EADA DA GUERRA DE TRÓIA
Um romance livremente inspirado na Ilíada de Homero
de Dionigi Cristian Lentini
Tradução de Aderito Francisco Huo
Todos os direitos reservados @ Copyright 2021
AO meu pai
Por ter-me transmitido
O amor pela mitologia clássica
PREFÁCIO
Ao cuidado da Dr.ª Consiglia Mosca
Num livro editado dois anos atrás, com o título Triângulos diabólicos, pesquisa sobre um arquétipo do mal, vem escrito entre outras coisas:
“O ciúme é um sentimento omnipresente. Mais, é uma das principais declinações da alma humana, relevável desde as noites dos tempos e substancialmente avulsa dos condicionamentos histórico - sociais. Não é por acaso que a mitologia clássica o representou e tipificado”1.
E mais a frente o conceito vem melhor definido:
“No mito……………………, o ciúme é parteira da tragédia e do sangue”.1
Aqui prevemos que este sentimento, sempre susceptível de desvios alarmantes, representantes da outra face do amor: sejam um como o outro estado da alma, movem na medida proeminente as acções dos homens e, por dentro do mito, mesmo aquelas dos próprios deuses.
A guerra de Tróia, com a sua enorme carga de dor e de morte, toma justamente início a partir de um triângulo amoroso cujos lados são: Helena, “femme fatal” ante litteram da lenda homérica; Páris, herói do clássico fascínio viril; Menelau, pálido soberano de Esparta, sobrecarregado pela contínua contenda com o valoroso irmão Agamenon.
O encontro entre estas personagens vai activar um destino denso de pathos: Páris, filho do rei Príamo e loucamente apaixonado por Helena, foge com ela; Menelau, já esposo de Helena, cegado por ciúme e desejo de vingança, vai declarar guerra em Tróia dando inicio a uma catastrófica tragédia que vai durar dez anos.
Em volta deste núcleo central, ganharão vida, ora emaranhando-se ora dissolvendo-se, infinitas vicissitudes ligadas entre elas a partir do invisível Destino: insondável e misterioso, verdadeiro deus ex machina da mitologia grega, o destino supera, como o seu determinismo absoluto, até a vontade dos deuses.
Como Ilíada, cuja escrita de Cristian se refere, assim todos os mitos da antiguidade, longe de propor simplesmente uma pequena história inventada, absolviam à mesma função que hoje vem assumida pela psicanálise. Denso de simbolismo, efectivamente, o mito escavava profundamente na alma do homem tornando-o consciente das usas ocultas pulsões e libertando-o da escravidão do incógnito.
O triangulo amoroso constitui portanto a dinâmica de fundo – ele-ela-o outro – sobre a qual implantam-se infinitas variações, conforme um cenário espácio-temporal que nunca se repete nas suas exigências/instâncias fundamentais. E isso acontece tanto na vida real como na reproposição artística, sobretudo no teatro, no cinema e na literatura.
A história de Helena, Páris e Menelau, representa pois “um arquétipo”, um modelo primário recorrente na complexa lógica dos sentimentos humanos. Até ao ponto de ser considerado o arquétipo do mal em absoluto.
Nada de estranho se o enredo homérico, não obstante o transcorrer de séculos íntegros, volta de vez em quando para fascinar e envolver.
Poucas semanas atrás, repentinamente, este escrito muito fluido e cativante de Cristian, solicitou a minha mente restituindo-lhe o prazer perdido de “ouvir contos”, aquela ancestral atitude infantil para seguir as míticas fabulações, desde a narração fantástica dos avôs, até os enredos empolgantes de fábulas e lendas.
Comecei a ler e continuei até ao fim, duma só vez, detendo-me frequentemente nas páginas porque, continuamente, nomes e situações engatavam-se em inumeráveis pormenores ha tempo submersos na minha memória apinhada. As sinapses tornadas preguiçosas retomando altitude e reconduzindo-me a leituras que pareciam esquecidas.
Desta forma voltei com satisfação aos anos do liceu, quando, entre estudantes, brincava-se ridicularizando às vicissitudes emaranhadas e incríveis desta acólita ruidosa, feita de personagens e divindades que, entre a mesquinhice e paixão, muitas vezes roçavam o fascínio da loucura.
Mesmo, aprisionados contra a nossa vontade entre livros e velhos bancos, não teríamos por ventura admitido agora que, no fundo, aquelas vicissitudes nos encantarão. Podia suceder que, depois da aula, permanecesse em nós a forte curiosidade de saber quais aspectos teriam tido a história da qual estávamo-nos ocupando pelo mero dever escolar.
Tem razão quem sustenta que o poema homérico não seja outra coisa que o resultado harmónico e poético de uma tradição oralmente transmitida: bastante correspondente à existência terrena, são os conflitos e as situações nele reportadas.
Com esta sua versão romanceada da epopeia troiana, parece que Cristian propõe-se acenando, entre o convidativo e o divertido. Uma espécie de jogo…quase uma aposta.
Parece já saber que o leitor ficará, contra a sua vontade, seduzido pelo enredo e que, como as crianças postas diante de uma fábula, no fim de cada capítulo procurará saber com curiosidade irresistível: “e depois?”.
Consiglia Mosca
Mottola, 10 de Junho de 2009
ÍNDICE
Prometeu, as núpcias de Tétis e Peleu e o pomo da discórdia
O julgamento de Páris e o regresso à Tróia
À procura de Ulisses e de Aquiles
A injúria à Artemísia e o sacrifício de Efigénia
Criseida e Briseida, o abandono de Aquiles e a vingança de Ulisses
Diomedes e Glauco
O encontro de Heitor e Andrómaca
O duelo entre Heitor e Ájax Telamónio
O duelo entre Pátroclo e Serpedonte e a morte de Pátroclo