um homem de idade vestindo roupas de um imperador chinês. Para além disso de acordo com a lenda, ele tinha uma pérola mágica que controlava as ondas. Muitas vezes era retratado juntamente com a sua pérola. Mas ao mesmo tempo, a imagem de Ryūjin era sempre um pouco diferente da anterior. Neste caso era retratado com uns longos cabelos e barbudo. E nos seus ombros estava um polvo ou então um pequeno dragão.
Também se pensava que Ryūjin tivesse poderes sob dragões marinhos e outras criaturas aquáticas. Acredita-se que é detentor de uma enorme fortuna e é a criatura mais abastada do mundo. Ryūjin vivia num lindo palácio de cristal, Ryūgū-jō, que se encontra no fundo do mar.
Por vezes, Ryūjin vinha até à superfície transformado num homem. E era bastante atencioso para as lindíssimas mulhes que viviam na terra. Como resultado destes encontros, nasceram crianças com cabelos negros, olhos verdes e habilidades mágicas.
Embora o Lorde dos mares fosse chamado de Ryūjin, o seu verdadeiro nome era Ōwatatsumi. Foi através destes nomes que surgiram as lendas da antiguidade "Kojiki" e "Nihon Shoki". Só muito mais tarde as pessoas o começaram a chamar de Ryūjin.
Havia várias lendas relacionadas com o Deus do Mar. Por exemplo, uma delas conta como dois dos netos do supremo Deus do Sol, um pescador e um outro caçador, decidiram trocar os seus ofícios. Mestre eles querem trocar será que podem?
O caçador tentou pescar, mas perdeu o anzol encantado do irmão no mar. Como forma de recompensar o seu irmão pela sua perda, ofereceu-se para forjar quinhentas espadas iguais à sua, e depois mil anzóis. Mas o pescador não concordou com tal decisão.
Entristecido o caçador sentou-se à beira-mar, sem saber bem como recuperar o anzol do seu irmão do leito marinho. Subitamente, o Deus das Marés apareceu e perguntou-lhe o que o tinha deixado tão aborrecido? Ele contou a sua história ao Deus das Marés. Ao ouvi-lo ele encontrou uma solução de imediato. O Deus das Marés acenou-lhe com um cesto especial, lá colocou o caçador pouco afortunado, e deixou-o cair até ao fundo do mar.
Na sua caminhada pelo fundo do mar chegou até ao palácio do Deus do Mar. Onde conheceu a filha deste, a lindíssima Princesa Toyotama. E apaixonaram-se. Ao saber disto o Deus do Mar anunciou o casamento. Mandou colocar centenas de mesas e convidou todos os habitantes marinhos para a festa.
Depois disso o caçador viveu com a sua amada mulher num clima de amor e harmonia durante três anos, esquecendo-se completamente do porquê que o levou até ao fundo do mar. Foi então que se lembrou de tudo e contou toda esta história ao Deus do Mar. Que a ouviu e ordenou aos peixes que o encontrassem e devolvessem. Rapidamente encontraram o tão estimado artefacto.
Foi aí que o Deus do Mar lhe entregou duas pérolas ao seu genro: que controlavam as marés. E ensinou-o a usá-las. Também ensinou ao Caçador um feitiço especial que este poderia usar para reassegurar o seu irmão caso alguma coisa corresse mal.
Depois disto o Caçador montou-se nas costas de um crocodilo e foi para casa. Ao chegar a terra, o caçador fez as pazes com o seu irmão o Pescador. Pouco depois chegaram a mulher do Caçador, a princesa Toyotama, juntamente com uma criança. E viveram felizes para sempre.
...E isto era tudo o que Ōi sabia sobre Ryūjin. Agora preocupavam-na perguntas mais importantes. Mais precisamente, uma curiosidade que nunca tinha sentido antes.
"Shotaro," perguntou ela, ao olhar atentamente o seu amigo, "mas se tu renasceste, não era suposto esqueceres a tua vida anterior?"
"Isso é o que acontece por norma," respondeu calmamente. "Mas eu lembro-me de tudo da minha vida anterior. A única coisa da qual me esqueci foram alguns detalhes relacionados com o submundo. Exatamente como o meu pai, Ryūjin, já me explicou, algumas crianças que renascem como dragões muitas vezes lembram-se das suas encarnações anteriores. Isto deve-se ao facto de que algo durante o processo de renascimento é desrespeitado. Pois considera-se que renascer como um dragão é considerado difícil e muitas vezes falha e não ocorre. Por falar nisso nesta vida o meu nome também é Shotaro."
