de comunicação modernos, do cinema, do controle sobre eles. Ele entendia bem o poder da sugestão e da repetição. Goebbels tornou-se seu chefe de propaganda.
Claro, talento é ótimo, mas o que realmente importa é que seus apoiadores coloquem você em primeiro lugar – mesmo quando tudo estiver desmoronando. Goebbels foi fiel até o fim. No final de 1945, no bunker, ele e sua esposa envenenaram seus seis filhos e depois se mataram, porque não conseguiam imaginar o mundo sem Hitler. Isso é lealdade. Se você seguiu o manual para tomar o poder – definiu sua missão divina, usou a raiva do povo, criou uma imagem de homem comum e escolheu um símbolo memorável para seu movimento – agora você tem um círculo íntimo fiel. Mas, para dar o passo final rumo ao poder, você precisa da oportunidade de atirar. E, quando ela surgir – não perca.
LIÇÃO7. SAIBA QUANDO ATACAR
A pressão está sempre aumentando. Agora – é a sua hora. E você precisa ter paciência antes de atacar, a capacidade de jogar a longo prazo, de esperar. Confie em mim, e sua paciência será recompensada. Eu vou provar isso! Quando Saddam Hussein era vice-presidente do Iraque, ele passou 10 anos construindo um serviço secreto leal a ele – e só depois o usou para tomar o poder. Josef Stalin passou sete longos anos próximo a Lenin antes que o «pai da nova Rússia» o colocasse no comando. O líder de Uganda, Idi Amin, pacientemente recrutou membros de seu clã Kakwa para o exército, e depois eles o ajudaram a derrubar o presidente.
Hitler quase estragou tudo! Ele não aprendeu essa lição e foi apressado. Em 1923, onze anos antes de se tornar ditador, ocorreu o Putsch da Cervejaria. Hitler tentou um golpe insano e mal planejado. Basicamente, ele tentou levar uma multidão de nazistas às ruas de Munique, sequestrar líderes políticos da Baviera e forçá-los a ceder o poder. Nada era bem planejado: quando saem da cervejaria, são imediatamente recebidos a tiros pela polícia. É um erro colossal.
Hitler é condenado por traição e sentenciado a cinco anos na prisão de Landsberg. É dado como carta fora do baralho. A imprensa no mundo todo espera que Hitler desapareça da vida pública. E ele, de fato, some. Você não ouvirá mais falar dele. Ou será? Agora, ele está com um de seus mais leais aliados – Rudolf Hess. É Hess quem o convence a começar a escrever uma espécie de manifesto, e esse manifesto se torna um livro famoso. Nove meses depois, ele é libertado da prisão. Mas isso não muda sua sorte de imediato. As coisas só pioram.
Os turbulentos anos 1920 foram tempos de autoexpressão e oportunidades: o modo como as pessoas se vestiam, seu estilo de vida, as mulheres ficando mais livres. Foi um período incrível. A última coisa que um tirano iniciante precisa é de um povo feliz. Os anos 1920 foram calmos. Para Hitler, foi uma luta política. Mas, felizmente para ele, os bons tempos não duram para sempre. Em outubro de 1929, a bolsa de valores americana desmoronou, e os mercados ao redor do mundo a seguiram. Logo após o início da depressão, o partido nazista começou a ganhar força. Antes da Grande Depressão, não havia sinais de que eles se tornariam o partido dominante.
Julho de 1932 marcou o pico de popularidade do partido – cerca de 37% – e Hitler, é claro, tornou-se chanceler. O poder de Hitler, ao assumir o cargo, não era absoluto – ainda havia um presidente acima dele. Ele precisava aproveitar qualquer oportunidade para consolidar seu recém-conquistado poder. E nada ajuda mais do que uma boa crise.
O incêndio do Reichstag lhe deu o pretexto. O que pode ser pior do que ver o coração do seu governo queimar até o chão? Mesmo assim, quando Hitler aparece em público, ele não parece chocado, mas estranhamente empolgado. «Vocês estão testemunhando o início de uma nova era na história da Alemanha», diz ele a um repórter. Ele corre para a redação do jornal oficial do partido nazista e trabalha lá até o amanhecer. No dia seguinte, as manchetes culpam os comunistas pelo incêndio do Reichstag. Embora exista outra versão do que aconteceu: muitos acreditam que, na verdade, foram os próprios nazistas – a mando de Hitler – que causaram o incêndio para gerar simpatia pela sua causa.
