Massimo Longo

Um Quarto De Lua


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permite a ninguém para aproximar-se suficientemente ao seu coração, às vezes questiono-me o que sente por nós. É tão esquivo quando tento abraçá-lo…

      - Giulia, os menininhos não querem mais os mimos da mamã, mas estou certo que nos ama sempre, só que não encontramos mais a chave certa para comunicar com ele. Temos de encontrá-la. Temos de desvendar um modo para despertá-lo. Pensei se falarmos com a Ida, ela tem dois meninos, quiçá pode nos dar algum conselho.

      - Temes que esteja a seguir o rumo de Libero? Tens receio que seja um distúrbio psicológico hereditário? - perguntou Giulia.

      - Não, Libero teve problemas diferentes, ligados à morte do seu pai, mas tem uma base comum e a experiência de Ida pode ser-nos útil, fez milagres com aquele garoto depois de ter-se transferido para o campo. E sozinha pois! Com a fazenda por tomar conta.

      - Sim, fala com ela tu, confio na tua irmã, tem um modo de ver as coisas que me agrada.

      - Quando é que teremos a caderneta de notas? - perguntou Carlo à esposa.

      - No dia 19 de Junho…

      - Muito tarde para decidir o que fazer, peça um encontro com a docente de italiano, devemos decidir para onde mandar as crianças, seja o centro estival como a colónia não aguardam até àquela data - propôs Carlo.

      - Sim, tens razão. É melhor estarmos certos da situação, ainda que Elio não está pois mal na escola. Só que, como em tudo aquilo que faz, não mete entusiasmo. Sabes que hoje chegaram os novos vizinhos do segundo andar? Parecem boas pessoas. A senhora Giovanna me disse que transferiram-se para aqui vindo de Potenza. Claro, uma boa distância! Não serão fáceis para eles os primeiros dias. Têm um filho da idade de Elio, poderia convidá-lo para vir aqui em casa algumas tardes…

      Giulia deu-se conta de que Carlo, deitado no sofá, já estava adormecido.

      - Olha vamos para cama amor - lhe sussurrou acordando-o carinhosamente.

      Segundo Capítulo

      Obcecava-o com um sussurro gélido

      Elio estava parado no passeio em frente da escola. Todos passavam velozes como uma flecha em volta dele, lançando-se para os carros dos pais ou então caminhando em grupo pela rua que dava a casa. Ele, na esperança que a mãe não tivesse ido embora depois da conversa com o professor de italiano, olhava atordoado para a direita e para a esquerda, como quem está a procura da salvação representada pelo automóvel da mãe.

      O largo da escola ficou vazio em pouco tempo e Elio teve que resignar-se e dirigir-se para casa a pé. Não era do seu agrado mover-se e ainda mais, regressar por aquela maldita alameda de tílias, que separava a escola da sua casa.

      Esperou ainda alguns minutos, depois encaminhou-se lentamente. Ordenou ao pé para levantar-se, algo que para alguém pode parecer simples, mas para Elio, que já há anos raramente comunicava-se com os seus membros, parecia uma barbaridade.

      Começou o percurso virando para a esquerda pela rua do Corso e assim que descreveu a esquina, viu-se diante de um troço mais desagradável. A avenida estava calcetada por aquelas que, para qualquer pessoa, pareceriam maravilhosas tílias floreadas que, graças ao vento, espalhavam o seu perfume em todo o bairro. Passo após passo, com fadiga, encaminhou-se ao longo do renque de árvores, sentia a sensação desagradável de estar a ser seguido.

      Virou de repente e lhe pareceu de estar a ver um animal, todo preto, a recolher-se atrás de uma érvore.

       “Não pode ser” dizia de si para si “pareceu-me que aquele estranho cão feroz tivesse um pince-nez/luneta de mola!”.

      Pôs-se em marcha assustado, lhe parecia de estar a ver pequenas sombras atrás das árvores. como se isto não bastasse, o vento soprava entre os ramos, obcecava-o com um sussurro gélido que chagava até às orelhas dele e, mais precisamente, encravava-se no cérebro.

