preso e ainda possuía a mesma expressão jovem e amigável daquele tempo.
O mesmo não se podia dizer dos pais das vítimas. Os dois casais apresentavam um aspeto prematuramente envelhecido e psicologicamente quebrado. Riley não podia deixar de se compadecer daquelas pessoas que haviam suportado anos de sofrimento e dor.
Só lhes desejava ter feito justiça no momento certo. E também o seu primeiro parceiro no FBI, Jake Crivaro. Tinha sido um dos primeiros casos de Riley enquanto agente e Jake fora um magnífico mentor.
Larry Mullins tinha sido preso sob a acusação de morte de uma criança num parque infantil. No decorrer da sua investigação, Riley e Jake descobriram que uma outra criança tinha morrido em circunstâncias praticamente idênticas quando ao cuidado de Mullins noutra cidade. Ambas as crianças tinham sido asfixiadas.
Quando Riley prendeu Mullins, lhe leu os direitos e o algemou, a sua expressão de júbilo matreiro fora o suficiente para saber que ele era culpado.
“Boa sorte,” Dissera-lhe de forma sarcástica.
De facto, logo de início, a sorte não acompanhou Riley e Jake. Ele negara firmemente ter assassinado as crianças. E apesar dos tremendos esforços de Riley e Jake, as provas contra ele eram perigosamente escassas. Fora impossível determinar o modo como os meninos tinham sido asfixiados e não fora encontrada a arma do crime. O próprio Mullins apenas admitira negligência e negara tê-los assassinado.
Riley recordara-se do que o Procurador lhe dissera a ela e a Jake.
“Temos que ter cuidado ou o filho da mãe sai impune. Se o tentarmos acusar de todas as acusações, perdemos tudo. Não podemos provar que o Mullins era a única pessoa com acesso às crianças quando foram mortas.”
Depois veio a tentativa de acordo. Riley detestava aquelas negociações judiciais. Aliás, a sua aversão por esse tipo de acordo surgira precisamente com aquele caso. O advogado de Mullins tentou fazer um acordo. Mullins declarava-se culpado de ambos os homicídios, mas enquanto homicídios não premeditados, e as penas seriam cumpridas em simultâneo.
Era uma porcaria de acordo. Nem sequer fazia sentido. Se o Mullins tinha morto as crianças, como é que também poderia ser ao mesmo tempo meramente negligente? As duas conclusões eram absolutamente contraditórias. Mas o Procurador chegou à conclusão de que não lhes restava alternativa que não fosse aceitar aquele acordo. Por fim, Mullins foi condenado a trinta anos de cadeia com a possibilidade de liberdade condicional ou libertação precoce por bom comportamento.
A reação das famílias fora de horror e incredulidade. Culparam Riley e Jake por não fazerem o seu trabalho de forma competente. Jake, amargurado e zangado, reformou-se mal o caso terminou.
Riley prometera às famílias dos meninos que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para manter Mullins atrás das grades. Há alguns dias atrás, os pais de Nathan Bett haviam ligado a Riley para lhe dar conhecimento da audiência de liberdade condicional. Chegara o momento de fazer cumprir a sua promessa.
Os sussurros terminaram. A Oficial da Audiência Julie Simmons olhou para Riley.
“Creio que a Agente Especial Riley Paige deseja fazer uma declaração,” Disse Simmons.
Riley engoliu em seco. O momento por que aguardava há quinze anos tinha finalmente chegado. Ela sabia que o conselho da audiência já tinha conhecimento de todas as provas, por muito insuficientes que fossem. Não valia a pena repisar o assunto. Tinha que fazer um apelo mais pessoal.
Levantou-se e falou.
“Segundo creio, Larry Mullins está a ser ouvido nesta audiência de liberdade condicional por ser um ‘recluso exemplar’” Com uma nota de ironia, acrescentou, “Sr. Mullins, dou-lhe os parabéns pelo seu feito.”
Mullins acenou, o rosto vazio. Riley prosseguiu.
“’Comportamento exemplar’ – qual é o significado exato disto? Parece-me estar menos relacionado com o que fez do que com o que não fez. Não quebrou regras da prisão. Comportou-se. E é tudo.”
