Джек Марс

O Preço da Liberdade


Скачать книгу

a noite. Mas ele estava bem. Estava mesmo. Tinha tido medo e ainda tinha um pouco. Até tinha chorado, o que não era mau. Às vezes temos que chorar. Não devemos conter as lágrimas.

      “Gunner?”

      Bem, mais valia falar sobre o assunto.

      “Pai, às vezes matas pessoas, não matas?”

      O pai disse que sim com a cabeça. “Às vezes tem que ser. Faz parte do meu trabalho. Mas só mato homens maus.”

      “Como consegues distinguir?”

      “Às vezes não é fácil. E às vezes é. Os homens maus fazem mal às pessoas mais fracas que eles ou a pessoas inocentes que só querem saber das suas vidas. O meu trabalho é impedir que façam isso.”

      “Como os homens que mataram o Presidente?”

      O pai anuiu.

      “Mataste-os?”

      “Matei alguns.”

      “E os homens que me levaram a mim e à mãe? Também os mataste, não foi?”

      “Sim.”

      “Ainda bem que o fizeste, pai.”

      “Também acho, monstro. Eram aquele tipo de homens que têm de ser mortos.”

      “És o melhor assassino do mundo?”

      O pai abanou a cabeça e sorriu. “Não sei miúdo. Acho que não existem tabelas com os melhores assassinos. Não é como um desporto. Não existe um campeão do mundo de mortes. De qualquer das formas, vou deixar essa vida. Quero passar mais tempo contigo e com mãe.”

      Gunner ficou a pensar. No dia anterior tinha visto o pai num programa de informação na TV. A referência fora breve, mas vira a foto e o nome do pai, e imagens de vídeo do pai mais novo no Exército. Luke Stone, o operacional da Força Delta. Luke Stone da Special Response Team do FBI. Luke Stone e a sua equipa tinham salvo o governo dos Estados Unidos.

      “Tenho orgulho em ti, pai. Mesmo que nunca chegues a campeão do mundo.”

      O pai riu-se. Apontou na direção do cais. “Então, pronto?”

      Gunner assentiu.

      “Afastamo-nos, ancoramos e vemos se conseguimos encontrar robalos riscados a alimentarem-se na maré baixa.”

      Gunner concordou. Afastaram-se do cais e avançaram lentamente ao longo da zona de baixa velocidade. Segurou-se bem quando o barco ganhou mais velocidade.

      Gunner olhou para o horizonte à frente deles. Ele era o batedor e tinha que se manter atento. Tinham pescado juntos três vezes na última primavera, mas não tinham apanhado nada. Quando se ia pescar e não se apanhava nada, o pai dizia que tínhamos ficado a ver navios. Naquele momento, estavam mesmo a ver navios.

      Dali a pouco tempo, Gunner observou alguns salpicos a meia distância a estibordo. Algumas andorinhas-do-mar brancas estavam a mergulhar, a cair na água que nem bombas.

      “Olha!”

      O pai sorriu.

      “Robalos riscados?”

      O pai abanou a cabeça. “Anchovas.” Depois disse, “Espera.”

      Ligou o motor e dali a instantes escumavam, rolavam, ainda a ganhar velocidade com o barco a apressar-se e Gunner lançado para trás. Um minuto mais tarde, diminuíram velocidade até à espuma branca e acomodaram-se ao sabor da ondulação.

      Gunner agarrou em duas longas canas de pesca com anzóis com isco. Entregou uma das canas ao pai e depois lançou a sua linha sem demoras. Quase de imediato, sentiu um puxão pesado. A cana rejubilava com uma vivacidade selvagem, vibrando de vida. Uma força invisível quase lhe arrancava a cana de pesca das mãos. A linha partiu-se e afrouxou. A anchova tinha-a quebrado. Virou-se para dizer ao pai, mas também ele estava em dificuldades com a cana dobrada em dois.

