Margaret Moore

Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro


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com força, obrigando Gabriella a cambalear para a frente. Antes que ela tivesse tempo para dizer alguma coisa, Philippe recuou e riu, baixinho.

      – Também vou querer que laves as minhas roupas.

      – Philippe!

      A voz do barão reverberou no ar. Gabriella estivera tão absorta, primeiro com Chalfront e depois com Philippe de Varenne, que não vira o barão chegar na ponte levadiça. Ele estava montado no seu cavalo negro e acompanhado por Sir George e uma pequena tropa armada. Como de costume, estava trajado de preto e não usava jóias. A capa mandada para detrás dos ombros revelava o peito musculoso e a espada embainhada junto à perna.

      Sir George usava uma capa azul brilhante, debruada a vermelho, sobre uma túnica vermelha e dourada, e umas calças de malha azul. Ele lançou a Gabriella um sorriso simpático, que pouco contribuiu para lhe diminuir o constrangimento.

      – Adieu, Gabriella – disse Philippe, estreitando os olhos e curvando os lábios para baixo, antes de se afastar na direcção do barão, que os observava com uma expressão impassível.

      Gabriella, abraçada à túnica, olhou adiante de Philippe, para o homem que a colocara em posição de ser obrigada a aturar os modos rudes de Philippe de Varenne, e depois girou nos calcanhares, caminhando com firmeza e determinação de regresso ao castelo.

      Dois dias depois, sentado no solário, Etienne esfregou as têmporas que começavam a latejar, enquanto contemplava a papelada espalhada sobre a mesa à sua frente. Ele tentava concentrar a atenção na última pilha de listas, escrituras, recibos e registos referentes à nova propriedade. Seria bem mais fácil se o seu procurador pudesse deixar a outra propriedade e ir para o castelo, para se encarregar da contabilidade.

      A questão não era somente o facto de o falecido conde ter sido generoso em excesso, e também um administrador relapso, e de ter levado o meirinho a sentir necessidade de registar cada centavo gasto ou recebido; a leitura por si só esgotava a paciência de Etienne, uma vez que, para ele, ler era uma dificuldade. Etienne aprendera a ler quando já era um rapaz crescido, mais por necessidade do que por desejo, e preferia mil vezes passar os dias a enfrentar as lanças dos inimigos do que a tentar decifrar aquelas letras e números rebuscados.

      Nos últimos dias, Etienne passara várias horas a examinar as listas de produtos e a contabilidade dos arrendatários, supervisionando a compra e a entrega de mantimentos e móveis, cavalgando pela propriedade à procura de animais não registados, e encontrando vários, todos eles, obviamente, as melhores cabeças dos seus donos. Ele também providenciara o arranjo do moinho e a reforma do celeiro, uma vez que, aparentemente, o falecido conde, tão meticuloso na construção e decoração do castelo, negligenciara as dependências externas da sua propriedade.

      Etienne previa que as invasões seriam um problema, pois os seus homens tinham encontrado várias armadilhas nos bosques do castelo. Não havia pistas de quem as tinha preparado, ou se eram obra de um homem sozinho ou de um grupo. Quem quer que estivesse a infringir a lei, quando fosse apanhado, amaldiçoaria o dia em que tentara fazer aquilo na propriedade do barão DeGuerre.

      Do lado de fora, a chuva caía a cântaros, o que significava que todos os homens se encontravam reunidos dentro do castelo, em vez de estarem a caçar no bosque, ou a treinar as suas habilidades marciais nas pradarias próximas, ou no pátio interno. Etienne podia distinguir-lhes as vozes, no salão; Philippe provocava Seldon, por causa de uma serva avantajada com quem este se engraçara. Se Philippe não tivesse cuidado, acabaria com o nariz partido. E seria bem feito, pensou Etienne; talvez isso, pelo menos, o curasse da sua vaidade exagerada.

      Mais uma vez, Etienne lembrou-se de Gabriella e Philippe, na margem do rio, de como ela ficara zangada, e com razão, e de como parecera atraente, com o cabelo espesso e encaracolado a emoldurar-lhe o rosto corado, e os olhos castanhos brilhantes, a expressão de desafio, a segurar a sua túnica contra os seios perfeitos. Por um momento, Etienne invejara a túnica.

