Tao Wong

A Vida No Norte


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o Ali e arrependo-me imediatamente, quando a minha cabeça começa a girar. O Ali vem ter comigo, olhando para a janela em silêncio, enquanto recupero. Por momentos, com a cabeça a andar à roda, pergunto-me se ele estará maior, mas distraio-me com o que ele está a dizer.

      —Caramba! — exala o Ali, apontando para a chave. — Por isso é que os ogres não fugiram, eles compraram a cidade.

      — Explica, bolas — respondi.

      — Pronto, está bem. As vossas cidades não são cidades verdadeiras, pelo menos, não de acordo com o Sistema. Se as quiserem ter, têm de comprar os direitos da mesma. Foi isso que os ogres fizeram. Eles devem ter juntado todos os recursos que tinham e compraram ao Sistema os direitos e um portal para aqui. Deve ter-lhes custado uma fortuna, mesmo para um sítio horrível como este — explica o Ali rapidamente, girando em círculos, inquieto. Creio que isso faz dos ogres pioneiros. Pioneiros canibais mortos, queimados e comidos.

      — Como queiram — zangado, rejeito a oferta do Sistema. Maldito Sistema, a julgar que o que construímos não é real. A exclamação de surpresa do Ali às minhas ações é interrompida por outro aviso.

      Controlo de cidade rejeitado

      Não foi encontrado nenhum outro senciente na zona.

      Gostarias de revender os direitos de Haines Junction? (S/N)

      Rio-me ligeiramente e aponto para o Ali:

      — Não és senciente!

      — Cala-te! Eu não conto porque estou ligado a ti, miúdo — replica o Ali, ao mesmo tempo que a chave desaparece da minha mão.

      Direitos de Haines Junction vendidos por 10% do seu valor. 200 000 créditos do Sistema foram depositados na conta.

      Como oferta única, gostarias de gastar os teus créditos do Sistema agora? (S/N)

      Desta vez, não chego a escolher, o Ali fá-lo por mim.

      Num momento, estou entre os restos queimados e destruídos do clã de ogres, cheio de dores e a lutar contra a onda de tonturas e parvoíces. A seguir, estou completamente saudável, numa Loja de alta tecnologia com demasiado amarelo. Levanto uma sobrancelha à escolha de cor. Pensava que seria tudo azul, mas cá está o amarelo, desde as paredes às cadeiras, ao balcão, onde um homem-lagarto amarelo nos espera.

      — Estás grande! — grito assim que vejo o Ali. Em vez dos seus normais 30 cm, o Ali tem uns incríveis dois metros. Felizmente, ainda está com o seu fato laranja, o que, tenho de admitir, combina muito bem com o seu tom de pele acastanhado.

      — Este é o meu tamanho real — refila o Ali, a apontar para mim. — Tu é que não consegues aguentar a minha “fabulosidade”.

      — “Fabulosidade”? — o meu queixo quase cai com a escolha de palavras dele.

      — Eu aborreço-me. O teu mundo tem muitas formas de entretenimento interessantes — diz o Ali desdenhosamente e encaminha-se para o lagarto que nos espera. — Malik, seu velho malandro! Tenho uma proposta para ti!

      Olho para o homem-lagarto e para o meu Companheiro, quando este começa a tirar coisas do meu inventário, já a começar uma discussão sobre o preço. Antes ele do que eu, mas que raio devo fazer? Já agora, porque raio estou saudável?

      — Talvez o mestre queira dar uma vista de olhos às nossas mercadorias? — sugere uma voz suave ao nível do meu cotovelo, o que me faz virar e tentar acertar-lhe. Vejo de relance quem falou, uma raposa em duas patas, antes de esta se desviar do meu golpe sem qualquer problema.

      — Desculpe. Peço imensa desculpa. É só que... Apocalipse! — peço desculpa várias vezes.

      — Ora essa, mestre, é completamente normal. A culpa é deste servo por o ter assustado — o sorriso da jovem raposa aumenta e esta faz um gesto para uma porta que eu ainda não tinha visto. — A mercadoria, mestre?

