele.

      O Amor afeta-nos e toca-nos a todos.

      Se observarmos a forma como funcionamos, a vida é com frequência uma espécie de “corrida pelo amor” que acontece inconscientemente.

      O que quero dizer é que todos sentimos a sua falta, fazemos “pedidos de Amor” durante toda a vida. Ainda que essas necessidades e exigências não estejam ao nível da alma, parecem ser necessárias ao nível da pessoa. O Amor é essencial à vida. Nutre a nossa alma do mesmo modo que alimentos e água são essenciais à vida e nutrem o nosso corpo.

      Por isso, corremos atrás do Amor para satisfazer as nossas necessidades.

      Antes de mergulhar no tema das Chamas Gémeas, é importante compreender as noções e os processos “Amor pelo Vazio” e “Amor pelo Completo”.

      Estas duas noções são uma chave para a compreensão que lhe é oferecida para que possa compreender o que está a acontecer interiormente a nível do Amor que atrai para si e que oferece ao outro e aos outros.

      Muitas vezes, quando a pessoa ama alguém diz que está tudo bem e que encontrou o seu equilíbrio.

      «Está tudo bem», o que significa? Significa que a outra pessoa lhe proporciona o que precisa e que, graças a isso, se sente preenchida.

      Muitas vezes, para não dizer sistematicamente, procuramos consciente ou inconscientemente por aquilo que precisamos para nos sentirmos bem nos outros.

      É como se houvesse um vazio em nós e fossemos à procura de alguma coisa na outra pessoa para o preencher.

      Vou dar um exemplo para tornar isto mais claro para todos. Imaginem uma mulher que precisa de ser cuidada, porque precisa de se sentir amada e apreciada. Agora imaginem um homem que precisa de se sentir útil para uma mulher, porque desta forma ele sente que existe e é importante para ela. Esta mulher e este homem encontram-se e decidem viver como um casal.

      Este homem irá cuidar desta mulher, alimentando assim a sua necessidade de se sentir útil e de existir para o outro. Em simultâneo, ao fazê-lo, estará a alimentar a necessidade desta mulher de ser amada e apreciada.

      Vão-me dizer que é perfeito quando alguém encontra o seu equilíbrio desta forma, que se amam e que são felizes juntos.

      Sim, pode parecer perfeito, enquanto ambos tiverem este vazio para o outro preencher. Mas o que acontece quando este vazio é preenchido de outra forma que não pelo outro? Acontece que a outra pessoa vai se sentir inútil e o equilíbrio da relação vai colapsar.

      Na realidade, este equilíbrio é o que eu designo de “equilíbrio de desequilíbrios”. Significa que o equilíbrio não é justo, é apenas uma sucessão de desequilíbrios dos quais se tentam libertar. Ao mínimo movimento, tudo rui.

      O caso que descrevi é o que designo de “Amor pelo vazio”. É o mesmo que dizer que o Amor tem como fundação o vazio que o outro vem preencher.

      Este Amor pelo vazio é o oposto do amor pela liberdade de ser. De facto, para além do equilíbrio frágil do processo, este amor pelo vazio baseia-se em entregar o poder ao outro.

      Ao proporcionar a outra pessoa a oportunidade de chegar e preencher as nossas lacunas para que possamos ser felizes, estamos também a entregar-lhe o poder de nos deixar infelizes no dia em que retirar aquilo que preenchia essa lacuna.

      Se olharem à vossa volta, muitas são as relações que funcionam inconsciente ou conscientemente conforme o modelo Amor pelo vazio, colocando a felicidade nas mãos um do outro.

      Não estou a dizer que não devemos prestar atenção ao outro, ao ser que amamos. O que pretendo explicar é que existe uma outra forma de Amor que permite que todos se sintam plenos e completos, mantendo todo o poder de ser e vivenciando um equilíbrio justo e sólido.

      Esta forma de Amor é o “Amor pelo completo”.

      Trata-se de aprender a preencher o nosso próprio vazio para que não tenhamos de depender do outro. É sobre nos tornarmos um ser pleno e completo novamente.

      Isto não rouba nada à capacidade de amar. Pelo contrário, assim somos livres e capazes de amar completamente o outro. E tudo aquilo que for criado neste Amor irá repousar sobre fundações estáveis e sólidas.

      Quando o Ludovic e eu nos conhecemos, não estávamos totalmente neste Amor. Cada um tinha lacunas para preencher. No entanto, estávamos conscientes da diferença entre o Amor pelo vazio e o Amor pelo completo. Tendo em conta a nossa reconexão e a nossa missão, sabíamos que a nossa relação não podia ser construída com base no equilíbrio de desequilíbrios. Podíamos, sem dúvida, ter feito esta escolha de livre arbítrio, mas estávamos comprometidos com a nossa missão e respetivos deveres.

      Para o nosso Amor ser justo e perfeito, tínhamos de ser capazes de existir e amar completamente. Por isso, ambos trabalhámos as nossas partes vazias, encorajados e apoiados um pelo outro.

      Num casal, uma das grandes dificuldades é evitar projetar no outro as nossas expetativas relativamente a um ideal construído com base em padrões inconscientes e lacunas a preencher, como veremos mais tarde.

      Numa relação como a nossa, é importante não só aceitar a outra pessoa como ela realmente é, mas também encorajar e possibilitar que seja como é.

      Parece fácil dito assim e pode parecer uma grandiosa prova de Amor. Sim, é uma linda prova de Amor por completo. Mas, para aqui chegar, é preciso que ambos realizem um trabalho interior profundo para que ambos possam avançar como um todo.

      Por exemplo, ao mesmo tempo que encorajamos o outro a recuperar o seu poder e a sua liberdade, temos de atuar internamente nessa perda de poder sobre o outro relativamente às lacunas que podemos preencher.

      Em qualquer caso, para conceber uma relação adequada, plena e completa só pode ser construída sobre as fundações de um Amor pelo completo.

      Um dos medos dos casais que já estão juntos consiste em dizer a si mesmos que se começarem este trabalho de transferência de Amor pelo vazio para Amor pelo completo, a relação irá sofrer repercussões significativas, conduzindo à separação e ao divórcio.

      De facto, se a relação do casal se basear no equilíbrio dos desequilíbrios, é muito provável que a ilusão de estabilidade fique despedaçada.

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