numa árvore graças as suas dimensões de seda, planou silenciosa sobre os soldados de Mastigo escondidos entre as moitas, como um falcão sobre a sua presa, e os atacou até a morte.
Cessados os ataques as mulheres correram para recuperar os meninos entre os braços de Zàira, Xam e Ulica precipitaram-se ao encontro dela.
A praça estava vazia, um vento levantou-se fortíssimo, como um pequeno redemoinho dirigiu-se para o centro da aldeia sem destruir nada ao longo do seu trajecto. Zàira, Xam e Ulica sentiram os seus movimentos endurecer-se e, como quem está retido por magia, não conseguiram fugir. Rodopiaram durante vários segundos antes de serem depositados no limite de um grande litoral daquela ilha flutuante.
Durante um tempinho Ulica sentiu-se suspensa no vazio. A cabeça ainda girava como quando desde criança por brincadeira, agarrando pela mão as amigas, rodeava até mais que podia, mas recuperou e procurou os seus companheiros da viagem.
Xam já tinha encontrado Zàira, que tinha perdido os sentidos, e estava ao lado dele de joelhos: os seus olhos escuros estavam cheios de tristeza, um fraco por aquela Oriana o tinha sempre acompanhado.
Ulica aproximou-se a eles e, realista como sempre, começou a controlar Zàira para perceber o que fazer, apalpou-lhe o pulso e disse:
- Batimento lento mas normal, o seu corpo esta a tentar minimizar o esforço para recuperar.
Girou-a lentamente para ver onde a teriam atingida, tirou-lhe o vestido que trazia amarrado atrás do pescoço e deixava descoberta as costas que permitia de se enrodilhar se necessário e a cingia nos flancos nas ilhargas até à metade da coxa.
- Está ferida na ilharga direita, atrás da coluna, felizmente de raspão, a sua couraça lha protegeu.
Não tinha perdido muito sangue, o laser tinha causticado em parte a ferida que não era profunda.
- Não parece que tenha atingido os órgãos vitais ou já estaria morta – continuou Ulica.
Xam a reparava estupefacto, aquele homem indómito que durante a batalha não destilava uma gota de medo e piedade pelos seus inimigos, habituado aos campos de batalha onde o horror da guerra e do sangue eram algo comum, não conseguia falar.
Acenou com a cabeça que concordava.
- Devemos encontrar um lugar para cuidar a ferida – sugeriu Ulica.
Xam já tinha segurado no braço de Zàira e se dirigia para aquilo que parecia um templo, no cume de uma colina verdíssima.
A sua aproximação e o seu cheiro lhe levaram outra vez à razão quando desde menino Zàira tirou-o fora do Canyon dos Cristais sobre Oria, tinha acontecido num dos poucos períodos em que deixava a academia, para ele única família conhecida.
Durante as ferias, quase todos os amigos do curso regressavam às suas famílias. Nem todos os rapazes tinham esta sorte: alguns eram órfãos, como Xam; outros permaneciam porque as suas famílias eram bastante ocupadas pelas suas necessidades laborais; outros ainda, pelo contrário, pertenciam às famílias onde realmente a demasiada carga de trabalho não permitia o seu regresso. Para todos eles vinham organizados alguns campos de verão e muitas vezes o destino era Oria.
Neste planeta, a atmosfera era rarefeito por causa das suas pequenas dimensões que comportavam uma baixa força gravitacional. Todos aqueles que não eram Orianos deviam usar um pequeno compensador de ar para obter uma oxigenação perfeita, sem o tal se sentiria como quem está no cume de uma montanha que supera os oito mil metros.
A estadia no campo estival de Oria era marcada por um monte de tarefas mas no fim das actividades diárias, Xam encontrava-se a mandriar nos arredores do campus, nas quais vizinhanças encontrava-se a fazenda do pai de Zàira e foi ali que a conheceu.
