deu um passo para a frente, como se o pressentindo, e abraçou-a.
Ela sentiu que começava a chorar nos seus braços.
"Vou sentir saudades tuas, Ceres", disse ele, por cima do seu ombro. "Tu és diferente de todos os outros. Todos os dias vou olhar para o céu e saber que estás sob as mesmas estrelas. Fazes o mesmo?"
No início, ela queria gritar com ele, para dizer: como te atreves a deixar-me aqui sozinha.
Mas ela sentiu no seu coração que ele não podia ficar e não queria tornar a situação mais difícil do que já era para ele.
Uma lágrima rebolou pelo seu rosto abaixo. Ela fungou e acenou com a cabeça.
"Vou ficar debaixo da nossa árvore todas as noites", disse ela.
Ele beijou-a na testa e envolveu-a nos seus braços. As feridas nas suas costas pareciam como que facadas, mas ela cerrou os dentes e permaneceu em silêncio.
"Amo-te, Ceres."
Ela queria responder e, porém, não conseguia dizer nada - as palavras estavam presas na sua garganta.
Ele foi buscar o seu cavalo ao estábulo. Ceres ajudou-o a carregá-lo com comida, ferramentas e suprimentos. Ele abraçou-a uma última vez e ela pensou que o seu peito iria explodir de tristeza. Ainda assim, ela não conseguia pronunciar uma única palavra.
Ele montou o cavalo e acenou com a cabeça antes de fazer sinal para o animal se mover.
Ceres acenou ao cavalgar. Ela ficou a ver com uma firme atenção até ele desaparecer atrás da distante colina. O único verdadeiro amor que ela jamais havia conhecido vinha daquele homem. E agora ele tinha se ido embora.
Começou a chover dos céus, fazendo-lhe cócegas contra o seu rosto.
"Pai!", gritou tão alto quanto conseguiu. "Pai, eu amo-te!"
Ela caiu de joelhos e enterrou as mãos no rosto, soluçando a chorar.
Ela sabia que a vida nunca mais seria a mesma.
CAPÍTULO TRÊS
Com os pés doridos e os pulmões a arder, Ceres subiu a colina íngreme tão rapidamente quanto conseguiu, sem derramar uma gota de água de ambos os baldes que tinha dos lados. Normalmente ela faria uma pausa para intervalo, mas a mãe tinha-a ameaçado ficar sem pequeno-almoço, a não ser que ela estivesse de volta ao nascer do sol – e ficar sem pequeno-almoço significava que ela não iria comer até ao jantar. De qualquer das formas, ela não se importava com a dor – isso, pelo menos, permitia-lhe deixar de pensar no seu pai e no novo estado miserável das coisas desde que ele se tinha ido embora.
O sol estava agora a coroar ao longe as Montanhas Alva, pintando as nuvens dispersas lá em cima de rosa dourado. O vento macio sussurrava pela amarela e alta erva em ambos os lados da estrada. Ceres inspirava o ar fresco da manhã pelo nariz, desejando conseguir ser mais rápida. A sua mãe não iria considerar uma desculpa aceitável o facto do seu poço ter secado ou que havia uma longa fila no outro a meia milha de distância. Na verdade, ela só parou quando chegou ao topo da colina - e assim que lá chegou, ela parou, ficando atordoada com o que viu.
Lá, ao longe, estava a sua casa - e à sua frente estava um vagão de bronze. A sua mãe estava diante do vagão, conversando com um homem que estava muito acima do peso. Ceres pensou que nunca tinha visto ninguém nem com a metade do seu tamanho. Ele usava uma túnica de linho cor de vinho e um chapéu de seda vermelha, e a sua longa barba era espessa e cinza. Ela pestanejou, tentando entender. Seria um comerciante?
A sua mãe estava a usar o seu melhor vestido, um vestido verde de linho até o chão que ela tinha comprado anos antes com o dinheiro que deveria ter sido usado para comprar uns sapatos novos a Ceres. Nada daquilo fazia qualquer sentido.
