Margaret Moore

Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro


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transtornado? – indagou Philippe, enchendo mais uma vez o cálice. – Vai continuar a ser o meirinho. Por enquanto.

      – Eu diria que ele se preocupa com a filha do falecido patrão.

      – Mas nada fez para a defender – acusou Donald.

      – Ora, Donald! – murmurou George. – Ele não é um cavaleiro. Eu não me surpreenderia se ele estiver apavorado com o barão DeGuerre. Ela não estava. Quem poderia imaginar que uma mulher tivesse a ousadia de enfrentar o barão?

      – Ele não é um deus – disse Philippe, irritado. – Vocês tratam o barão como se ele fosse o próprio Messias!

      – Tu dizes isso porque estás ao serviço dele há pouco tempo – explicou George, afavelmente. – Nunca o viste lutar. A tua opinião vai mudar muito em breve meu amigo.

      – Talvez – Philippe encolheu os ombros, claramente não convencido.

      – O nosso amigo Donald ainda está a sofrer os efeitos do treino de Fitzroy – acrescentou George, com um sorriso triste. – Os conceitos daquele homem em relação ao sexo fraco são ainda mais exagerados que os do barão.

      – Ah, sim, o famoso Fitzroy! – exclamou Philippe. – Eu gostaria de enfrentá-lo num torneio, um dia destes. Tu lutaste com ele, não foi, Seldon?

      Seldon desviou o olhar.

      – Sim.

      – E perdeste?

      – Sim.

      – Não foi uma competição justa, pelo que me disseram.

      – Cala-te e esquece! – ralhou Donald, levantando-se. – Isso foi há muito tempo, e Seldon já compensou a derrota, muitas vezes, desde então.

      – Claro, claro... acalma-te! – apressou-se Philippe a dizer. – Eu só fiz uma pergunta.

      – Vamos lá, não há necessidade de te aborreceres – apaziguou George. – Afinal, somos todos amigos.

      – Pois para mim, basta por hoje! – disse Donald, inconformado, sem tirar os olhos do rosto de Philippe. – Boa noite!

      Ele saiu do salão a passos largos, seguido, poucos segundos depois, por Seldon.

      – Precisavas de ter dito aquilo, Philippe? – criticou George. – Seldon era praticamente um jovem, quando cometeu aquela asneira.

      – Ele ainda é um imbecil – resmungou Philippe, servindo-se de mais vinho.

      George ergueu o cálice.

      – Que tal um brinde às mulheres, em geral? – sugeriu.

      Philippe ergueu o cálice e bebeu, colocando-o na mesa quando o barão DeGuerre se levantou. Os dois cavaleiros observaram, em silêncio, quando ele murmurou alguma coisa a Josephine de Chaney, cujo rosto não traiu emoção, e depois se encaminhou para as escadas e desapareceu de vista.

      – Um de nós vai divertir-se, esta noite – balbuciou Philippe, com um olhar lascivo.

      – Acho que também me vou levantar. Tu estás a ficar bêbedo, e a deixar de ser uma boa companhia.

      Philippe bebeu um longo gole de vinho e observou, em silêncio, enquanto George se afastava. Não se importava com o que o outro pensava. Eram todos cobardes, curvando-se e arrastando-se diante do barão DeGuerre. Tampouco se importava com o que pensava o barão, reflectiu, bebendo mais alguns goles de vinho. O homem era mortal, como qualquer outro, e nem mesmo nascera em berço de ouro!

      Por que é que as mulheres não viam isso? Por que é que sempre o ignoravam, ele que era um homem nobre, dotado de tantas qualidades, e só se engraçavam pelo barão? Os outros que pensassem o que quisessem, ele tinha a certeza de que era essa a intenção de Gabriella Fechette. Afinal, ela não passava de uma mulher. Uma mulher bonita, atraente, sem um parente do sexo masculino para a proteger. O que ele não daria para estar no lugar do barão, naquele momento!

      Mas o barão que tivesse o trabalho de amansá-la. Ele, Philippe, podia esperar.

