nos levou para fora da rua principal e para a floresta que pontilhava a região. Cerca de três metros da estrada, ela desviou em direção a uma grande árvore de folhagem perene que tinha fumaça saindo da parte de trás. Na frente dela estava um homem baixo e atarracado que se parecia muito com Bruce.
Aquele tinha que ser Gadross, só que ele era um pouco mais alto que o irmão. E seu cabelo era de um tom mais claro de castanho, mas seus olhos dourados eram idênticos. Aislinn se escondeu atrás de um arbusto e eu me abaixei ao lado dela.
Quando olhei em volta do arbusto, não vi Gadross, apenas a árvore. Mais especificamente a casa no tronco. Eu me perguntei como conseguiam esconder a casa dos humanos. Não havia como confundir a porta roxa neon situada na parte inferior do largo tronco. Cerca de um metro acima disso havia um conjunto de janelas de cada lado da base do portal.
Havia fumaça atrás do vidro, mas eu podia ver o que pareciam ser mobílias de boneca em várias cores. Eu tinha um sofá rosa e uma cama amarela para minha boneca quando era criança. O sofá que dava para ver através da janela parecia o mesmo.
Até a casca na base era de um tom mais claro de marrom do que o resto das árvores. O diferencial de cores abrangia o tronco até cerca de quase dois metros de comprimento. Até chegava a ter um V invertido no topo como a borda do telhado de uma casa normal.
Os galhos eram muito mais baixos nesta árvore do que as que a cercavam também. Isso tinha que ser intencional, visto que dava alguma proteção ao segundo conjunto de janelas, que eu não tinha visto até que inclinei minha cabeça para ter um ângulo diferente.
— Vamos dar a volta — sussurrou Aislinn.
Eu assenti e gesticulei para ela ir na frente. Eu poderia chegar lá sem o auxílio dela, mas ela sabia o caminho e independentemente do que ela dissesse, eu aposto que o policial sobrenatural pegaria mais leve com ela se fôssemos pegas.
Minhas coxas imediatamente começaram a reclamar enquanto caminhávamos agachadas no chão. Eu me exercitava regularmente, mas não tinha sido tão consistente como de costume. Tampouco mantive minha resolução de ano-novo de adicionar treinos com agachamentos e coisas do gênero à minha rotina. Minha bunda precisava ser tonificada.
Eu ainda não estava igual uma coalhada, mas era apenas uma questão de tempo. Além disso, como minha filha, Emmie, me disse, minha bunda tinha caído e estava achatando com a mesma velocidade que meus seios estavam despencando para o meu umbigo. Juro que aquelas partes do corpo seguiam o seu objetivo como se houvesse uma torta de limão como recompensa na reta final.
Uma pequena figura correu em nossa direção antes mesmo de chegarmos ao outro lado da casa. — Tunsall?
Lágrimas transbordando de seus grandes olhos verdes, Tunsall olhou para mim com o lábio inferior trêmulo. — Você veio para ajudar?
Minha cabeça balançou para cima e para baixo antes que Aislinn pudesse dizer qualquer coisa. — A gente fará o que puder para te ajudar. O que aconteceu?
O olhar de Tunsall mudou de mim para a parte de trás de sua casa. Notei que a coloração marrom claro continuava a tomar o tronco. Eu não poderia dizer se havia janelas ali, porque toda a parte de trás da árvore tinha sumido. Tive um vislumbre perfeito das brasas e da mobília carbonizada.
— Minha irmã e eu fomos atacadas há uma hora. O fogo disparou pelas janelas e Tierny me jogou pela janela antes de uma bomba explodir. Ela… ela se foi. — O minúsculo brownie começou a chorar e colocou os braços em volta da cintura.
Aislinn colocou alguns dedos num de seus ombros. — Gadross conseguiu descobrir alguma coisa?
Ela fungou e enxugou os olhos com as costas da mão. — Não sei. Ele não disse nada ainda.
— Onde seu pai estava quando isso aconteceu? — Eu examinei a área, mas não vi mais ninguém. Minha audição não era aguçada o suficiente para captar movimentos na área ao nosso redor.
— Ele não foi libertado. Me desculpa, Fiona. Eu sabotei você por nada.