      — Sim, suponho que posso... — começo a segui-lo. Afinal de contas, sou rico ou, pelo menos, acho que sou. — Já agora, eu estava ferido, mas agora sinto-me bem.

      — Faz parte do processo de transferência. A política do Conselho Galáctico diz que todas as transações devem ser feitas por indivíduos com a Vida intacta. Será devolvido na mesma forma em que estava — explicou a raposa com facilidade, enquanto me guiava para a porta. A sala onde entramos é de um amarelo-claro, tão grande que não consigo ver o fundo. Lá dentro, a sala é ocupada por uma nave espacial flutuante, que me relembra aquela em que o Super-Homem veio à Terra, no filme clássico. À frente dela, está um único ecrã, a flutuar.

      Regulus Fase VIII (200 000 créditos)

      Nave espacial de apenas um passageiro, originalmente capaz de realizar viagens hiperespaciais. Vem equipada com um Laser de Ligação de 3.ª Geração e duas Docas de Lançamento de Ares. Mais...

      Gostaria de comprar? (S/N)

      A minha mão contorce-se inconscientemente e faz um movimento para cima. Uma nave para me tirar daqui para fora, como o Sistema sugeriu. Uma fuga do sangue e da loucura que é a minha vida agora, uma forma de me libertar do medo. É tudo aquilo que eu poderia querer. Uma ligeira mudança de postura chama-me a atenção para a raposa e os meus olhos semicerram-se. Há alguma coisa na atitude dele, algo nos seus olhos.

      Filho da mãe. Está a tentar enganar-me. Mais uma vez, a raiva vem ao de cima e tenho de me esforçar para relaxar, para suprimir as minhas emoções. Rodo a cabeça para descontrair o pescoço e carrego no “não” decididamente. A raposa não diz nada, que é o melhor para ele. Depois de um breve momento, aparece uma lista gigante de produtos.

      Os cantos da minha boca formam um sorriso antes de eu dizer, olhando para a raposa:

      — Sê um lindo menino. Traz-me uma cadeira, café e qualquer chocolate que tenhas à mão. Vou demorar um bocado.

      A raposa retira-se e eu começo a pesquisar. Está na altura de tornar isto mais acessível.

      — Remover todos os artigos que custam mais de 200 000 créditos — a lista encolhe durante uns momentos, antes de se voltar a formar. Resmungo, não surpreendido. Vamos ver o que há...

      — Mostrar apenas artigos específicos para humanos — desta vez, a lista desaparece quase completamente, sobrando apenas três artigos. Suponho que somos demasiado recentes para termos um monte de produtos específicos.

      Tratamentos de Genoma Humano

      Os tratamentos de genoma são adaptados a cada cliente. O objetivo de cada tratamento é reparar e otimizar o código genético base do cliente, removendo erros gerados pela idade e radiação. Melhorias opcionais no tratamento incluem a remoção de código genético que seja inferior ao ideal e a adição de genes das melhores práticas.

      Custo Base: 10 000 créditos

      Remoção de Genes: 2500 créditos

      Introdução de Genes: 2500 créditos

      — Isto não me vai deixar assexuado ou qualquer coisa estranha, pois não? —pergunto à raposa, que regressou, depois de ficar um pouco confuso com a palavra “ideal”. Afinal, a definição de ideal de uma raça alienígena pode incluir tornar-nos hermafroditas ou pôr-nos uma cauda.

      — Não. O tratamento de genoma é destinado especificamente à humanidade, incluindo os problemas sociais da vossa raça — responde a raposa, de volta ao seu profissionalismo calmo. Resmungo e seguro a janela, puxando-a para o lado para a manter aberta. Vou comprar aquilo, definitivamente.

      O Básico de Manipulação de Mana para Humanos

      Utilizando tecnologia patenteada pelo Sistema, o conhecimento básico de manipulação de mana será descarregado diretamente na sua mente. Manipulação de Mana é um requisito para habilidades de magia básicas.