Tao Wong

A Vida No Norte


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As crianças não estão ali! — vocifero para o Ali, que está a observar a luta com entusiasmo, tendo, de alguma forma, conjurado um pacote de pipocas. Este para de comer tempo suficiente para apontar e volta a ignorar-me.

      Sigo a indicação dele, esgueirando-me de um edifício para outro e encontro as crianças a serem protegidas pelos ogres jovens. Semicerro os olhos a contemplar o que fazer, antes de regressar ao evento principal. Sorrio cruelmente, a batalha já está quase no fim. A salamandra, bastante ferida, está a queimar o último ogre com a sua respiração.

      Gostam de ser cozinhados? Uma parte de mim está preocupada com a alegria abominável que estou a exibir, mas é uma parte muito pequena. Assim que a salamandra acaba com o resto dos ogres principais, certifico-me de que ela termina o seu trabalho, provocando-a e guiando-a até às crianças.

      A fase dois está completa. Sorrio sem vontade, ao ver a salamandra a saborear os ogres jovens, antes de me apressar. Podia terminar aqui, a vingança pelos habitantes de Junction está concluída. Contudo, a raiva não está saciada, preciso de a descarregar uma última vez. A salamandra é um monstro e tem de morrer.

      A fase três é muito simples, na teoria. Aliás, eu tinha arriscado bastante ao pensar que seria a salamandra a sobreviver, no final da batalha, pois construí o meu pequeno brinquedo com isso em mente. Tinha escondido a arma por perto e estava agradecido por ver que os ogres não estão familiarizados com a tecnologia humana ou, então, não são muito curiosos, pois deixaram-na intacta. Peguei no carrinho de compras e dei a volta à engenhoca, para esta ficar de frente para a salamandra.

      Fiz figas, na esperança de que funcionasse, e empurrei, enviando o carrinho na direção ao monstro. Ele não percebe o que está a acontecer, mas percebe que estou a fugir, o que faz com que me queira perseguir. É óbvio que quer acabar comigo de uma vez por todas.

      Surpreendentemente, o primeiro impacto, quando atinge a salamandra de frente, não desencadeia a explosão. O segundo, quando o seu pé de trás esmaga o carro, desencadeia. O carro está acondicionado em camadas. A camada mais funda, que me deu bastante trabalho, contém uma garrafa de nitroglicerina caseira. A garrafa está bem selada, cheia de algodão à volta, para garantir que um impacto casual não a faria explodir. À sua volta, coloquei garrafões de gasolina meio cheios, intercalados com latas de spray. No exterior, pus uma camada fina de pregos, parafusos e porcas. Esta era a minha bomba improvisada e ocupou grande parte do meu tempo a montar.

      Quando explodiu, o estilhaço improvisado faz a maioria dos danos, como esperava. A salamandra pode ser resistente a temperaturas elevadas e talvez até parcialmente resistente à força da explosão, mas não há muito que possa fazer quanto aos estilhaços que rasgam desde os pés até ao resto do corpo.

      Claro, só percebi essa parte mais tarde. Quando se dá a explosão, só me lembro de uma dor aguda e da força da explosão a atirar-me para a frente, antes de tudo escurecer.

      ***

      Quando acordo, vejo o Ali a pairar sobre mim com um ar preocupado. Este desaparece assim que abro os olhos e o seu ar mal-encarado e pouco impressionado volta ao normal. Só vejo um ligeiro movimento da sua mão, antes de a minha visão se encher de azul.

      Parabéns!

      Foste crucial na destruição da Vila Ogre (Novato). Até as crianças. Quem é o monstro agora?

      + 13 000 XP

      Parabéns!

      Ajudaste a matar uma Salamandra (Nível 108). Não devias brincar com bombas. Da próxima vez, podem explodir na altura errada.

      + 27 000 XP (XP proporcional aos danos feitos)

      — Ali... O Sistema fez-me um aviso? — olho preocupado para a janela azul. O Big Brother prestou mesmo atenção ao que eu fiz? Será que podem influenciar as coisas, se eu tentar algo parecido? Também não planeio voltar a fazê-lo. Recordações de vídeos do YouTube e de aulas de Química não são o mais indicado para construir bombas.

