semanas. Ele se recusou a dividir minha cama comigo e tinha se instalado no meu sofá. Ele saiu quando Camille lhe disse que praticaríamos fazer poções. Presumi que ele tinha voltado para sua casa na floresta aqui perto, mas não fazia ideia. Eu poderia ligar para ele, mas decidi que era melhor não.
Em vez disso, digitei uma mensagem para Violet e Aislinn, minhas duas melhores amigas. Precisava das minhas garotas aqui comigo. — Violet e Aislinn estarão aqui em breve. Vamos ver o que vovó tinha a dizer.
Camille acenou com a cabeça, mas não disse nada. — Minha querida, Fiona. Se você está lendo isso significa que eu passei desta para uma outra vida… — Eu li em voz alta, mas minha voz falhou e eu continuei a leitura em silêncio. Meu coração acelerou quando li suas desculpas por manter minha herança escondida de mim por tanto tempo.
— O que é uma nicotisa?
Nesta hora Camille perdeu sua compostura e sua boca escancarou. — Por que você está perguntando isso? O que a carta diz?
— Diz que ela e minha mãe selaram o meu poder assim que eu nasci porque perceberam que eu era uma nicotisa. É por isso que minha mãe se mudou daqui, para que fosse mais fácil me esconder.
— Isso explica por que ela e seu pai partiram tão abruptamente. Nunca entendi por que decidiram se mudar para o outro lado do mundo. Não era como se seu pai ligasse para a carreira dele antes. — Camille estava batendo na mesa com um dedo enquanto falava. Coloquei minha mão sobre a dela.
— Oláááá? — Aislinn cantou no andar de baixo, praticamente gritando.
— Estamos aqui em cima — chamei.
— Certo, então o que era tão importante que você me fez fechar a loja mais cedo para o almoço? — A voz de Violet ecoou pelas escadas antes de entrarem na sala.
Eu rapidamente expliquei o que elas tinham perdido e continuei lendo. — É importante que você invoque meu espírito para que eu possa ajudá-la a entender sua transição.
Bem, um pouco tarde para isso, vovó.
— Como ela propõe que você faça isso? — Camille inclinou-se e passou o olho pela página. Pelo jeito que ela acenou com a cabeça, a carta pareceu ter respondido sua pergunta. — Ela é brilhante, mesmo morta, ainda quebra as regras e força limites.
Virei a cabeça para olhar para a minha mentora. — Como assim?
— Isidora tinha um dom para fazer o impossível, mesmo que fosse contra a convenção tradicional — explicou Camille.
Aislinn atravessou a sala e leu a carta por cima do meu outro ombro. — E ela não sabia o significado da palavra impossível. Ela acreditava que sempre havia uma maneira, você só precisava considerar um problema ou feitiço por todos os ângulos.
Violet ergueu um dedo. — Não se esqueça da parte mais importante… você tem que pensar fora da caixa.
Camille se virou e começou a pegar potes de uma das estantes. — Eu não tenho ideia de como ela conseguiu isso, mas ela detalha aqui que precisamos preparar uma poção com euphrasia officinalis, canela, artemísia, violeta africana e goma árabe, entre outros ingredientes.
A maioria dos itens da lista eram familiares, mas eu nunca, num milhão de anos, teria considerado misturá-los daquela maneira. — Bruxas realmente usam olho de salamandra e baço de enguia? O que isso faz na poção? Porque essa combinação parece horrível.
— Eu não gostaria estar no seu lugar, definitivamente — riu Violet.
— Espere. O que você quer dizer com isso? Como assim você não queria estar no meu lugar? — Minhas palavras saíram tão rápido que eu não tinha certeza se alguém poderia me entender.
Aislinn deu um tapinha no meu ombro. — Porque você terá que beber isso quando estiver pronto.
Minha cabeça balançou de um lado para o outro antes mesmo que eu respondesse. — Não, eu dispenso.