Ignorando os boatos, Hitler exige que os ministros assinem um decreto de emergência preparado por ele, transformando a Alemanha em um estado policial sob controle nazista. Em seguida, ele o leva ao presidente Paul von Hindenburg. Von Hindenburg não consegue resistir à pressão de Hitler nem ao enorme caos. O decreto oficial dá a Hitler amplos poderes: prender opositores, dissolver todos os partidos políticos exceto o nazista e calar a imprensa.
Hitler procurava qualquer chance de acabar com as liberdades civis, esmagar a oposição – e ele a encontrou. Potenciais ditadores entendem instintivamente: quando as pessoas se sentem ameaçadas, elas procuram por um líder forte e autoritário – e apoiam esse tipo de figura. O palco está montado, e agora é apenas uma questão de tempo. Dezessete meses depois, Hindenburg morre, e Adolf Hitler se torna simultaneamente chanceler e presidente da Alemanha. Apenas 16 anos depois de ter percebido seu destino nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. E isso é só o começo.
Aqueles que chegaram até aqui, parabéns: vocês criaram um movimento e tomaram o poder. Mas agora vem a má notícia: vocês não são mais um outsider. Vocês são os líderes. E isso significa que há um alvo gigante nas suas costas. Então, como consolidar o poder e manter os rivais sob controle? Continuando o caminho do ditador, deixemos que Saddam Hussein responda à pergunta que todo novo e vulnerável ditador se faz: como manter os lobos à distância?
Capítulo II. ESMAGUE SEUS RIVAIS
Então, como você viu: se seguir à risca o manual do ditador, poderá escapar do anonimato e conquistar o controle sobre sua nação. Acredite se quiser, mas tomar o poder é a parte mais fácil. Desde o primeiro dia, você será cercado por inimigos e rivais traiçoeiros. Eles tentarão – e provavelmente com força – acabar com seu regime rapidamente. Essa lição foi aprendida da forma mais dura por um dos líderes mais famosos da história. Caio Júlio César foi assassinado por antigos aliados menos de dois anos depois de se declarar ditador vitalício. Muito distante? Que tal Laurent-Désiré Kabila, do Congo – morto por um de seus próprios «filhos», um soldado que havia saído do controle. Há também Samuel Kanyon Doe, da Libéria – capturado por um grupo rival, foi torturado e assassinado diante das câmeras.
Mas você pode evitar esse destino, se conseguir colocar seus potenciais rivais em seu devido lugar. E ninguém fez isso melhor do que o «Açougueiro de Bagdá». Saddam Hussein governou o Iraque por 24 anos e nunca esqueceu o mantra que todo ditador deve adotar: «Mate ou será morto.» Saddam Hussein era uma fera: sua maneira de se manter no poder consistia em eliminar qualquer pessoa que ele suspeitasse – mesmo que vagamente – de ser um inimigo. Mas, antes de vermos como Saddam usou com maestria o manual para estar sempre um passo à frente de seus adversários, aqui vão alguns fatos sobre como ele chegou ao topo:
Fato 1: Saddam, ainda jovem, era um valentão. Desde muito cedo, ele acreditava no poder da força. Quando era jovem, carregava uma barra de metal. Ele a usava para ameaçar, intimidar os outros – e até torturar pequenos animais.
Fato 2: Aos 20 anos, Saddam entrou para o Partido Baath e se tornou um executor-chave. O Baath era um partido político fundado na Síria por Michel Aflaq, Salah ad-Din al-Bitar e Zaki al-Arsuzi em 1947. A ideologia do partido – o baathismo – era uma síntese do socialismo árabe e do pan-arabismo. O partido teve influência em diversos países árabes.
Em 1963, os baathistas conseguiram tomar o poder no Iraque através de um golpe militar, mas foram derrubados poucos meses depois. No mesmo ano, os baathistas assumiram o poder na Síria com a Revolução de 8 de Março, dando início a um longo período de governo do partido no país.
Saddam participou da tentativa de assassinato do líder iraquiano Abdel Karim Qasim em 1959, o que lhe rendeu muitos pontos dentro do Partido Baath. Após um golpe de Estado, o novo presidente passou a ser um primo de Saddam – Ahmed Hassan al-Bakr. Saddam foi nomeado vice-presidente, mas queria mais do que isso. Ficou como vice por quase dez anos – tempo suficiente para formar alianças e se aproximar de vários membros do governo.
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