um que de muito mais sombrio e consternado, por assim dizer..
Giorgio Bárberi Squarotti
Sobre a obra “Spoon River” concordo, se bem que a minha leitura do del Lee Masters antecedesse quase três décadas a redacção de “Centro histórico” e durante a redacção não a tivesse em destaque; todavia, às coisas feitas, não excluo precisamente que o meu inconsciente a tivesse presente; pelo contrário quanto a Pavese de "Lavorare stanca/Trabalhar exausta", com aqueles seus versos que a mim, amante do ritmo, mesmo sem contestar completamente o valor, longe disso, soam para mim um pouco prosaicos, penso que aquele grande não tens nada a ver, se não para a piemontesidade, tanto como caracter de fundo, quanto para a comum, intencional tradução em italiano, aqui e acolá, de forma da língua piomontesa, o que contudo não é invenção nem sua nem minha, mas praxis do já quase desaparecido povo subalpino autóctone; aliás, parece própriamente que o "Lavorare stanca/Trabalhar exausta" de Pavese devesse por sua vez a Edgar Lee Masters.
Insiro em apêndice ao poema o prefácio de Sergio Notario à primeira edição da obra, apresentação que tem como origem uma posição metafísica e ideológica diferente da minha; todavia, acapacidade e humanidade do prefaciador tinham sabido colher suficientemente bem o meu sentimento, não obstante alguns pontos em que notava-se o afastamento de Sergio do Cristianismo; por exemplo, lá onde afirmava que o crente sente todo o bem de um lado e todo o mal do outro, não mostrava de ter clara a distinção entre a dor e o mal e o facto que o cristão não é absolutamente maniqueísta mas, ao contrário, sente o pecado agitando-se nele, e veja o que diz Paolo na carta aos Romanos, 7, versículo 18 e seguinte: "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem; efectivamente existe em mim o desejo do bem, mas não a capacidade de realizá-lo; de facto eu não efectuo o bem que quero, mas o mal que não quero": para os cristãos é realmente mal só o pecado, causa de dor de todas as formas, enquanto o sofrimento nem sempre deriva da má vontade dos seres humanos, basta pensar a uma doença; e é precisamente aqui que, na minha opinião, o Cristianismo distingue-se das outras religiões, com o seu Deus que é homem no seu próprio Ser eterno e prova também a experiência da vida material terrena dentro da história (teólogo medieval Duns Scoto) sujeitando-se pois a sofrer e morrer por causa da alheia livre escolha (poderosos do Sinédrio e do Templo), respeitando a liberdade concedida por Deus mesmo a cada ser humano. A um certo ponto do prefácio Notario falava do milagre de uma conversão, porém, caro leitor não procure tais versos, efectivamente os eliminei: há um tempo, os tinha sentido adocicados; constituiam o produto final no qual a personagem de Vincenzo o racista viera a ser crente e benévolo; agora o poema conclui-se na mesma situação do inicio, aquela de um Vincenzo maligno, como normalmente acontece não obstante as orações de outrem, porque Deus respeita a liberdade da consciência dada a cada ser humano, e o assassinato por ele não impedido de Jesus é facto evidente. Estou muito grato a Sergio Notario, poeta para além de ser crítico, músico e por aí adiante, que, não limitando-se a escrever o prefácio, tinha continuado a seguir a obra durante muito tempo depois da reprodução, com apresentações e leituras públicas.
Guido Pagliarino
Guido Pagliarino
CENTRO HISTÓRICO
Porta Palazzo e arredores 1990
Conto coral em versos
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