Margaret Moore

Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro


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da outra mão pela palma ainda macia. – Estás preocupado porque ela não nasceu para este tipo de trabalho? Que esta mão delicada se torne áspera e calejada? A opção foi dela. Foi ela que não quis ir-se embora. Se está a sofrer, é a única culpada por isso. Além do que, não vejo razão para apelidares um trabalho honesto de «sofrimento».

      Etienne estudou os rostos dos três homens, que olhavam fixamente para Gabriella. A julgar pelas suas expressões, estavam a imaginar Gabriella como criada nas suas casas.

      Afinal, eles eram homens, e Gabriella perdera a sua posição social e, consequentemente, a protecção que esta lhe garantia. Aqueles homens acusavam-no, no entanto, e ele não tinha a menor dúvida de que cada um deles visualizava Gabriella na sua cama. Ela também precisava de entender isso; precisava de compreender que não podia contar com a ajuda de ninguém, e que teria sido muito mais sensato ter-se ido embora quando tivera a oportunidade.

      Ainda com a mão de Gabriella entre as suas, Etienne sorriu friamente.

      – A virtude dela está segura, e isso eu garanto-lhes, pelo menos no que concerne a mim e aos homens sob o meu comando.

      O contacto com a mão de Gabriella, a suavidade e o calor da sua pele, perturbavam Etienne mais do que ele gostaria de admitir. Subitamente, ele deu-se conta de que desejava aquela jovem como não desejara, durante um ano inteiro, mulheres muito mais belas.

      Que fraqueza absurda era aquela? Ele não precisava de Gabriella, e ela, obviamente, não o queria. Para quê perder tempo com fantasias com aquela jovem pobre, sem casa e sem terra, e que nem mesmo era dotada de uma beleza excepcional?

      Os três homens entreolharam-se, apreensivos. O lenhador fez menção de dizer alguma coisa, mas pareceu pensar melhor e desistir.

      – Se alguém tem culpa da situação em que se encontra Gabriella Frechette... – continuou Etienne, dirigindo as suas palavras não só aos homens, mas também a ela –... não sou eu. É ela própria, e vocês, e os outros arrendatários, que exploraram a generosidade do vosso falecido amo.

      O barão fez uma pausa, não porque relutasse em fazer a sua proposta seguinte, mas para causar efeito.

      – Contudo, existe uma maneira de vocês ajudarem a filha do vosso conde. Por que é que um de vocês não se oferece para pagar a dívida e libertá-la?

      Com um brilho de esperança nos olhos, Gabriella virou-se para o capataz, que enrubesceu e baixou o olhar para o piso de pedra; depois, para o cavaleiro, que, de repente, parecera encontrar na mesa um objecto de fascinação; e, finalmente, para o lenhador, que não conseguiu disfarçar o embaraço.

      – Milady! Eu... não tenho dinheiro, como bem sabe, e... – balbuciou ele.

      Com uma súbita e terrível consciência, Gabriella compreendeu que eles não a ajudariam; apesar de tudo o que o seu pai fizera por eles e pelas suas famílias; depois de toda a preocupação e atenção que ela lhes dedicara, eles não pretendiam ajudá-la!

      Gabriella olhou para o rosto inescrutável do barão, e depois para as grandes mãos, calejadas pelo uso de armas de guerra, mãos que a tinham segurado com tanta delicadeza... Seria possível que William e os outros não percebessem a sua situação? Seria possível que não fossem capazes de arranjar o dinheiro, de alguma forma?

      – Existe uma outra maneira – disse o barão, sem o menor indício de emoção na voz gutural. – Talvez um de vocês esteja disposto a tê-la como esposa. Nessas circunstâncias, disponho-me a perdoar a dívida. E Gabriella poderá continuar a viver no povoado, o que parece ser o seu maior desejo.

      – O quê? – Gabriella olhou para ele, indignada.

      – Milorde! – exclamou Chalfront, aparecendo imediatamente ao umbral da porta, como se tivesse ficado ali a ouvir, o tempo todo. – Milorde! Eu caso-me com Gabriella!