Hesitante, Ceres começou a descer a colina. Ela manteve os olhos fixados neles, e quando ela viu o homem de idade entregar à sua mãe uma bolsa de couro pesado e viu o rosto magro da sua mãe iluminar-se, ela ficou ainda mais curiosa. Teria o azar deles acabado? Poderia o Pai voltar para casa? Aqueles pensamentos aliviaram-na um pouco, embora ela não se permitisse sentir qualquer excitação até saber os detalhes.
Ao aproximar-se da sua casa, a sua mãe virou-se e sorriu para si calorosamente – e, imediatamente, Ceres sentiu um nó de preocupação no estômago. A última vez que a sua mãe tinha sorrido para ela assim – com dentes brilhantes, olhos brilhantes - Ceres tinha sido chicoteada.
"Querida filha", disse a sua mãe num tom excessivamente doce, abrindo-lhe os braços com um sorriso que fez com que o sangue de Ceres coalhasse.
"Esta é a miúda?", disse o velho homem com um sorriso ansioso e com os seus olhos escuros e redondos arregalados ao olhar para Ceres.
Agora, de perto, Ceres podia ver cada ruga na pele do homem obeso. O seu largo nariz achatado parecia ultrapassar o seu rosto inteiro, e quando ele tirou o chapéu, sua cabeça calva e suada brilhava à luz do sol.
A sua mãe rodopiou até Ceres e segurou-lhe nos baldes, colocando-os na erva chamuscada. Aquele gesto apenas confirmou a Ceres que algo estava profundamente errado. Ela começou a sentir uma sensação de pânico a crescer dentro de si.
"Apresento-te o meu orgulho e alegria, minha única filha, Ceres”, disse a sua mãe, fingindo enxugar uma lágrima do seu olho, quando não havia nenhuma. "Ceres, este é o Lorde Blaku. Por favor, cumprimenta o teu novo mestre."
Um medo repentino apoderou-se de Ceres. A sua respiração paralisou. Ceres olhou para a mãe e, de costas viradas para Lorde Blaku, a sua mãe lançou-lhe um sorriso que era o mais demoníaco que ela alguma vez já havia visto.
"Mestre?", perguntou Ceres.
"Para salvar a nossa família da ruína financeira e constrangimento público, o benevolente Lorde Blaku ofereceu ao teu pai e a mim um generoso acordo: um saco de ouro em troca de ti."
"O quê?", engasgou-se Ceres, sentindo-se a afundar para dentro da terra.
"Agora, sê a boa menina que eu sei que és e cumprimenta", disse a sua mãe, atirando a Ceres um olhar de advertência.
"Não o farei", Ceres disse, dando um passo para trás, enchendo o peito, sentindo-se tola por não ter imediatamente percebido que o homem era um traficante de escravas e que a transação era pela sua vida.
"O Pai nunca me venderia", acrescentou ela com os dentes cerrados, em crescente horror e indignação.
A sua mãe fez má cara e agarrou-a pelo braço, espetando as suas unhas na pele de Ceres.
"Se te comportares, este homem pode levar-te como sua esposa e, para ti, isso é ter muita sorte", murmurou ela.
Lorde Blaku lambia os seus finos e estalados lábios enquanto os seus olhos inchados vagueavam acima e abaixo com avidez pelo corpo de Ceres. Como poderia a sua mãe fazer isso com ela? Ela sabia que a sua mãe não a amava tanto quanto aos seus irmãos - mas aquilo?
"Marita", disse ele com uma voz nasal. "Você me disse que sua filha era bonita mas esqueceste de me dizer o quão absolutamente magnífica ela é. Ouso dizer, nunca vi uma mulher com lábios tão suculentos como os dela, olhos tão ardentes e com um corpo tão firme e magnífico."
A mãe de Ceres colocou uma mão sobre o seu coração com um suspiro e Ceres sentiu que era bem capaz de vomitar ali mesmo. Ela cerrou os punhos e soltou o seu braço da mão da sua mãe.
"Talvez eu devesse ter pedido mais, se ela te agrada assim tanto", disse a mãe de Ceres, baixando os olhos em desânimo. "Ela é, afinal, a nossa única amada filha."
"Eu estou disposto a pagar um bom dinheiro por tal beleza. Serão mais cinco peças de ouro suficientes? ", perguntou ele.
"Quanta generosidade", respondeu a mãe.
Lorde Blaku caminhou até ao seu vagão para ir buscar mais ouro.
"O