      Gabriella esfregou as palmas húmidas das mãos na saia, conforme andava de um lado para o outro, no quarto dos seus pais, a tentar acalmar-se. Cada minuto parecia uma hora, enquanto ela esperava ver o barão surgir na porta do quarto, repetindo para si mesma, quase em pânico, que ele não lhe faria mal.

      Se pelo menos Bryce estivesse ali! Ele salvá-la-ia. Não teria medo de enfrentar o barão, se fosse necessário. Bryce era predisposto a uma luta, quer fosse com o pai, com Chalfront, com o capataz, ou com os mercadores de tecidos. Gabriella perdera a conta às vezes que agira como mediadora, nas discussões do irmão. Mas a sua arte diplomática parecia não funcionar quando se tratava do barão DeGuerre. O que é que acontecera? Ter-se-ia ela sentido segura demais, por causa do próprio orgulho e do apoio dos servos?

      De qualquer forma, Gabriella nunca imaginara que o barão impusesse a sua autoridade através de meios tão baixos. Ela ainda não conseguia acreditar. Mais uma vez amaldiçoou-se pela própria falta de tacto. Custava ter baixado a cabeça ou ter-se mostrado amedrontada, diante dele? Pelo menos, não ter sido insolente?

      Talvez se ela se mostrasse mais submissa, agora, ele a dispensasse. Gabriella ajoelhar-se-ia diante dele e pediria perdão; faria qualquer coisa para salvaguardar a sua honra, que era a única coisa que lhe restava na vida.

      Ela pressionou as mãos frias contra o rosto em chamas. Por que é que ele estava a demorar tanto? Por que é que não vinha logo e acabava de uma vez com aquela tortura?

      Talvez fosse de propósito. O estômago de Gabriella contraiu-se. Ela caminhou até à janela e contemplou a paisagem iluminada pelo luar prateado. Aquelas terras tinham pertencido à sua família, até ao dia em que o seu pai deixara Chalfront assumir o comando.

      Chalfront! Gabriella cerrou os punhos, num gesto inconsciente. Odiava o meirinho com a mesma intensidade que odiava o barão... Com toda aquela conversa fiada sobre ajudar, prestar assistência, sendo que ela sabia que era ele o culpado pelos problemas financeiros do seu pai. Ele devia ter ficado bem satisfeito, ao vê-la ser humilhada pelo barão DeGuerre.

      A porta abriu-se abruptamente, batendo contra a parede, quando o barão entrou, uma figura impressionante, alto, com a túnica preta, os cabelos castanhos a tocarem-lhe nos ombros naquele estilo pagão, e um brilho demoníaco reflectido nos olhos azuis pela chama tremeluzente da tocha que ele trazia na mão que colocou no suporte, na parede.

      Gabriella recuou nas sombras, tentando, desesperadamente, esconder-se.

      O barão olhou ao redor do quarto, até avistá-la. Com um sorriso furtivo, que as sombras lançadas pela chama da tocha tornavam quase grotesco, ele fechou a porta, trancando Gabriella no quarto consigo.

      – Vem cá, Gabriella – murmurou, com a voz baixa, mas num tom de comando.

      Aquele era o momento de pedir misericórdia, pensou Gabriella, em pânico, dizendo a si mesma que deveria ajoelhar-se, implorar, suplicar.

      O orgulho, porém, sobrepôs-se, e apesar do pavor que a dominava, ela não foi capaz de se rebaixar a um gesto tão humilhante.

      Com o sobrolho franzido, o barão começou a desamarrar a túnica. Diante de uma Gabriella atónita e emudecida, ele tirou a vestimenta pelo pescoço e deixou-a cair, numa pilha disforme, no chão.

      O peito dele era musculoso, recoberto de pequenas cicatrizes; os ombros eram largos, os braços fortes, a cintura estreita; os quadris esbeltos e as longas pernas eram delineadas pelas calças justas de malha.

      Com o olhar fixo em Gabriella, ele caminhou até à cama e sentou-se.

      – Vem cá e tira-me as botas, Gabriella.

      Ela não se moveu.

      – Vem cá e tira-me as botas! – repetiu o barão, levantando um pé calçado, como se não admitisse uma recusa.

      Gabriella