fim do projeto europeu inteiro.
Apareceu um boletim especial no meio do noticiário da TV. A Inglaterra havia aprovado o Brexit. Essencialmente, o paÃs estava se desligando da União Europeia. Alguns dos votos tiveram a ver com patriotismo, porém o maior receio era que a UE tentaria forçar a Inglaterra a acolher um grande número de refugiados muçulmanos.
O plano da chanceler alemã de manter as portas do paÃs abertas à s pessoas que fugissem do Iraque ou da SÃria logo se mostrou bem impopular. Os alemães comuns passaram a recear as consequências de manter as portas abertas a refugiados. Isso levou a insinuações de que Merkel se importava mais com os estrangeiros do que com a segurança de seus próprios cidadãos.
Um partido polÃtico de extrema direita, Alternativa para a Alemanha ou AfD, disparou nas pesquisas nacionais e venceu várias eleições regionais importantes. Uma pesquisa nacional revelou que a soma do apoio popular aos dois maiores partidos polÃticos do paÃs havia caÃdo abaixo de 50%. Um receio intenso em relação aos imigrantes enfraqueceu a polÃtica de centro, levando as pessoas para a direita, uma evolução problemática que remontava ao surgimento do nazismo.
Para piorar as coisas, a Alemanha sofreu uma série de atentados terroristas sanguinários e caóticos. Enquanto viajava num trem regional perto da cidade de Würzburg, um adolescente afegão que pleiteava asilo atacou os passageiros com uma foice, ferindo cinco deles. Outro adolescente, de ascendência iraniana, matou a tiros nove pessoas e feriu mais 35 num shopping center em Munique. Um refugiado sÃrio, usando um facão, atacou pedestres na cidade de Reutlingen, matando uma polonesa grávida e ferindo mais duas pessoas. Um sÃrio que não conseguiu asilo se explodiu num bar em Ansbach, ferindo 15 pessoas. Todos esses incidentes reforçavam os argumentos dos partidos de extrema direita.
8. UMA CHAMADA AO DEVER
D
epois do tour pela Alemanha, Tess e Jake voltaram para Nova York. Desta vez Tess relutou, porém teve de concordar que a situação dos refugiados na Europa era algo tão avassalador, que os recursos limitados que ela teria à sua disposição não conseguiriam fazer a menor diferença. A crise teria de ser resolvida pelos governos europeus. Todavia Jake não tinha dúvidas de que Tess acabaria dando um jeito de voltar a esse tema.
Era um dia bonito, então decidiram jantar num restaurante ao ar livre no centro da cidade. Colocaram as coleiras nos cachorros e saÃram para caminhar. Os pedestres sorriam ao ver aquele par estranho formado por Maggie e Sebastian, mas não resistiam ao desejo de pedir licença para acariciar Maggie. Ãs vezes as carÃcias ficavam sujeitas ao humor do buldogue. Tubby havia se autonomeado protetor de Maggie, e levava essa função muito a sério. Era normal ele rosnar quando um transeunte que ele julgasse digno de suspeita acariciasse Maggie no topo da cabeça. Um leve puxão na coleira era o bastante para fazer Tubby se comportar, mas ele já teria manifestado o seu parecer.
Pouco depois de terem se assentado no restaurante à beira da calçada, o celular de Tess tocou, e ela atendeu.
- Oi, papai. O que houve?
Depois de uma breve conversa, ela passou o telefone a Jake.
- Meu pai quer falar com você.
Jake estava mastigando uma massa muito apetitosa ao pesto com edamame e amêndoas, mas pegou o telefone.
- Boa noite, general. A que devo o prazer?
- Olá, Jake. Sei que estou perturbando o seu jantar por minha conta e risco, mas preciso lhe fazer uma pergunta urgente. O nome Paul Saunders lhe diz alguma coisa?
- Claro! Paul era o meu chefe na CIA.