      Gunner agarrou numa rede e preparou-se. Uma muito zangada anchova prateada, azul, verde e branca, foi içada da água para o cockpit.

      “Belo peixe.”

      “E forte!”

      A anchova caiu no convés, apanhada pela malha verde da rede de mão.

      “Vamos levá-lo?”

      “Não. Estamos aqui para apanhar os riscados. Estes são empolgantes, mas os robalos riscados são maiores e também são mais saborosos.”

      Libertaram o peixe – Gunner viu o pai a remover o anzol da anchova combativa com os dedos a pouca distância dos seus dentes ávidos. O pai largou o peixe de lado e com uma rápida chicotada da cauda, rumou às profundezas.

      Mal o peixe desapareceu, o telefone do pai começou a tocar. O pai sorriu e olhou para o telefone. Depois pô-lo de parte. Não parava de tocar. Algum tempo depois, parou. Dez segundos depois, já tocava novamente.

      “Não vais atender?” Perguntou Gunner.

      O pai abanou a cabeça. “Não. Aliás, até vou desligar o telefone.”

      Gunner foi invadido por uma fria sensação de medo no estômago. “Tens que atender pai. E se for uma emergência? E se os maus da fita estão outra vez em ação?”

      O pai olhou para Gunner por um momento interminável. O telefone parou de tocar. E recomeçou novamente. Luke atendeu.

      “Stone,” Disse.

      Fez uma pausa e o seu rosto ficou sombrio. “Olá Richard. Sim, o chefe de pessoal de Susan. Claro. Já tinha ouvido falar de si. Bem, ouça. Sabe que eu não estou disponível, certo? Ainda nem sequer decidi se ainda faço parte da Special Response Team ou como raio se chama agora. Sim, compreendo mas há sempre alguma emergência. Nunca ninguém me liga para casa e me diz que não é urgente. Ok… ok. Se a Presidente quer uma reunião pode telefonar-me pessoalmente. Ela sabe onde me contatar. Ok? Obrigado.”

      Quando o pai desligou, Gunner ficou a observá-lo. Não parecia estar divertido e descontraído como há um minuto atrás. Gunner sabia que se a Presidente tinha ligado, o mais certo era o pai ter de fazer as malas rapidamente e partir para algum lado. Outra missão, talvez mais homens maus para matar. E deixaria Gunner e a mãe outra vez sozinhos.

      “Pai, a Presidente vai ligar-te?”

      O pai despenteou-lhe o cabelo com uma carícia. “Monstro, espero bem que não. E agora, que me dizes? Vamos lá pescar uns robalos riscados.”

      *

      Horas mais tarde, a Presidente ainda não tinha ligado.

      Luke e Gunner tinham pescado três belos robalos riscados, e Luke mostrou ao filho como esventrar, limpar e arranjar o peixe. Já o tinha mostrado anteriormente, mas era através da repetição que se aprendia. Becca juntou-se a eles levando uma garrafa de vinho para o pátio e colocando um prato com queijo e crackers na mesa exterior.

      Luke estava a começar a acender o lume quando o telefone tocou.

      Olhou para a família. Ficaram estáticos ao primeiro toque. Ele e Becca olharam-se. Já não conseguia ler o seu olhar. Mas o que quer que aquele olhar significasse, não era com toda a certeza aprovação solidária. Atendeu o telefone.

      “Agente Stone?” Questionou uma voz grave de homem.

      “Sim.”

      “Aguarde um momento em linha pela Presidente dos Estados Unidos.”

      Permaneceu em pé como que entorpecido a ouvir o vazio.

      O telefone emitiu um ruído e ela falou. “Luke?”

      “Susan.”

      Lembrou-se da sua imagem a liderar e a encorajar todo o país e grande parte do mundo ao cantar “Deus Abençoe a América.” Fora um momento maravilhoso, mas não passara disso, de um momento. E era aquele tipo de coisa que os políticos