Aislinn bufou. — Eu poderia ter dito a você que ela não o deixaria ir. Pessoas más como ela nunca cumprem suas promessas.
Eu queria defender Tunsall, mas concordava com Aislinn, então mantive minha boca fechada. Tunsall enrijeceu e se afastou de Aislinn. — Eu sei que você tem razão, mas o que você teria feito se ela estivesse ameaçando sua família? Eu não tive escolha.
— Sempre há uma escolha. E o que mais importa é se você poderá ou não viver com sua decisão e conseguir se olhar no espelho no fim. Não há nada pior do que trair sua integridade. Você nunca obtém um alívio da repulsa que sentirá toda vez que se olhar no espelho ou do autodesprezo em sua mente. O que você fez machucou a mim e aos meus amigos, mas eu entendo que você estava fazendo isso para salvar sua família. Só espero que você tenha aprendido a lição nesse processo porque Aislinn está certa, você nunca pode confiar em alguém que não valoriza a vida.
Tunsall abaixou a cabeça. — Eu irei me redimir contigo, eu prometo.
Eu fiz um aceno com a mão para indicar que aquilo não era necessário e caí de bunda. Eu não conseguia mais ficar agachada. Minhas coxas estavam queimando como um pecador na igreja. — Ai! — Levantando uma banda do bumbum, peguei algo oval e vermelho-escuro debaixo de mim. Era iridescente e mais duro do que o aço. Ele brilhou quando o levantei acima da minha cabeça.
— Onde você conseguiu isso? — exigiu Aislinn, enquanto pegava o objeto da minha mão.
— Eu sentei nele. Por quê? O que é isso?
— É uma escama de dragão, mas o que ela está fazendo aqui? — Os olhos de Aislinn saltaram entre a casa de Tunsall e o objeto em sua mão.
Eu li sobre dragões outro dia e me lembrei de algo sobre eles serem capazes de soltarem fogo. — Ah meu Deus! Um dragão fez isso? Por que a Rainha chamaria os cachorros grandes quando ela poderia usar muito menos recursos para se livrar de Tunsall e sua irmã?
— Você tem razão. Um dragão não poderia ter feito isso. Se tivesse sido um, não teria restado nada em pé — explicou Aislinn.
— Faz sentido… Não imagino que eles possam controlar o tamanho da bola de fogo que cospem da boca. — Eu me virei para Tunsall. — Você ou sua irmã irritaram mais alguém?
Talvez a Rainha não estivesse por trás das mortes, afinal. Talvez elas estivessem procurando no lugar errado. A Rainha usou outros em sua trama para roubar meu poder, mas quando se tratava do âmago da questão, ela fazia o trabalho sozinha.
Eu apreciava essa ética de trabalho. E entendia isso. Não havia nada como a satisfação de chocar as pessoas e provar exatamente do que você é capaz. Especialmente quando as pessoas te subestimam ou julgam com base em algo como o seu título. A maioria pensaria que uma rainha nunca sujaria as mãos. Assim como poucos médicos me consideravam capaz de conectar pacientes à ECMO quando geralmente era o trabalho de um médico.
— Eu e minha família somos muito reservados. Nem sei como entramos no radar da Rainha para ser sincera. Eu achava que era porque Isidora confiava em nós e sempre permitiu passagem livre por Pymm's Pondside. Agora já não faço ideia.
— Talvez tenha sido a Rainha — arrisquei. — Esta escama pode ter sido plantada aqui para despistar.
— Há uma maneira de testar essa teoria. Você sente a presença dela aqui? Depois de seu encontro com ela, você deve ser capaz de detectar vestígios de sua presença — informou Aislinn.
Respirando fundo, fechei meus olhos e foquei nos elementos ao meu redor. Inicialmente, o poço mágico que eu tinha me acostumado a convocar era um leito de lago seco. Dentro de alguns segundos, o poder gotejou e me preencheu.
Sem ter uma pista, concentrei-me na terra, depois nas plantas e árvores, e depois nos seres próximos. Meu dedo formigava com cada novo elemento. Eu estava cercada por todos os elementos e eles adicionavam outra camada à magia que carregava em