      Não conseguia entender o que significassem aqueles sons. Possuido por aquela sensação desagradável, mandou o seu corpo para tentar correr. Estava a suar, mais corria mais os sons pareciam estar a persegui-lo e as sombras aproximarem-se.

      Acelerou o mais possível, ouviu uma voz feroz que lhe intimava para parar, virou de repente, outra vez ainda lhe pareceu de estar a ver algo preto a esconder-se atrás de uma árvore ali próxima. Já tinha quase chegado na esquina que o teria guiado fora daquele pesadelo.

      Sentiu um sopro a passar-lhe rente pela nunca, virou sem cessar de correr, algo o atingiu como uma fúria e o atirou para o chão.

      Elio, transtornado, entrincheirou-se tapando-se a cabeça com as mãos.

      Naquele mesmo instante ouviu uma voz familiar chamá-lo:

      - Elio! Elio! Que asneiras estás a arranjar?

      Era a irmã que ralhava com ele chateada porque a tinha atropelado. Gaia deu-se conta de que Elio estava numa condição incómoda.

      O seu tom ficou mais calmo:

      - Como estás?

      Elio, ouvindo a sua voz, abriu os braços e levantou a cabeça.

      Gaia notou o seu rosto assolado, pálido mais que o habitual e suado. Reflectiu um instante sobre o porquê estivesse a correr, coisa insólita para ele. Lhe pareceu que estivesse a fugir de algo ou de alguém e o ajudou a levantar-se.

      - Por que estavas a correr daquela forma? - interrogou-lhe - o que te assustou?

      Gaia não se lambrava de tê-lo visto a correr nos últimos anos. Elio não respondeu, queria apenas distanciar-se o mais rápido possível daquela rua. Assim, sem dizer nada, descreveu a esquina.

      Gaia o perseguiu preocupada.

      - Elio! - Voltou a chamá-lo.

      - Não é nada! - respondeu de forma grosseira Elio - Não é nada!

      A preocupação de Gaia se transformou em raiva pelo seu comportamento:

      - Nada, dizes? Acabaste de me atropelar e dizes nada!

      Elio, para evitar futuros choques que comprometessem o seu físico já arrasado desculpou-se.

      - Perdoa-me - disse.

      Estas desculpas superficiais irritaram ainda mais Gaia que, apesar de tudo, não se distanciou do irmão, naquelas condições continuava a preocupá-la.

      Domingo de manhã, Carlo e Giulia tinham finalmente tomado uma decisão, falavam esperando apenas para comunicá-la aos rapazes que ainda dormiam.

      - Foi realmente gentil ao dar-nos esta proposta, esperamos que as crianças não se metam em sarilhos - disse Giulia sorrindo.

      Fazer aquela escolha tinha sido difícil, mas ela e Carlo sentiam uma estranha euforia agora que tinham decidido.

      - Gaia será fácil - disse Carlo - Elio verás que permanecerá impassível como sempre.

      - Não sei, Gaia tem muitos amigos na colónia, criar-lhes-á dissabores se não for, Elio, diferentemente, a detesta - comentou Giulia.

      - Eu não aguento mais, vou agora despertá-los - propôs Carlo determinado e diridiu-se para os aposentos dos filhos chamando-os.

      Não deu sequer a eles o tempo para lavar a cara.

      - Eu e a mamã decidimos o que farão este verão. As aulas acabam na sexta-feira e sabado de manhã estarão na estação com uma linda maleta na mão!

      - Mas para a colónia parte-se dentro de quinze dias! - referenciou Gaia preocupada reparando a mãe que a partir da porta da cozinha seguia a cena que estava a desenrolar no corredor.

      - De facto, não irão para colónia este ano - esclareceu Giulia confirmando os receios da filha - Pensamos em vos oferecer um verão como aqueles que viviamos nós quando garotos.

      - E então como é? - perguntou Gaia enquanto Elio permanecia em silêncio com ar