Chantelle risonha em seus braços fortes e colocou-a sobre seus ombros. Então começou a desfilar com ela. Emily notou que Patricia estremeceu, provavelmente preocupada com o chão duro de madeira abaixo deles, um instinto de mãe que até Patricia possuía!
“Eu vou pegar a escada,” disse Stu, indo em direção à garagem.
Evan e Clyde também ajudaram, trazendo todas as caixas de enfeites da garagem. Então os três homens foram até a cidade para assistir ao jogo e tomar uma bebida após o longo dia de trabalho na ilha, deixando apenas a família para decorar.
“Precisamos colocar música de Natal,” disse Emily, dirigindo-se à recepção, onde estava o sistema de som. Ela encontrou um velho CD de canções natalinas e o colocou no aparelho. A voz de Frank Sinatra encheu o corredor.
E Daniel acrescentou. “Precisamos de chocolates quentes!”
Chantelle assentiu entusiasmada e todos correram para a cozinha. Daniel fervia o leite no fogão, enquanto Chantelle procurava na despensa por sobras de marshmallows. Ela voltou não só com marshmallows, mas também com granulado e chantilly.
“Excelente,” disse Daniel, enquanto servia uma caneca de chocolate quente para cada um, depois cobriu-os com creme, marshmallows e granulados.
Emily jamais vira Patricia consumir algo assim em sua vida! Os smores haviam sido uma visão suficiente para contemplar, mas isso era uma coisa totalmente diferente. Era como se Patrícia tivesse sido transformada pelo espírito natalino, finalmente, depois de sessenta e tantos anos de resistência!
Eles voltaram para o saguão, onde a gigantesca árvore de Natal estava esperando para ser decorada, e começaram a trabalhar. Chantelle assumiu a liderança, é claro.
“Precisamos de luzes aqui, papai,” disse ela a Daniel, apontando para um pedaço vazio. “E, vovó, estas renas precisam estar neste ramo.”
Emily inclinou-se para a mãe e disse: “Chantelle tem uma visão bem específica.”
Patricia riu. “Posso dizer que sim. Ela tem um olho para detalhes. Um dia ela será uma maravilhosa designer de interiores.”
Emily certamente poderia imaginar. Ou isso, ou algum tipo de organizadora de eventos. Ela tocou sua barriga, imaginando que tipo de personalidade a bebê Charlotte teria, se seria parecida com sua irmã – uma líder, organizadora, socializadora, performer – ou se ela teria um jeito diferente. Talvez ela se parecesse com a própria Emily, e fosse menos inclinada a ser o centro das atenções, mais satisfeita em ler um livro e levar os cães em tranquilos passeios pelo campo. Ou talvez ela fosse como o pai, prática, trabalhadora, e, às vezes, pensativa. Ou, como Emily tendia a pensar, ela poderia parecer-se com a tia que lhe deu o nome; doce, imaginativa, inquisitiva, calma. Ela mal podia esperar para descobrir.
“Vovó,” disse Chantelle, interrompendo o devaneio de Emily. “Como era a mamãe quando ela tinha a minha idade?”
Patricia estava ocupada esticando um grande pedaço de festão brilhante pelos galhos, enrolando-o através deles para que não caísse.
“Aos oito anos de idade? Bem, deixe-me ver. Seu cabelo era muito mais encaracolado do que é agora. Ela costumava usar esses lindos vestidos xadrez. Você se lembra, querida?”
A mente Emily voltou no tempo. A irritante combinação de vestido xadrez e meias que sua mãe sempre a fazia vestir havia sido uma fonte de inúmeras brigas. Emily odiava não poder correr ou subir em árvores, porque Patricia não queria que ela estragasse suas roupas.
“Eu lembro,” respondeu.
Patricia continuou. “Seu pai ensinava piano a ela também. Ela era muito boa nisso, mas perdeu o interesse.”