Camille me lançou um olhar severo. — Eu não tenho ideia do que Isidora teve que fazer para ancorar sua alma a este plano, mas posso dizer que foi necessário um sacrifício para evitar que ela cruzasse o véu para o outro lado. Eu não vou deixar que isso tenha sido em vão.
Eu engoli o nó da minha garganta. — Não, você tem razão. Vamos começar a cozinhar.
— Bem, essa parte é com você — avisou Violet, enquanto ajudava a pegar ingredientes e os colocava na mesa.
— Não posso, explodirei tudo. É o que eu tenho feito por horas hoje. — Olhei para Camille, que teve a ousadia de rir.
— Você tem que fazer isso por conta própria — disse Camille. — Lembre-se, tenha paciência e meça tudo com cuidado. Estabelecer o equilíbrio certo é o elemento mais importante na hora de preparar uma porção.
Aislinn lia os ingredientes, enquanto Camille ou Violet me entregavam o pote correto e eu derramava ou pegava a quantidade necessária e jogava no caldeirão. Em seguida, acendi e regulei o fogo do jeito necessário para aquecer os elementos enquanto eu misturava no sentido anti-horário.
O líquido borbulhava e fervia. Eu mal contive o vômito que subiu em minha garganta quando olhei para a panela e vi uma fórmula verde escura com pedaços flutuando ao longo da superfície. Minha mão movia a colher de pau enquanto eu tentava não respirar pelo nariz. Cheirava ainda pior do que parecia.
Eu não tinha ideia de como eu ia conseguir jogar essa porcaria goela abaixo. Me lembrei de quando não quis comer couve-de-bruxelas quando era criança, mas agora gostava delas. De alguma forma, eu não achei que este seria um desses gostos adquiridos.
— Como saberei quando estiver pronto?
Camille olhou para a poção que minha avó me deixou. — Quando fica rosa.
— Eu devo ter feito algo errado. Duvido que essa mistura turva vá mudar… — Minhas palavras morreram quando as peças volumosas derreteram no líquido e a poção começou a mudar de cor cada vez que eu girava a colher.
— Caramba, eu amo magia — exclamei e peguei uma colher cheia do que parecia mais uma margarita de morango do que qualquer coisa mágica. Se você ignorasse as faíscas disparando do topo.
— É útil — concordou Violet.
Eu trouxe a colher para os meus lábios e tive que respirar pela minha boca quando o odor pútrido me atingiu. Podia até parecer gostoso agora, mas cheirava a merda. Antes que minha mente pudesse processar, eu derramei uma grande porção goela abaixo.
Minha garganta imediatamente se fechou e eu não conseguia colocar oxigênio nos meus pulmões, depois a coisa inundou meu esôfago e jorrou no meu intestino como uma torrente. O fogo explodiu e se espalhou por mim da cabeça aos pés, ao mesmo tempo que notei que a coisa tinha gosto de minhoca morta na beira da estrada, apodrecendo ao sol.
Depois de vários minutos agonizantes, eu balancei a cabeça e vi Violet e Aislinn pairando perto de mim. — Estou bem. — Minhas palavras saíram mais como um coaxar do que qualquer outra coisa. Peguei um copo d'água, mas Camille o tirou de mim com um aceno de cabeça.
— Você não pode beber nada. Nunca se sabe como outras substâncias vão interferir com uma poção.
Eu fiz uma careta. — Por que isso não podia ter um gosto melhor?
— Toda magia requer um preço. Poções podem machucar e te deixam doente. — Pisquei e olhei para Camille. Ela não poderia ter mencionado isso antes? Como diabos ela esperava que eu vendesse merda para as pessoas sem saber disso? Eu teria clientes reclamando constantemente e querendo seu dinheiro de volta.
— É hora de recitar o feitiço. — A voz de Aislinn me tirou das minhas ruminações.
— Certo. — Eu me concentrava na carta e nas palavras que minha avó escreveu quando notei que eu estava brilhando com uma luz azul. Pelo menos agora