momentos de desenfreamento do ano. Condenados ao jejum e à morigeração dos costumes os novos Cristãos tinham-se refugiados nos cantos populares os quais, tendo o mérito de serem cantados na língua nativa, eram facilmente compreensíveis para todos. A igreja na verdade obrigava a plebe para aprender à memória Hinos em latim, e as celebrações eram conduzidas entre um povo triste e ponderado que se esforçava para mastigar as palavras das quais não compreendia o sentido.
Muitos Bispos Paleo/Antigos – Cristãos opuseram-se a este estado das coisas, como por exemplo S. Ambrogio que precisamente adaptou o texto VENI REDEMPTOR GENTIUM às músicas populares de origem pagã de forma que o povo, mesmo não conhecendo o texto, pudesse pelo menos cantarolar a seu modo a canção. Mas foram casos isolados. Entre anátemas e ameaças de excomunhão a Igreja Católica conseguiu compor uma verdadeira antologia musical que se impôs ao povo e que conseguiu arrastar até á Idade Media. E não certamente entre a satisfação geral. Nos primórdios de 1200 a gente tinha perdido a vontade de festejar o Natal, e o nascimento do Nosso Senhor passava apática dentro de famílias amuadas, cuja única transgressão consistia finalmente em poder comer um pedaço de carne, depois do longo jejum do Advento. Pois apercebeu-se que um dos Santos mais atentos e reformador do Catolicismo, Santo Francisco de Assis, que pensou em exumar a defunta alegria para reaproximar o povinho ao Céu.
FOTO 2. Frequentemente Francisco participava nas representações teatrais do Natal, colocando à noite profunda na criança acabada de nascer sobre uma manjedoura e celebrando ao mesmo tempo a Santa Missa. De tal forma que o pobrezinho ignorante vinha informado sobre os mistérios do Nascimento de Jesus e da Virgindade de Maria de forma simples e eficaz.
Compreendendo as dificuldades dos pobrezinhos, ele criou uma espécie de celebração viva do nascimento de Jesus, contado de Cabana e tais protagonistas, diferentemente daquilo que se crê, não estavam ali imóveis a deixar-se admirar porém cantavam as estrofes tradicionais jamais declinadas com o acompanhamento de gaitas e flautas pastoris, narrando sem delongas a história da natividade. Tratava-se de uma semana completa de preparação ao Natal com jogos e competições, mas também concursos de distinção para o apetrechamento anual do melhor presépio. Tudo culminava no dia 25 de Dezembro quando se abriam também divertidas danças seja ao ar livre como quando, se o tempo não era propício, na igreja demonstrando a falsidade da crença que as danças em honra do nosso Senhor fossem pecaminosas. É preciso dizer que a igreja não aceitou num primeiro impacto esta inovação mas a fama de santidade de Francisco era tão pura e incontaminada que o Papa deixou efectuar, também o divertido hábito já tinha desembarcada na França, Espanha e Alemanha e tanto fazia aquela publicidade ao Cristianismo que proibi-la teria sido certamente arranjar lenha para se queimar.
FOTO 3. Um dos hábitos mais difundidos na Idade Media Inglesa era festejar o Natal com grandes banquetes onde o prato principal era o pavão vivo. A lindíssima ave vinha preventivamente degolada e esfolada com cuidado, de forma para não desfazer a plumagem, depois vinha recheada com ovos e especiarias e assado. Por fim vinha “revestido” pela sua pele e ornado de ouro. Chegados na América nos Frades peregrinos substituíram quase logo a seguir o pavão pelo peru, que tornou-se o símbolo gastronómico do Natal Americano.
Assim, ao lado dos Hinos da igreja rigorosamente em latim, na Europa começou-se a festejar o Natal com canções vulgarmente, cada vez mais cuidadas e complexas, que vinham depois levadas por aí por menestréis e pastores que as ensinavam ao povo. É francês o termo CAROL, que indica precisamente o canto profano relacionado ao Natal muitas vezes acompanhado por danças e festas. Não temos nada escrito sobre os primeiros cantos populares da remota Idade Media, pois que as carols difundiam-se oralmente e os doutos não as transcreviam de algum modo.
