href="#litres_trial_promo">CAPÍTULO VINTE E SETE
PRÓLOGO
Kirsten se preparou para enfrentar o frio de Boston, ajustou seu cachecol em volta do pescoço, e saiu para sua caminhada de quatro quadras na escuridão da noite. Ela passou por todos os bares fechados, percebeu que era muito tarde para estar caminhando, e sentiu um medo repentino. Olhou para trás, para a porta do complexo de apartamentos do qual havia acabado de sair, e pensou em mudar de ideia. Talvez fosse melhor ter ficado na casa da amiga.
Amy insistira para que ela ficasse—dizendo que já estava tarde e terrivelmente frio lá fora. Mesmo que aquilo tudo fosse verdade, Amy havia dito isso com o rosto colado no pescoço de um cara que ela conhecera no bar. E enquanto seu rosto estava ali, a mão do cara estava em outro lugar. Honestamente, Kirsten não queria dormir no sofá de Amy enquanto escutava sua melhor amiga e um cara aleatório (porém bonito) transando bêbados a noite inteira.
Na verdade, ela também não gostaria de estar ali pela manhã, ajudando Amy a inventar uma desculpa inteligente para mandar o cara embora.
Além disso, eram apenas quatro quadras. E comparada ao frio extremo que fizera em Boston cerca de um mês antes, aquela noite pareceria um passeio rápido em uma brisa de primavera.
Eram quase três da manhã. Ela e Amy haviam saído para ficarem loucas, beber a noite inteira e fazer tudo que o cérebro bêbado sugerisse. Isso porque, no último ano da faculdade, os sonhos delas haviam se tornado realidade. De alguma maneira, contra todas as probabilidades, as duas haviam sido selecionadas na aula de fotojornalismo—duas candidatas entre oito—para participarem de um trabalho na Espanha no verão. Elas iriam trabalhar para uma revista de natureza que atendia especificamente os mercados educacionais... e ganhariam mais dinheiro com aquele trabalho do que a mãe de Kirsten havia ganhado no último ano inteiro.
E isso vai calar a boca dela, Kirsten pensara. Ela amava muito sua mãe, mas estava realmente cansada de escutar suas reclamações sobre como escolher uma carreira em fotografia era um sonho distante—uma perda de tempo.
Ela chegou ao fim da primeira quadra, olhou para a faixa de pedestres, não viu ninguém e seguiu. O frio estava começando a incomoda-la. Ela podia senti-lo no nariz, começando a apertar.
Futilmente, imaginou se Amy e seu parceiro aleatório já estariam sem roupas. Imaginou se o cara era mesmo bom ou se tinha ficado bonito por conta da quantidade de álcool que elas haviam bebido.
Bom, não que ela tivesse aproveitado muito a noite. Comera um pequeno jantar no mesmo bar que elas haviam escolhido para aquele dia. Ela não tinha certeza se foram os nachos que dividiram ou algo na pizza, mas seu estômago não estivera legal. Depois de quatro cervejas, ela sabia que a noite havia acabado—e que ela não faria nada além de acompanhar Amy quando a amiga já estava aniquilada, shot por shot.
Ela se deu conta de que saberia de todos os detalhes no dia seguinte. E pensando em todos esses detalhes e em como aproveitariam o verão na Espanha, Kirsten, por um momento, nem percebeu o barulho que surgiu atrás dela. Passos.
Sentiu algo atrás do pescoço, mas ousou não olhar para trás.
Apertou o passo. Duas quadras para trás, duas por caminhar. E agora o frio estava realmente incomodando.
De repente, os passos estavam logo atrás dela, e um homem apareceu tropeçando a seu lado. Ele parecia bêbado e quando Kirsten pulou para trás, de susto, ele riu para si mesmo, claramente se divertindo.
- Desculpe – ele disse. – Não quis te assustar. Eu estava só... bem, você pode me ajudar? Bebendo com alguns amigos e... deveria encontrar eles depois do bar, mas não lembro onde. Sou de Nova York... nunca estive em Boston. Não faço ideia de onde estou.
Kirsten não quis olhar para o homem quando balançou sua cabeça. Era mais do que estar desconfortável ao lado de um bêbado desconhecido na madrugada. Era saber que estava muito perto de estar em casa e só queria que a noite acabasse.
- Não, desculpe – ela disse.
- Sério? – O homem respondeu.
De repente, ele não parecia tão bêbado. Inclusive, parecia se divertir com o fato de que alguém estivesse tão defensiva por algo tão inocente quanto ajudar um cara perdido em uma cidade com a qual ele não era familiar. Ela achou aquilo estranho e começou a se virar, pretendendo apressar o passo.
Porém, um pequeno movimento chamou sua atenção e a fez hesitar.
O homem estava segurando seu estômago, como se fosse vomitar. Ele estava assim o tempo todo, mas Kirsten estava quase certa de que não era exatamente aquilo. Ele colocou a mão na jaqueta, e foi então que ela viu que ele estava de repente segurando algo.
Uma arma, sua mente entrou em pânico. E mesmo que parecesse uma arma, ela não tinha certeza. Seus músculos a mandaram correr. Ela olhou para o rosto dele pela primeira vez e viu algo errado. Ele estava mesmo fingindo. Não estava nenhum pouco bêbado. Parecia sóbrio nos olhos—sóbrio e, agora que ela estava começando a entrar em pânico, um pouco louco também.
A coisa que parecia um tipo de arma apareceu rapidamente. Ela abriu a boca para gritar por ajuda e se virou para correr.
Mas depois, sentiu algo a atingir por trás. Algo que a acertou ao lado da cabeça, embaixo da orelha—preciso e imediato. Ela balançou e depois caiu. Sentiu sangue na boca e depois viu duas mãos a alcançarem. Foi, mais uma vez, uma sensação precisa em sua cabeça. Pequena, porém ao mesmo tempo estrondosa.
A dor era imensa, mas Kirsten conseguiu sentir tudo antes da noite se tornar apenas algo vago em volta dela. A rua escureceu, assim como o rosto do homem, e depois tudo ficou escuro.
Seu último pensamento foi que sua vida acabou sendo muito curta—e que a viagem que mudaria tudo acabaria nunca mais acontecendo.
CAPÍTULO UM
Avery sentiu como se estivesse em alguma estranha câmara de isolamento pelas últimas duas semanas. E ela estava nessa situação por sua própria vontade porque, na verdade, não havia outro lugar que a interessasse—apenas as paredes lisas do quarto de hospital onde Ramirez ainda repousava entre a vida e a morte.
De hora em hora, seu telefone tocava com uma chamada ou uma mensagem—mas ela quase não o olhava. Sua solidão era interrompida apenas por enfermeiras, médicos, e Rose. Avery sabia que provavelmente estava assustando sua filha. Na verdade, ela estava começando a assustar a si mesma, também. Ela já estivera em depressão antes—durante seus anos de adolescência e depois de seu divórcio—mas aquilo era algo novo. Algo que ia além da depressão, fazendo com que ela imaginasse se a vida que estava vivendo ainda era ao menos sua.
Duas semanas antes—treze dias, exatamente—foi quando tudo acontecera. Quando Ramirez havia piorado depois de uma cirurgia para se recuperar de um ferimento a bala que o atingira a menos de um centímetro do coração. E a situação não havia melhorado. Os médicos diziam