- Bem, ele gostaria que você e Tess tivessem uma reunião conosco amanhã. Disse que tem um assunto importante para conversar.
Jake ficou imediatamente desconfiado.
- Morgan, na última vez em que vi o Paul, eu tinha levado um tiro no pulmão de terroristas iraquianos. Não há o que me faça voltar para o Iraque.
- O Saunders não está propondo nada disso. Agora ele é Diretor Assistente da CIA, e precisa conversar com você sobre alguma coisa importante.
- E por que ele mesmo não me procurou?
- Teve receio de que você não o atendesse por causa de uns desentendimentos que vocês tiveram no passado. Agora está insistindo em falar com você. Como um favor para mim, gostaria que viesse falar conosco amanhã de manhã. Não deve levar mais do que uma hora. à coisa simples.
- Nada pode ser simples com o Paul envolvido, mas tudo bem, estaremos aà amanhã de manhã, desde que ninguém espere que nos envolvamos com o que o Paul estiver tentando fazer.
- à tudo o que eu lhe peço, Jake. Fico muito grato por você se dispor a ouvir o que Saunders tem a dizer. Posso contar com vocês no meu escritório amanhã de manhã, às dez horas?
- Estaremos lá. Tenha uma boa noite.
Jake pôs o celular na mesa, recostou-se na cadeira, e olhou para Tess.
- Não estou gostando disso, Tess. Acho que a CIA me quer de volta, e não estou nem um pouco interessado.
- Não posso culpá-lo, Jake, considerando que você escapou por pouco na sua última aventura no Iraque. Eu fui vê-lo, baleado e sangrando, no hospital militar, lembra?
- Acho que não temos outra opção além de ouvir o que Saunders tem para dizer. Vamos aproveitar a noite, e amanhã veremos.
Alheios ao lugar onde estavam, Tubby e Maggie desfrutavam seus hambúrgueres mal passados. Na verdade, Maggie comia como uma dama, saboreando sua comida em pequenas mordiscadas. Sebastian deglutira seu hambúrguer segundos depois de o garçom ter trazido a comida, e observava a refeição de sua comensal com uma despudorada volúpia. A pequena Maggie prudentemente protegia seu repasto de uma pilhagem, lançando um olhar de ânão ouse!â para o buldogue guloso. Como sempre, Jake evitou uma altercação mandando servirem a Tubby uma tigela do seu favorito sorvete de creme.
Na manhã seguinte, Jake e Tess tomaram um táxi para o centro da cidade, até o escritório central da NTC, uma grande fornecedora de equipamentos militares para o Pentágono. Foram levados rapidamente à sala do CEO, o General Morgan Turner, reformado. Como sempre, o general recebeu Tess e Jake efusivamente, e os convidou para se sentarem à mesa de reuniões.
- Então, como vão os negócios? - perguntou o general.
- Estamos indo bem, papai. â Tess respondeu. - Tiramos uma folga depois do ano decepcionante que passamos tentando fazer alguma coisa contra o tráfico de pessoas, mas agora estamos novamente focados no nosso negócio principal. Acabamos de voltar da Nigéria, onde fizemos a entrega de alguns aviões Tucano a serem usados contra o Boko Haram.
- Seria bom se a Nigéria pudesse bancar alguns caças Raptor F-22. Não quero me gabar, mas tenho muito orgulho desse avião. Ele é furtivo e sofisticado, sem falar em como é lucrativo.
Jake sorriu.
- Talvez ele impressionasse mais, se não custasse $ 68.362 por hora de voo.
O sogro estava preparado.
- Você não perde uma chance de estragar prazeres, não é?
- Só estou citando fatos.
- De qualquer modo, isso é complicado. Como sabe, todos esses números ficam sujeitos a convenções de contabilidade, à interpretação dos contadores, e simplesmente ao número de horas de voo por ano. Estes são custos médios, e não custos marginais.
O cérebro