A mais antiga que se recorda vem da Inglaterra, é datada em 1470 e é a primeiríssima versão de I SAW THREE SHIPS. Devo dizer que a Inglaterra foi líder no sector das canções de Natal, com um povo entusiasta e bem organizado que produziu os primeiros cantores solistas, chamados WAITS (isto é aqueles que esperam). E esperam todo o ano já que, acompanhantes de músicos consagrados, andavam por aí, por vários povoados levando a música do Natal e vivendo de esmolas. Tratava-se dos primeiros Artistas de Rua que a tradição recorda e, quando chegavam, traziam alegria juntamente com as Boas Novas. Com o Natal à espreita voltavam para o povoado de origem, onde notáveis dos povoados os acompanhavam cantando em público com eles.
Eis então que os WAITS tornaram-se waitnight na medida em que, trajando roupas dos pastores, estavam fora a cantar toda a noite observando as estrelas, recordando uns primeiros pastores que enchiam a cabana de Jesus. Um hábito certamente não salubre e vista a rigidez do clima, que provavelmente estimulou a criação dos primeiros presépios de madeira à volta dos quais se reuniam todas as famílias na véspera da noite de natal ou até toda a população de uma aldeia, quando eles vinham realizados à grandeza natural. Encontrava-se para estes “presépios gigantes” um grande estábulo e aqui num único golpe preservava a saúde física e aquela espiritual. A tradição intensificou-se ao ponto que as Igrejas da Europa apetrecharam-se, permitindo ao povo de festejar o Natal mesmo com as próprias canções. Houve pois um período em que, mesmo continuando a dizer missa em latim, aos coros canónicos foram acrescidos aqueles populares os tais, narrando vulgarmente o nascimento de Jesus, não eram mais pecaminosos. Um povo feliz enchia portanto as Igrejas que, sendo preciso, resplandecia de milhares de velas: ou melhor, duplamente feliz, visto que os círios, realizados em sebo de animal, uma vez apagados vinham oferecidos às centenas de fiéis ávidos que… as consumia logo depois da função! Eh sim, a vida era dura na Idade Media!
Os tempos para a satisfação de Natal foram seja como for breves: Santa Inquisição na Espanha e na Itália foi severa com os cantos e danças que, vindo do demónio como tentação para a carne, foram novamente proibidos e combatidos. A Alemanha e a Inglaterra, abraçando a nova vaga do Protestantismo, fizeram cair as populações na austeridade mais profunda. Até a Catolicíssima França, enfim oprimida por reinantes de origem Espanhola que precipitavam-se ali para casamentos políticos armados de crucifixos e rosários, perdida a sua natureza dançarina. Em toda esta obscuridade o povo não esqueceu as canções de Natal, que vinham pelo contrário cantadas em privado, como forma de pretexto sobretudo na Inglaterra, apesar do CROWMELL e as suas rígidas leis Puritanas tivessem levado a austeridade até nas colónias Americanas.
Em 1730 é denunciado um escândalo pelo Rev. Mather o qual queixou-se de um “deplorável hábito” em Massachussetts Bay Colony onde, na noite de Natal, a gente “jogava cartas, passava o tempo fazendo borga na mesa e entoavam “vulgaríssimos cantos sobre o nascimento de Jesus!” Uma moda que afirmou-se cada vez mais e que, como em toda tradição que se respeita, tem os seus heróis nas pessoas umas centenas de menestréis que, nas barbas das leis inglesas, tinham coleccionado todas as canções populares sobre o Natal da pátria amada antes de desembarcar no novo continente e difundir o verbo! O hábito dos WAITS foi portanto não apenas revista mas pelo contrário melhor estruturada, com verdadeiras encenações teatrais que, no vaivém entre Inglaterra e América, voltou ao ponto de partida. Antes, a maior parte das velhas canções de Natal que ainda hoje, tipo Stille Nacht o What a Child is This? Foram escritas na segunda metade de 1700.
Nivelado o caminho, as grandes Potências adequam-se: em 1822 o deputado e histórico DAVIES GIBERT, publica uma antologia de Antigos Cantos Natalícios, seguindo a rota WILLIAM SANDYS, que publicita algumas canções históricas, como THE FIRST NOWELL o HARK the HERALD ANGELS SING. O golpe final foi dado depois em... época Vitoriana quando a puritaníssima Rainha que cobria por pudor as pernas das mesas com um saiote o teutónico e prestante Príncipe Albert.
Este era um cultor da Velha Música de Natal e dedicou-se para reorganizar as festividades desatando do nó da “celebração fúnebre” e devolver a elas o antigo fulgor. Nasceu daí um Natal em perfeito estilo laico que espalhou a mancha de óleo em todo o mundo, onde a gente não esperava outra coisa. Desde então ao lado dos Presépios e das árvores embelezadas para a Festa, as canções enriqueceram-se