Nos ombros.
Dom Lancerote: O meu capote furtado?
Sevadilha: Pois nunca se viu furtar um capote?
Dom Lancerote: Não, bribantona, que era um capote aquele que nunca ninguém o furtou. Oh, dia infeliz, dia aziago, dia indigno de que o Sol te visite com os seus raios!
Sevadilha: Santa Bárbara!
Dom Lancerote: Tu, descuidada, hás de por para ali o meu capote, ou do corpo t’o hei de tirar.
Sevadilha: Como m’o há de tirar do corpo se eu o não tenho?
Dom Lancerote: Desta sorte.
Cantam Dom Lancerote e Sevadilha: a seguinte
Ária a duo
Dom Lancerote:
Moça tonta, descuidada,
Sevadilha:
Há mulher mais desgraçada
Neste mundo? Não, não há.
Dom Lancerote:
Se não dás o meu capote,
Tua capa hei de rasgar.
Sevadilha:
Não me rasgue a minha capa.
Dom Lancerote:
Dá-me, moça o meu capote.
Sevadilha:
Minha capa.
Dom Lancerote:
Meu capote.
Ambos:
Trata logo de o pagar.
Dom Lancerote:
Meu capote assim furtado!
Sevadilha:
Meu adorno assim rasgado!
Ambos:
Que desgraça!
Dom Lancerote:
Contra a moça.
Sevadilha:
Contra o velho.
Ambos:
A justiça hei de chamar:
Meu capote donde está? (vão-se).
Cena III
Praça: no fim haverá uma janela. Entra Dom Gilvaz embuçado.
Dom Gilvaz: disse a Semicúpio que aqui o esperava; mas tarda tanto que entendo o apanharam na empresa. Mas, se será aquele, que ali vem? Não é Semicúpio que ele não tem capote. Quem será?
(Entra Semicúpio embuçado em um capote).
Semicúpio: Lá está um vulto embuçado no meio do caminho; queira Deus não me chegue ao vulto; não sei se torne para trás, mas pior é mostrar covardia; eu faço das tripas coração; vou chegando, mas sempre de longe.
Dom Gilvaz: Ele se vem chegando, e eu confesso que não estou todo trigo.
Semicúpio: Este homem não está aqui para bom fim; eu finjo-me valente: afaste-se lá, deixe-me passar, aliás o passarei.
Dom Gilvaz: Vossa mercê pode passar.
Semicúpio: ai, que é D. Gil! Pois agora farei com que me tenha por valoroso. Quem está ai? Fale, quando não despeça-se desta vida que o mando para a outra.
Dom Gilvaz: Primeiro perderá a sua, quem me intenta reconhecer.
Semicúpio: Tenha mão, Senhor Dom Gilvaz, que sou Semicúpio.
Dom Gilvaz: Se não falas, talvez que a graça te saísse cara.
Semicúpio: Igual vossa mercê, que se o não conheço pela voz, sem dúvida, Senhor Dom Gilvaz, lhe prego como o seu nome na cara.
Dom Gilvaz: Deixemos isso, dá-me novas de Dona Clóris; dize, pudeste dar-lhe o recado?
Semicúpio: Não sabe que sou o César dos alcoviteiros? Fui, vi e venci.
Dom Gilvaz: Dá-me um abraço, meu Semicúpio.
Semicúpio: Não quero abraços, venham as alvíssaras, senão emudeci como Oráculo.
Dom Gilvaz: Em casa t’as darei; conta-me primeiro, que fazia Dona Clóris?
Semicúpio: Isso são contos largos, estava toda rodeada de braseiros de Alecrim, com um grande molho dele no peito, cheirando a Rainha de Hungria, mascando Alecrim como quem masca tabaco de fumo; e como acabava de jantar, vinha palitando com um palito de Alecrim e, finalmente, senhor, com o Alecrim anda toda tão verde como se tivera tirícia.
Dom Gilvaz: E do mais que passaste?
Semicúpio: Isso é para mais de vagar, basta que saiba por ora que apenas lancei o anzol no mar da simplicidade de Dona Clóris, picando logo na minhoca do engano, ficou engasgalhada com o engodo d Emil patranhas que lhe encaixei à mão tente.
Dom Gilvaz: Incríveis são as tuas habilidades: e que capote é esse?
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