      Para Gabriella, ser oferecida daquela maneira, como se fosse uma mercadoria em promoção, era uma afronta inadmissível.

      – Eu prefiro morrer! – revidou, contendo-se para não sair a correr do solário apenas para não dar ao barão a satisfação de pensar que a humilhara outra vez.

      – Gabriella! – protestou Chalfront, estendendo as mãos num gesto de súplica.

      O barão ergueu uma mão para o silenciar, com os olhos levemente sorridentes.

      – Parece, Chalfront, que esta jovem prefere ser minha criada.

      Ele colocou uma ligeira ênfase na palavra «minha», o que fez com que Gabriella se virasse para ele com o olhar fulminante. O que é que Etienne DeGuerre estava a pensar? Que ela faria o que Josephine de Chaney fizera? Por isso, deixara-a sair ilesa do seu quarto, apenas para continuar a provocá-la, convicto de que ela acabaria por se submeter? Nunca!

      – Mais alguém? – perguntou o barão, enfurecendo Gabriella ao máximo. Ele falava como se ela estivesse a ser leiloada pela oferta mais alta. – Bem, já que ninguém a quer como esposa...

      – Não há aqui ninguém que eu escolhesse!

      – Tu terás de permanecer como serva neste castelo até que a dívida da tua família seja paga – continuou o barão, como se a opinião dela de nada valesse. – Agora, podes ir, Gabriella.

      Ela enfrentou, durante um momento, o olhar do barão, depois olhou para Osric, hesitante. Talvez, se ameaçasse contar ao barão o que sabia sobre as actividades ilegais de Osric, este encontrasse uma forma de arranjar o dinheiro. Em seguida, porém, ela lembrou-se das penas que eram aplicadas aos invasores de terras e decidiu ficar calada; não queria conquistar a sua liberdade às custas dos dedos ou dos olhos de um homem.

      Ignorando Gabriella, Etienne DeGuerre virou-se para o capataz.

      – William, é um direito teu recusares-te a jurar lealdade a mim, desde que te prontifiques a deixar a minha propriedade para tentares a sorte em algum outro lugar. O que é que desejas fazer?

      O capataz tornou a ajoelhar-se e, com o olhar fixo no chão, declarou:

      – Eu juro ser leal ao barão DeGuerre.

      Etienne olhou friamente para os outros dois homens, enquanto Gabriella se dirigia vagarosamente para a porta, com o coração apertado pela angústia e pelo desapontamento, embora ainda com uma ténue esperança de que um deles mudasse de ideias.

      – E eu, milorde – disse o cavaleiro. – Juro o mesmo.

      – Milorde, eu juro o mesmo – disse por último o lenhador.

      – Foi o que eu imaginei que vocês fariam – respondeu o barão DeGuerre, enquanto Gabriella saía do solário. – Podem comunicar aos arrendatários que, a partir de amanhã, as rendas vão ser mais caras.

      – Bem, agora já sabes que isto não pode ser lavado com sabão – disse Josephine de Chaney a Gabriella, alguns dias depois, segurando uma fina écharpe de seda de um tom muito claro de azul. O seu tom de voz era gentil, enquanto indicava uma sobrecapa bordada com brocado. – Nem isto. E este vestido jamais poderá ser torcido.

      Josephine apontou para um belíssimo traje de veludo estendido sobre a cama nova, uma pesada peça de carvalho escurecido pelo tempo, com o mais espesso colchão de plumas que Gabriella já vira. Ela deduziu que a colcha ricamente bordada fosse obra da própria Josephine. Havia também várias almofadas coloridas, graciosamente dispostas sobre a cabeceira da cama. Gabriella pensou que aquele tipo de decoração seria mais adequado a um harém de um potentado oriental do que a um quarto de um lorde normando. Até mesmo o seu pai teria considerado aquilo uma extravagância.

      O piso de mármore fora coberto com espessos tapetes de lã, em tons de vermelho, verde, azul e roxo. Outras peças de mobília tinham sido descarregadas das carroças, incluindo uma cadeira estreita e delicada que Josephine colocara diante da penteadeira, e um enorme castiçal, com vários suportes.

      Gabriella perguntou-se se o dinheiro