      — Parece que sim, não é? — responde o Ali, quando dispenso a notificação para continuar a investigar o mar de azul.

      Título Ganho

      Por matares um monstro com mais de 100 níveis acima do teu, recebeste o título “Ruína de Monstros”. Todos os danos causados a monstros de um nível superior ao teu + 15%.

      Parabéns!

      Por receberes o teu primeiro título, ganhas um bónus de + 5000 XP.

      Passaste de Nível! x 4

      Chegaste ao Nível 7 de Guarda de Honra de Erethran. Os pontos foram distribuídos automaticamente. Tens 15 atributos livres por distribuir.

      Habilidades de classe bloqueadas.

      Com a visão finalmente livre do mar azul, percorro calmamente as barras de estatística e outras notificações. A Vida ainda está abaixo de meio e os pequenos ícones de estatística adicionais dizem-me que tenho uma concussão e estou exausto. Não me digam. Ainda assim, não há descanso para os ímpios. Portanto, levanto-me e vomito logo em seguida.

      — Isso é nojento — o Ali funga e espera que eu quase termine antes de continuar. — Toca a mexer, mauzão. Estão prestes a chegar criaturas repugnantes e tens de acabar de saquear.

      Faço um esgar, mas começo a mexer-me lentamente, dando o meu melhor para não voltar a perder o pequeno-almoço. Ou será que já é almoço? Jantar? Bolas, não faço mesmo ideia e dói-me demasiado a cabeça para me preocupar. Não me vou queixar. Estou vivo, algo que não esperava. Aliás, tenho quase a certeza de que não estava a pensar muito bem nestes últimos dias. Quem raio é que atrai um mini dragão para um combate até à morte contra um grupo de ogres, que acabaram de exterminar uma vila sozinhos, e constrói uma bomba com as próprias mãos?

      A salamandra dá-me uma bolsa de fogo de salamandra, pele e mais carne. Surpreendentemente, quando abro o meu inventário para guardar os itens, apercebo-me de que aumentou de tamanho outra vez.

      — Ali, estou a imaginar coisas? — franzo as sobrancelhas, olhando para a nova grelha de 6 x 6.

      — Não, o espaço do inventário aumenta a cada cinco níveis — explica o Ali e observa-o. — Ainda bem para ti.

      Tenho de concordar com ele porque, caso contrário, teria de deitar fora algumas coisas. Enquanto itens do mesmo tipo se acumulam, itens únicos precisam do seu próprio lugar e os diferentes tipos de carne são considerados únicos. Seja como for, ainda bem para mim. Agarro no saque da salamandra e despejo-o no inventário, passando à frente. As crianças ogres dão me alguma pele de ogre e os adultos são uma desilusão, inicialmente, dando-me uma variedade de armas rústicas, armaduras demasiado grandes, couro de ogre e 5000 créditos, no total. Os créditos vão diretamente para o inventário como uma notificação, o que ajuda, visto que comecei a deitar fora saques antigos, como a carne de formiga. Quando finalmente chego ao ogre chefe, dobro-me cuidadosamente para pegar no taco que este largou e quase o deixo cair outra vez, quando a notificação aparece.

      Taco para Esmagar Encantado

      Danos Base: 38

      Encantamento: ignora 20% da armadura alvo

      Bolas. A minha faca apenas faz danos base de 4, para começar. Claro, como o guia explicou, os danos eram baseados na armadura do alvo e onde e como a atingíamos. Os melhores tipos de armadura absorvem mais danos, apesar de terem tendência a ficar danificadas, conforme vão absorvendo cada vez mais impactos. Além disso, as armas brancas têm modificadores de danos adicionais, que incluem a nossa força, o que, no caso dos ogres, era bastante significativo.

      Mal consigo pegar no maldito taco gigante e o facto de o poder sequer levantar quebra todas as regras da física. É por isso que o deixo no chão e passo para o saque do chefe seguinte. Esse dá-me mais couro de ogre, 7000 créditos e uma chave dourada. Quando a minha mão se fecha à volta da chave para a pôr no inventário, surge outra