"Um, ok," disse a Ōi pensativa.
E a rapariga pensou:"Enganaram-se em todo o lado até mesmo no Submundo. Quem podería imaginar tal coisa!"
De facto, este erro involuntario acontecer animou-a mais do que nunca, e sorria de felicidade. Estava deveras feliz por Shotaro se lembrar dela.
"Estou tão feliz que não te tenhas esquecido de mim," disse ela ao abraçar o dragão que descia até ao chão pela sua cabeça gigantesca. "Também te lembras da Satsuki?"
"Claro que sim eu disse que me lembrava de tudo exceto do Submundo. Também já visitei os meus pais da minha vida anterior. Provavelmente vão pensar que foi apenas um sonho."
"Sim, os adultos têm menos fé em milagres... Sabias que a Satsuki foi vendida ao distrito da luz-vermelha para pagar dividas?"
Por momentos o dragão ficou petrificado. Ele não sabia dessa parte. Uma tristeza desmedida estava espelhada nos seus enormes olhos negros que mais tarde se alastrou a toda a sua face.
"Eu não sabia," disse ele. "Hoje foi o primeiro dia que tive autorização para sair do reino Submerso e vir até aqui, ao Mundo dos Sonhos, foi para te visitar a ti Ōi e aos meus pais. Também queria visitar a Satsuki, mas agora já não sei onde ela está."
"Em Yoshiwara, onde mais é que ela podia estar?" suspirou a menina. "É pouco provável que a tenham levado para o distrito da luz-vermelha em Kyoto ou Osaka - eles ficam muito longe."
As memórias do triste destino que a sua amiga teve magoavam-na profundamente. Muitas vezes sentia-se ressentida consigo própria e perguntava-se qual o porquê dos pais venderem a sua filha. Pois se amassem todos os filhos por igual nunca o teriam feito.
Entretanto o Shotaro disse:
"Ōi, eu só consegui vir até aqui porque sabia exatamente onde tu moravas. Para encontrar a Satsuki temos de saber ao certo onde é que ela está em Yoshiwara. Achas que a conseguimos encontrar?"
"Claro que sim! A propósito o que farias se eu tivesse me mudado?" Era uma pergunta lógica da parte da menina.
Ela estava super curiosa sobre qual seria o próximo passo do dragão. Depois de uma curta pausa, Shotaro respondeu:
"Não sei; Não pensei sobre isso. Apenas acreditei que te iria encontrar."
Subitamente as suas expressões iluminaram-se quase como se de um despertar se tratasse.
"Claro!" exclamou ele. "Existe uma solução!"
"Qual?" Ōi estava espantada.
Shotaro, com o auxílio da sua pata, removeu cuidadosamente uma escama que entregou à voz que o indagava.
"Fica com ela," disse ele. "Esta escama é parte de mim, e desde que a tenhas, eu vou sempre conseguir encontrar-te."
A Ōi recebeu cuidadosamente a escama prateada translúcida, um pouco mais pequena que a sua mão de criança. Olhou surpreendida para o seu amigo.
"Desta maneira eu vou sempre conseguir encontrar-te onde quer que estejas," explicou Shotaro. "Agora vamos procurar a Satsuki em Yoshiwara! Eu também lhe vou dar uma escama, e assim vamos sempre conseguir encontrar-nos no Mundo dos Sonhos!"
"Sim!" Ōi apoiava-o alegremente.
Tinha apenas um pensamento na sua mente:"Vou ver a Satsuki de Novo! Espero que ela esteja bem!"
A Ōi sentia-se alegre e excitada ao mesmo tempo. Mas e se a Satsuki não a reconhecer? Ou se lhe aconteceu alguma coisa? Não pode ser, ela vai estar a são e salvo! Não poderá ser de outra forma!
Entretanto o Shotaro estendeu uma pata a jeito de convite e disse:
"Sobe para as minhas costas Ōi. Vamos voar até Yoshiwara!"
"Sim!" respondeu a menina, que se apressou a subir para as costas do dragão.
E poucos minutos depois estavam a voar pelos céus literalmente. A Ōi sentia a força do vento. Ela estava assustada,