um prato diante dela com ovos mexidos, bacon e torradas. — Obrigada — respondeu ela. Ela conteve um gemido. Sua cabeça ainda doía e agora seu estômago estava enjoando também. Ela olhou para cima e engasgou ao encontrar o olhar da jovem. Do outro lado da sala, ela não tinha percebido… — Lady Vivian — disse ela cuidadosamente. Não podia ser…
— Sim — respondeu Lady Vivian, perplexa. — O que foi?
A última vez que Anya se lembrou de tê-la visto foi no escritório do Instituto Britânico de Cinema. Ela era muito mais velha do que essa garota desolada na frente dela. Ela não estava apenas no corpo de outra pessoa, ela de alguma forma tinha voltado no tempo. O que ela poderia dizer? Ela não poderia dizer simplesmente: “Ah, você não é a Lady Vivian que eu conheço.” Tecnicamente, era a mesma pessoa, apenas uma versão mais jovem. Uma que ela nunca deveria ter conhecido… Inferno, Anya nem havia nascido ainda. Pelo menos ela achava que não… Ela não tinha certeza de que ano era, e ela tinha apenas uma pequena noção de tempo dada a aparência de Lady Vivian. Ela franziu a testa.
— Nada — murmurou ela. — Minhas desculpas, estou com uma terrível dor de cabeça e é difícil manter um pensamento.
— Pobrezinha — disse a duquesa. — Por que você não contou antes? Vou pedir a alguém para trazer algo para você. — Ela estalou os dedos para um criado próximo e ele se afastou. Ele voltou alguns momentos depois com duas aspirinas e Anya tirou-as do prato. Ela engoliu sem pensar, feliz por ter algo para aliviar sua dor de cabeça.
O duque pegou um jornal e o abriu. Anya queria ofegar de novo, mas se segurou por pura força de vontade. As manchetes a preocuparam e lhe deram muito a considerar. A Alemanha estava na frente e no centro da primeira página. Era setembro de 1933 e a perseguição à comunidade judaica já havia começado. Ela engoliu em seco. Isso respondia a algumas de suas perguntas… Como a de que ela já havia nascido, mas não tinha mais do que três anos. Ela não sabia o que fazer ou como agir. Nada disso fazia sentido.
— Ida disse que ela já aprontou todas as suas malas — começou a duquesa. Anya tentou se lembrar do nome dela. Ela sabia… Se ao menos sua cabeça não doesse tanto. — Você está preparada para a longa jornada?
Mais importante, quem era Ida? A resposta veio… a mulher mais velha… a criada pessoal. — Eu acredito que sim. — Anya não tinha outra resposta para… Brianne! O nome da mãe de Vivian era Brianne! Embora não fosse certo usá-lo. Ela deveria dizer Sua Graça e seguir a etiqueta apropriada. — Ela me informou quando me acordou… — Espere… ela também disse que viajariam para a Alemanha. Anya xingou interiormente. Esse era o último lugar que ela queria estar em 1933. A guerra tinha sido terrível e ela não desejava experimentar o pior dela em primeira mão e em um dos lugares mais horrendos de seu ponto culminante.
— Ela é eficiente — disse a duquesa e sorriu. — Foi um prazer ter você aqui. Seu pai foi gentil em nos ajudar quando viajamos para Nova York alguns anos atrás. Como você sabe, minha família mora na Carolina do Sul e tem uma casa em Nova York. — Ela sabia disso… embora tivesse esquecido. — Vivian… — Ela deu a sua filha um olhar cauteloso. — … Perdeu-se no Central Park. Sem a ajuda de seu pai, talvez nunca a tivéssemos localizado.
Hum… Aquilo era interessante. Então a Lady Vivian era um pequeno diabrete. Não se parecia em nada com a mulher que Anya havia conhecido. Se ela algum dia voltasse ao seu próprio corpo e tempo, ela poderia ter que perguntar a Lady Vivian o que ela fez sozinha no Central Park aos quatorze anos de idade. — Meu pai ficou feliz em ajudar. — Ela esperava que isso fosse verdade. Anya não tinha ideia de quem era o seu “pai”.