      Ele tinha curiosidade de saber o que é que Philippe dissera a Gabriella, embora não fosse difícil adivinhar; tendo assistido à cena à distância, ele quase pudera deduzir cada palavra. Mas o barão não tinha dúvida de que podia controlar o jovem cavaleiro ainda durante algum tempo, esperando que a ambição de Varenne o levasse em breve a procurar outro amo.

      Etienne lamentava que as circunstâncias tivessem relegado Gabriella Frechette a uma posição tão vulnerável, mas isso era algo que não podia ser evitado. Ele fizera o possível para a persuadir a partir, e ela recusara; agora, teria de arcar com as consequências.

      Etienne suspirou, voltando a atenção para os documentos. Logo em seguida, contudo, a sua concentração foi novamente interrompida pela voz debochada de Philippe, o tom sério de Donald e a calma intervenção de George. Antes que ele conseguisse discernir o motivo da altercação, as vozes silenciaram-se. Como sempre, George conseguira aplacar os ânimos. Felizarda a mulher que viesse a casar-se com George; ele seria um excelente marido, embora Etienne duvidasse que algum dia aquele jovem indiferente fosse persuadido a tomar tal decisão.

      Um riso feminino soou nalgum lugar próximo ao solário, e Etienne reconheceu a voz melodiosa de Josephine. Ela mantivera-se ocupada, desde o dia em que chegaram, a decorar o salão e o quarto. Etienne sabia que ela estava a tecer mais um tapete para o quarto que já se encontrava adequadamente mobilado e aconchegante.

      Etienne olhou ao redor do solário, reparando, satisfeito, nos batentes trabalhados e na chuva que batia contra as vidraças. Aquelas medidas decorativas eram, sem dúvida, extravagantes, mas ele estava a começar a acreditar que valia a pena pagar o preço pelo conforto; dentro de limites razoáveis, claro.

      Chalfront, com a expressão de um cão espancado, entrou no solário, carregando mais rolos de papel. Etienne já começava a compreender por que é que era difícil gostar de Robert Chalfront. O homem não tinha personalidade, e era tão subserviente que o barão às vezes se sentia tentado a sacudi-lo. O meirinho nunca expressava uma opinião, parecendo sempre disposto a obedecer a ordens. Era de admirar que conseguisse decidir sozinho o que vestir a cada manhã! Por outro lado, era responsável e meticuloso, dedicado ao trabalho e à propriedade, como se esta lhe pertencesse. Talvez, se Chalfront possuísse uma personalidade mais forte, o conde não tivesse sido tão explorado pelos arrendatários.

      Com um suspiro, Etienne esticou o braço para pegar no cálice de vinho, antes de indicar ao meirinho que se sentasse na cadeira oposta à enorme mesa sustentada por um cavalete.

      – Tu tens, sem dúvida, tudo minuciosamente documentado – observou, fazendo das suas palavras um elogio, em vez de revelar frustração. – Diz-me, quantos aldeões se encontram ad censum?

      – Vinte e dois pagam as suas rendas em espécies, milorde – apressou-se Chalfront a responder. – David Marchant, o moleiro, é quem paga mais, cinquenta xelins por ano. John, o ferreiro, é quem paga menos, dois ceitis. Os outros estão aqui relacionados.

      Ele desenrolou uma das listas que acabara de trazer.

      – E estes? – Etienne apontou para um outro grupo de nomes, na mesma lista.

      – Esses são os aldeões ad opus. Ao lado de cada nome, verá que anotei o rendimento esperado, por semana e por ano, milorde.

      Etienne assentiu com a cabeça, antes de passar os olhos pelo papel.

      – Parece que gostas realmente de fazer relatórios, Robert.

      – Gosto de ter as coisas em ordem, milorde – respondeu Chalfront, respeitosamente. – Aliás, eu gostaria de chamar a sua atenção para as minhas anotações relativas às taxas e impostos do moinho e dos direitos de...

      – Estou com uma dor de cabeça – interrompeu o barão, sem mentir.

      Ele pegou num documento com um selo elaborado, e outro com um selo menor.

      – Esta é a minha Carta de Escritura – explicou, indicando o primeiro. – Especifica as terras, serviços e rendas que devo receber. E esta é a Carta Consuetudinária, que descreve as obrigações e direitos dos arrendatários, e que encontrei