Riley lutava para manter a voz firme.
“Muito honestamente, não estou surpreendida. Não existem muitas crianças para matar na prisão.”
Ouviram-se sussurros e murmúrios na sala. O sorriso de Mullins transformou-se num olhar fixo.
“Peço desculpa,” Disse Riley. “Tenho consciência que Mullins nunca admitiu que os homicídios foram premeditados e a acusação nunca foi por esse caminho. Mas de qualquer das formas, declarou-se culpado. Matou duas crianças. Não há forma de o ter feito com boas intenções.”
Parou por um momento, escolhendo as palavras que proferiria de seguida cuidadosamente. Riley queria provocar Mullins, obrigá-lo a mostrar a sua raiva, a mostrar o seu verdadeiro Eu. Mas é claro que ele sabia que se o fizesse, arruinaria o seu registo de bom comportamento e nunca saíria da prisão. A melhor estratégia de Riley era obrigar os membros do conselho a encarar a realidade do que ele tinha perpetrado.
“Eu vi o corpo sem vida de Ian Harter, quatro anos, no dia seguinte a ser assassinado. Parecia estar a dormir com os olhos abertos. A morte tinha-lhe roubado toda a expressão e o seu rosto estava pacífico. Ainda assim, consegui discernir o terror nos seus olhos mortos. Os seus últimos momentos nesta terra foram momentos de um absoluto terror. Vi o mesmo no pequeno Nathan Betts.”
Riley ouviu as mães de ambas as crianças começarem a chorar. Ela odiava ter que trazer à tona aquelas memórias horríveis, mas não tinha outra hipótese.
“Não nos podemos esquecer do seu terror,” Disse Riley. “E não nos podemos esquecer que Mullins demonstrou pouca emoção durante o julgamento e nenhum sinal de arrependimento. O seu arrependimento veio muito, muito mais tarde – se é que é sincero.”
Riley respirou fundo.
“Quantos anos de vida foram retirados àqueles dois meninos se os juntarmos? Muitos, muito mais do que cem, parece-me. Ele foi sentenciado a trinta anos. Só cumpriu quinze. Não é suficiente. Nunca viverá o suficiente para compensar todos aqueles anos perdidos.”
Agora a voz de Riley tremia. Sabia que tinha que se controlar. Não podia desatar a chorar ou gritar de raiva.
“Será que chegou o momento de perdoar a Larry Mullins? Deixo isso ao critério das famílias das crianças. Esta audiência não tem nada a ver com perdão. Não é essa a questão essencial. A questão mais importante é o perigo que ele ainda constitui. Não podemos arriscar a probabilidade de mais crianças morrerem às suas mãos.”
Riley reparou que alguns membros do conselho olhavam para os seus relógios. Sentiu um ligeiro pânico. O conselho já tinha revisto dois outros casos naquela manhã e ainda tinham mais quatro até ao meio-dia. Estavam a ficar impacientes. Riley tinha que concluir imediatamente. Olhou-os diretamente nos olhos.
“Senhoras e senhores, imploro-vos que não concedam esta liberdade condicional.”
E ainda acrescentou, “Talvez mais alguém queira falar em nome do recluso.”
E sentou-se. As suas últimas palavras tinham uma dupla intenção. Ela sabia perfeitamente que ninguém falaria em defesa de Mullins. Apesar do seu “bom comportamento”, não tinha um único amigo ou pessoa que o defendesse no mundo. E Riley tinha a certeza de que não o merecia.
“Alguém deseja pronunciar-se?” Perguntou a Oficial.
“Só gostaria de acrescentar algumas palavras,” Disse uma voz vinda do fundo da sala.
Riley conhecia bem aquela voz.
Virou-se para trás e viu um homem baixo e entroncado em pé. Era Jake Crivaro – a última pessoa que esperava encontrar naquele dia. Riley estava simultaneamente surpreendida e deliciada.
Jake aproximou-se, disse o seu nome e dirigindo-se aos membros do conselho, disse, “Posso dizer-vos que este tipo é um grande manipulador. Não acreditem nele. Está a mentir.