— Edward Wegner é um bom homem. Espero que ele goste de seu novo cargo com o Embaixador na Alemanha. — O duque dobrou o jornal e colocou-o de lado. — No entanto, não tenho certeza de que ele ficará lá por muito tempo se o clima atual continuar como está. — O duque suspirou. — A Grande Guerra foi horrível e ninguém quer revivê-la, mas temo que possamos caminhar para outra guerra em breve.
O duque não sabia o quanto estava certo. Anya engoliu em seco e tentou comer. Ela espetou os ovos com um garfo e enfiou um pedaço na boca. Afinal, ninguém esperava que ela falasse muito enquanto mastigava.
— Não a assuste, Julian — disse a duquesa. — Ela já está lidando com muita coisa. — A duquesa sorriu para ela. — Mas você já esteve na Alemanha antes. Não é adorável… ao menos as partes que você visitou? Havia algo não identificável na voz da duquesa. Ela tinha estado na Alemanha? Se Anya se lembrava corretamente, o duque fora um espião durante a Primeira Guerra Mundial. Ele provavelmente tinha estado na Alemanha, mas a duquesa era americana. Ela, sem dúvida, ficou segura em casa.
Anya engoliu os ovos, que doeu enquanto desciam por sua garganta. Ela assentiu. — Sim. — Respostas de uma palavra eram boas, não é?
— Eu soube que você está noiva — disse o duque.
— Estou? — Isso não deveria ter saído como uma pergunta. Por que ela estava indo para a Alemanha então?
A duquesa riu. — Você pode querer considerar repensar seu relacionamento se não tiver certeza. Seu pai disse que ele é do Exército Alemão… um oficial de alta patente.
O que essa Ana estava pensando? Ela acreditava na causa nazista? — Tenho certeza de que é a decisão certa a se tomar. — Pelo menos, ela esperava que sim. Talvez Ana amasse o homem. Ela odiaria arruinar seu relacionamento.
— Bem — disse a duquesa. — De qualquer forma, você tem toda a sua vida pela frente. Algumas decisões não podem ser desfeitas tão facilmente, e amar o homem com quem você se casa não deve ser uma decisão difícil.
— Eu concordo — disse Anya, e ela realmente concordava. Se e quando ela se casasse, ela planejava amar o homem de corpo e alma. — Se me derem licença, eu gostaria de me ajeitar antes de ter que sair.
— Claro — respondeu a duquesa. — Caso não te veja mais antes de partir, faça uma boa viagem.
Com essas palavras, Anya saiu da copa. Ela ainda não tinha muitas informações, mas ela descobriu o suficiente para fazê-la hesitar. Isso não era bom… não era nada bom…
CAPÍTULO TRÊS
Outubro de 1933
Anya olhou pela janela do carro que a levava da estação de trem para o local da embaixada americana temporária. Ela não tinha a mínima noção de tempo. Pelo menos não no sentido de que ela definitivamente não estava onde pertencia. Todos acreditavam que ela era Anastasia Wegner, filha de um funcionário do Embaixador William Dodd.
Até onde ela pôde ver, ela não tinha nada em comum com Anastasia. Ana não tinha ambições e era uma filha obediente. Tinha até concordado em casar com um oficial alemão. A bile subiu pela garganta com a ideia de se casar com um nazista. Ela não conseguiria fazer isso. Mas havia uma coisa em comum ao seu tempo, e apenas uma: o anel de opala em seu dedo anelar. Era idêntico ao que sua avó lhe dera… até o desenho floral em metal prateado e a opala redonda.
Ela não tinha notado a princípio. Com tudo o que aconteceu depois que ela acordou e com a sua cabeça doendo daquele jeito, ela tinha esquecido de olhar para a única joia que ela… Ana estava usando. Podia ser uma coincidência, mas ela não achava que fosse. Era o anel de noivado de Ana. Anya queria tirá-lo de seu dedo e jogá-lo em algum lugar onde nunca seria achado. Mas ela não podia fazer isso. A obediente Ana não faria isso e, portanto, Anya teve que conter seus impulsos.
Ela soltou um suspiro e fechou os olhos. Eles estariam na embaixada em breve e ela teria que se encontrar com o pai de Ana. O pouco que ela aprendeu sobre ele não a deixou com uma boa sensação. Ele poderia até ter ajudado o duque e a duquesa de Weston, mas parecia governar sua casa de maneira nada gentil. Ela teria que se conter para não falar o que pensava. Dizer a coisa errada poderia muito bem valer-lhe um tapa na cara.
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