Emily desejava agora que não tivesse parado. Que tivesse continuado a se sentar ao lado do pai naquele banquinho de piano surrado, aprendendo canções de musicais e clássicos antigos. Aqueles eram momentos preciosos e ela não tinha aproveitado ao máximo. Ela não sabia que precisava.
“O vovô Roy?” perguntou Chantelle.
“Sim,” disse Patricia. Ela sorriu. “Ele era muito talentoso ao piano. E adorava. É por isso que ele teve que colocar um nesta casa, apesar de passarmos apenas algumas semanas por ano aqui. Mas ele acendia a lareira e tocava piano para nós, e Emily se enrolava em um cobertor e adormecia.” Ela soltou um suspiro melancólico. “Apesar de tudo, sempre havia momentos maravilhosos, não é, querida?"
Emily sabia o que ela queria dizer. Apesar da dor da perda de Charlotte. Que, após sua morte, quando o silêncio cresceu entre seus pais como uma parede invisível de vidro, havia alguns momentos de normalidade, de alegria, quando a quietude estava cheia de beleza e suas mentes recebiam um alívio da dor.
“Eu amo o vovô,” disse Chantelle a Patricia. “Ele era um bom marido?”
Patricia olhou de volta para Chantelle. E, para o choque e surpresa de Emily, ela estendeu a mão e acariciou a cabeça da garota.
“Ele era. Nem sempre. Mas ninguém é perfeito.”
“Você o amava?”
“Com todo meu coração.”
“E agora?” perguntou Chantelle.
“Chega,” interrompeu Emily. “Essa é uma pergunta pessoal.”
“Eu não me importo,” disse Patricia. Ela então olhou Chantelle diretamente, e falou em uma voz firme. “Passamos muitos anos como marido e mulher, muitos bons anos. Mas não éramos felizes e a coisa mais importante na vida é ser feliz. Foi muito difícil dizer adeus a ele, mas no final foi o melhor. E, sim, eu ainda o amo. Uma vez que você ama alguém, você nunca deixa realmente de amar.”
Emily então virou-se, enxugando a lágrima que se formou no canto do olho. Durante toda a sua vida, Patricia só falara mal do seu pai. Nem uma vez a ouvira admitir que ainda amava Roy.
Pairou o silêncio, e a família quietamente colocou as últimas decorações na árvore. O ar melancólico que pairava ao redor deles se dissipou apenas quando Daniel tirou a estátua do anjo da caixa.
“Chegou a hora,” disse ele, entregando-o para Chantelle.
Com um sorriso animado no rosto, Chantelle subiu a escada, esticou o braço o máximo que pôde e colocou o anjo no galho mais alto da árvore.
“Tcharan!” exclamou ela.
Daniel ajudou a menina a descer a escada e todos se afastaram para admirar seu trabalho manual. Emily foi dominada pela emoção quando lhe ocorreu que esta era a primeira árvore que ela decorara ao lado de sua mãe em quase vinte anos. Patricia se afastara do ritual logo após a morte de Charlotte. Mas agora, com uma nova família à sua volta e um novo filho crescendo dentro de Emily, ela estava de volta. O momento parecia pungente para Emily, como se o espírito de Charlotte tivesse ajudado aquilo a acontecer.
“Acho que esta é a árvore mais bonita que já vi,” disse ela, olhando com gratidão para cada um dos membros de sua família.
*
Com a árvore pronta e os chocolates quentes terminados, era hora de Patricia se despedir.
“Eu queria que você não tivesse que ir” disse Chantelle, abraçando Patricia pela cintura.
Emily observava a mãe abraçar a criança, parecendo significativamente menos desajeitada do que costumava parecer com demonstrações de afeição.
“Podemos falar ao telefone, se você quiser,” disse Patricia à criança.
“Você vai fazer chamadas de vídeo com a gente?” exclamou Chantelle, seu rosto se abrindo em um enorme sorriso.
“Eu vou o quê?” perguntou Patricia, parecendo confusa.
“Mensagens de vídeo, mãe,” explicou Emily. “Chantelle adora isso.”
“Nós conversamos pelo computador com o vovô o tempo