Naquele Verão a amizade deles solidificou-se. Como todos os adolescentes amavam arranjar sarilhos mais ou menos graves. Zàira, efectivamente, naquele Verão contou a Xam sobre um lugar que a ela parecia encantador, não revelou toda a verdade, manteve secreta uma parte para não estragar a surpresa e acima de tudo escondeu que os adultos o proibiam pela sua perigosidade.
Foi desta forma que arrastou o amigo naquela aventura no deserto. Pediu a Xam para calçar as botas mais pesadas que possuísse e não quis que levasse alguns amigos consigo, deveria permanecer um lugar secreto.
Caminharam muito, Xam não conseguia perceber o porquê, naquele dia de calor tórrido, Záira lhe tivesse dito para calçar aquelas malditas botas.
Zàira não era por acaso uma grande conversadora, percorreram uma boa parte do troço em silêncio até que Xam cansado lhe perguntou:
- Ainda falta muito?
- Não sejas um zero, estamos quase lá – respondeu Zaíra.
- Espero que valha a pena!
- Verás que será assim. Bastar-nos-á chegar no topo daquela subida.
- Então vejamos quem chega primeiro – gritou Xam começando a correr.
Zàira precipitou-se na perseguição, procurando de todas as formas de fazê-lo parar, mas Xam possuído pela corrida não a ouviu.
Conseguiu aplacá-lo só na parte mais alta do litoral.
Xam, estendido no chão cabisbaixo, maravilhado, dirigiu-se para ela:
- Por que saltaste em cima de mim?
- Não notaste nada? – Disse Záira indicando com o dedo – querias mergulhar dentro?
- Wow, tinhas razão, é incrível!
Diante dos olhos de Xam apresentou-se um panorama fantástico, um grande Canyon abria-se à frente deles.
Não era muito largo, mas não conseguia ver no fundo. Os flancos abriam-se com umas tonalidades horizontais brilhantes, a cor próximo do topo era clara e dourada como a areia, mais se olhava para baixo mais a cor matizava-se aproximando-se ao encarnado granada. Estava dividido em duas zonas: uma, mais distante deles, cheia de grupos de cristais de ametista que reflectiam a cor da rocha, a outra cheia de grandíssimas flores em forma de cálice dentro das quais se poderia deitar comodamente ambos/o casal. Comodamente ambos. Os cálices moviam-se incansavelmente como um fole para permitir à planta de apropriar-se de uma maior disponibilidade de oxigénio, dando vida a um dançante efeito cenográfico.
Xam, estranhamente, sentia o seu corpo mais suave que o normal e observava maravilhado, todo aquele troço lhe tinha causado fome.
- Bem, realmente um lindo lugar para passar uma pequena refeição, espero que na tua mochila haja algo de bom.
- Pensas sempre na comida - Sorriu Zàira, que tirou da mochila uma corda, sentou no chão, desfez-se das botas e as amarrou num arbusto, depois aproximou-se ao Canyon.
Xam não percebia o que a sua amiga estivesse a tramar.
Não teve tempo para lho questionar porque viu Zàira lançar-se no vazio. O terror assaltou-o e correu até à margem do precipício para ver que fim tivesse tomado.
Debruçou-se no litoral e viu Zàira a rir e esvoaçar.
Naquele instante quisera matá-la pelo medo que lhe tinha arranjado, mas ao mesmo tempo se sentiu aliviado e feliz vendo a ela.
Zàira aproximou-se rapidamente à beira e aterrou perto de Xam.
- Mas o que te saltou em mente? Pensava que tivesse sido esmagado nas rochas. Podia advertir-me! – Disse um pouco agastado.
- Se to tivesse dito teria perdido a tua expressão, deverias ver como estás! – Riu divertida.
- Extraordinária! – Respondeu ironicamente Xam sentindo-se ridicularizado.
- Desculpa-me, não queria te assustar – acrescentou Záira dando-se conta que talvés tinha exagerado.
- Deixa estar, antes o que fazes com aquelas garrafinhas de ar na mão? Perguntou Xam sorrindo, pensando em como não conseguisse ficar chateado com ela.