quer que voltes para casa?” Perguntou Riley.
Liam anuiu.
Riley não conseguia colocar a pergunta mais óbvia…
“O que é que tu queres?”
O que é que ela faria – o que poderia ela fazer – se Liam dissesse que queria regressar a casa?
Riley sabia que Liam era um rapaz carinhoso e com capacidade de perdoar. Tal como muitas vítimas de abusos, também era propenso à negação.
Riley sentou-se a seu lado.
Perguntou, “Tens sido feliz aqui?”
Liam emitiu um som sufocado. Pela primeira vez, Riley apercebeu-se de que ele estava à beira de chorar.
“Oh, sim,” Disse ele. “Tem sido… Eu tenho estado… tão feliz.”
Riley sentiu um nó na garganta. Ela queria dizer-lhe que ele podia ficar o tempo que quisesse. Mas o que poderia ela fazer se o pai exigisse o seu regresso? Ela nada poderia fazer para o impedir.
Uma lágrima correu pelo rosto de Liam.
“É só que… desde que a mãe se foi embora… sou tudo o que o pai tem. Ou pelo menos era até me ir embora. Agora está completamente sozinho. Ele diz que parou de beber. Diz que não me vai magoar nunca mais.”
Riley quase disse…
“Não acredites nele. Nunca acredites nele quando disser isso.”
Mas em vez disso, Riley disse, “Liam, o teu pai está muito doente.”
“Eu sei,” Disse Liam.
“Depende dele obter a ajuda de que precisa. Mas até a obter… bem, será muito difícil ele mudar.”
Riley não disse mais nada durante alguns momentos.
Depois acrescentou, “Lembra-te sempre que a culpa não é tua. Sabes disso, não sabes?”
Liam engoliu um soluço e anuiu.
“Voltaste a vê-lo?” Perguntou Riley.
Liam abanou a cabeça em silêncio.
Riley deu-lhe uma palmadinha na mão.
“Só quero que me prometas uma coisa. Se fores vê-lo. Não vás sozinho. Quero estar lá contigo. Prometes?”
“Prometo,” Disse Liam.
Riley pegou numa caixa de lenços e deu um a Liam que limpou os olhos e assoou o nariz. Depois os dois ficaram sentados em silêncio durante algum tempo.
Por fim, Riley disse, “Precisas de mim para mais alguma coisa?”
“Não. Agora estou bem. Obrigado por… bem, você sabe.”
E sorriu-lhe muito ligeiramente.
“Por tudo,” Acrescentou ele.
“Não tens de quê,” Disse Riley, devolvendo-lhe o sorriso.
Ela saiu da sala familiar, caminhou até à sala de estar e sentou-se sozinha no sofá.
De repente, foi acometida por uma emoção tão grande que não conseguiu evitar chorar. Ficou alarmada por perceber como ficara abalada com a conversa que acabara de ter com Liam.
Mas quando pensou nisso, foi fácil perceber porquê.
Estou tão desnorteada, Pensou.
No final de contas, ainda estava a tratar da adoção de Jilly. Salvara a pobre rapariga de horrores inomináveis. Quando Riley a encontrou, Jilly estava a tentar vender o corpo por puro desespero.
Então em que é que Riley estava a pensar ao trazer outro adolescente para casa?
De repente desejou que Blaine ainda ali estivesse para conversarem.
O Blaine parecia sempre saber o que dizer.
Ela apreciara a calmaria entre casos durante algum tempo, mas aos poucos, as preocupações começavam a insinuar-se – preocupações relacionadas com a sua família e hoje com Bill.
Não pareciam umas férias.
Riley não conseguia evitar pensar…
Passa-se algo de errado comigo?
Seria ela simplesmente incapaz de gozar uma vida pacífica?
De qualquer das formas, podia ter a certeza de uma coisa.
Aquela trégua não duraria. Algures, algum monstro estava a cometer algum feito hediondo – e teria que ser ela a pará-lo.
CAPÍTULO QUATRO
Riley foi acordada na manhã seguinte pelo som do seu telemóvel a vibrar.
A trégua terminou, Pensou.
Olhou para o telemóvel e viu que tinha razão. Era um SMS do seu chefe de equipa na UAC, Brent Meredith. Deveria encontrar-se com ele e a mensagem estava escrita no seu típico estilo conciso…
UAC 8:00
Riley olhou para as horas e apercebeu-se que tinha que se despachar para chegar a tempo à reunião tão apressadamente marcada. Quantico ficava apenas a meia-hora de carro de casa, mas ela precisava de se apressar.
Riley demorou apenas alguns minutos a escovar os dentes, pentear o cabelo, vestir-se e descer as escadas.
Gabriela já fazia o pequeno-almoço na cozinha.
“O café está pronto?” Perguntou-lhe Riley.
“Sí,” Disse Gabriela e serviu-a.
Riley bebeu um gole de café sofregamente.
“Vai-se embora sem tomar o pequeno-almoço? Perguntou-lhe Gabriela.
“Temo que sim.”
Gabriela deu-lhe uma bagel.
“Então leve isto consigo. Tem que ter alguma coisa no estômago.”
Riley agradeceu a Gabriela, bebeu um pouco mais de café e correu para o carro.
Durante a curta viagem até Quantico, foi arrebatada por uma sensação peculiar.
Começou realmente a sentir-se melhor do que nos últimos dias, até ligeiramente eufórica.
Era em parte um aumento de adrenalina, é claro, já que a sua mente e corpo se preparavam para mergulhar num novo caso.
Mas era também algo perturbador – uma sensação de que as coisas estavam de alguma forma a voltar ao normal.
Riley suspirou perante essa tomada de consciência.
Interrogou-se – perseguir monstros era algo mais normal do que passar tempo com aqueles que amava?
Não pode ser… bem, normal, Pensou.
Pior, lembrava-lhe de algo que o pai, um Marine aposentado amargo e brutal, lhe tinha dito antes de morrer.
“És uma caçadora. Aquilo que é normal para as pessoas – para ti seria o fim.”
Riley queria muito que tal não fosse verdade.
Mas em momentos como aquele, não podia deixar de se preocupar – seriam os papéis de esposa, mãe e amiga impossíveis de alcançar?
Seria inútil sequer tentar?
Seria “a caça” a única coisa que ela realmente tinha na vida?
Não, não era a única coisa.
Claramente nem sequer era a coisa mais importante na sua vida.
Firmemente, colocou aquela pergunta desagradável de lado.
Quando chegou ao edifício da UAC, estacionou e apressou-se diretamente