não, para ter uma desculpa e não gastar tanto.
“Legal”, foi tudo o que ele disse.
Foi justo aí que Rico apareceu. “Ellie”, falou, com um sorriso. “Que bom ver você”. O velho nunca conseguia se lembrar do nome de Emily.
“Oi, Rico”, Emily disse. “Você teria mais camas como esta?” Ela se lembrou do cômodo oculto que Rico lhe havia mostrado, o lugar onde guardava todos os itens maiores e mais caros, que não podia mover facilmente. Estava repleto de tesouros a granel, ainda mais que os que a imensa casa do seu pai continha.
“É claro”, Rico disse, dando uma leve batidinha no braço dela com a mão enrugada. “Eles ficam lá atrás. Sabe o caminho?”
Emily assentiu. Rico havia mostrado a ela e a Daniel o cômodo secreto vários dias antes.
“Nesse caso, deem uma olhada”, Rico disse. “Confio em vocês”.
Emily sorriu, se perguntando como ele confiava nela se nem conseguia lembrar seu nome. Então, ela e Daniel caminharam pelo corredor escuro, sinuoso, e entraram no amplo cômodo dos fundos. Assim como da última vez em que esteve aqui, Emily ficou quase sem fôlego por causa do frio, e surpresa com a vastidão do lugar. Era como entrar numa caverna. Estremeceu e abraçou o próprio corpo. Daniel notou que ela tremia e a puxou para perto de si. O calor que vinha dele confortou Emily.
Eles penetraram ainda mais no salão, passando por armários suspensos e balcões, mesas e guarda-roupas.
“Nárnia, aqui vou eu”, Emily brincou, abrindo a porta de um guarda-roupa de madeira particularmente ornamentado, antes de anotar o preço e código em sua lista de compras.
Finalmente, localizaram o lugar onde todas as camas eram guardadas.
“Aqui”, Emily disse, olhando para a cama de madeira escura, antiga, de dossel. Cada um dos mastros era feito para se parecer com os troncos de árvores dos quais haviam sido entalhados. Parecia quase de outro mundo. “Isto é exatamente do que preciso. Só mais uma como esta e os quartos mais caros parecerão bem luxuosos, não acha?”
Daniel parecia particularmente impressionado pela cama. “Ela é incrivelmente bem-feita. Quero dizer, dá para notar como suportou bem o passar do tempo, mas também pelo acabamento, a maneira como usaram um verniz que combinava com o efeito natural da madeira”. Ele parecia enamorado, apesar de que, mal havia terminado de dizer essas palavras, imediatamente se distraiu com outra. “Emily, rápido, veja esta cama!”
Emily riu enquanto ele puxava sua mão para mostrar outra cama ornamentada. Esta tinha um verniz mais claro, e quase parecia ter vindo de uma choupana de madeira da Islândia. Os padrões foram entalhados na cabeceira e nos postes. Era linda, realmente valiosa.
“É uma em um milhão, Emily!” Daniel disse, com entusiasmo. “Entalhada à mão. Uma carpintaria incrível. Você tornaria a pousada famosa se comprasse esta!”
Emily sentiu um calor percorrer seu corpo. Era verdade. As camas que encontrou na loja de Rico eram incríveis e únicas. Agora entendia o que Cynthia estava tentando lhe dizer, sobre tratar seus hóspedes como a realeza. Ela certamente se sentiria como uma princesa dormindo em uma destas.
“Sabe”, Emily disse, os dedos se demorando pela madeira de um dos postes. “Se comprarmos estas camas, há uma condição”.
“Ah?” Daniel disse, franzindo o cenho.
Emily fez cara de séria e levantou uma sobrancelha. “Teríamos que testar cada cama. Para avaliar a qualidade, é claro”.
“Quer dizer... Ah!” Daniel entendeu o que Emily estava sugerindo. Ele franziu o cenho, pensando. A ideia de comprar as camas subitamente parecia ainda mais tentadora. “Ah, bem, é claro...” ele murmurou, envolvendo Emily nos braços. “Você não conseguiria dormir à noite se não soubesse, em primeira mão, a experiência pela qual seus hóspedes estão pagando”.
Ele beijou o pescoço dela sedutoramente e Emily riu.
“Vou dar a minha lista a Rico”, ela disse, retirando-se do abraço. “E dizer adeus a todo o meu dinheiro”.
Daniel assoviou. “Ele vai ficar feliz. Provavelmente, você vai render o lucro de um mês em apenas uma compra!”
“Não estou pensando nisso”, Emily disse, fingindo cobrir os olhos com as mãos para evitar olhar para os preços nas etiquetas.
Ela deixou Daniel no grande salão e foi encontrar Rico.
“Evie”, ele disse, quando ela reapareceu. “Encontrou o que queria?”
“Sim”, Emily disse. “Gostaria de comprar três quarda-roupas, uma penteadeira, duas mesas, seis criados-mudos, uma estante, duas cômodas, três tapetes e três camas antigas”.
“Ah”, Rico disse, um pouco surpreso enquanto ela lhe dava a lista de itens e seus preços. “Isso é bastante coisa”. Ele começou a somá-las lentamente em sua velha caixa registradora.
“Estou mobiliando mais dois quartos na pousada e remodelando outro”.
“Ah, sim, você é a garota da pousada”, Rico disse, assentindo. “Seu pai ficaria muito orgulhoso do que já conseguiu, sabe”.
Emily estremeceu. Ainda que estivesse grata por suas palavras gentis, pensar em seu pai deixava-a desconfortável.
“Obrigada”, disse baixinho.
“Agora”, Rico disse, com sua voz de idoso, “já que você é uma cliente tão especial, e está fazendo algo que beneficiará a cidade inteira, vou lhe dar um desconto”. Apertou alguns botões e um valor apareceu na tela empoeirada.
Emily espremeu os olhos, sem saber se estava vendo direito. “Rico, este é um desconto de cinquenta por cento”. Ela não podia dizer se o cavalheiro idoso havia digitado por engano o valor menor; a última coisa que queria era explorá-lo acidentalmente.
“Está tudo certo. Você conseguiu um desconto especial do Memorial Day em Sunset Harbor”, e deu uma piscadela.
Emily balbuciou, dando-lhe seu cartão. Quase não acreditava em tanta generosidade.
“Tem certeza?”
Rico levantou uma mão para fazê-la parar. A compra foi realizada e Emily ficou ali, muda, um pouco atônita.
“Obrigada, Rico”, ela disse, sem fôlego, e deu um beijo na pele fina do rosto.
Ele deu um largo sorriso, que dizia tudo.
Ela se sentia alegre como uma criança ao correr de volta até os fundos da loja de antiguidades, para encontrar Daniel.
“Rico me deu um desconto de cinquenta por cento!” exclamou ao alcançá-lo.
Ele parecia surpreso.
“Isso é incrível”, Daniel replicou.
“Vamos”, Emily disse, subitamente impaciente. “Vamos tirar estas coisas daqui e começar as melhorias na pousada”.
Daniel riu. “Nunca vi alguém tão animada para terminar um encontro”.
“Desculpe”, Emily disse, enrubescendo. “É só que há muito a fazer antes de Jayne chegar”.
“Quem é Jayne?” Daniel perguntou. “Não me disse que havia feito reserva para outro hóspede”. Ele parecia animado por ela, se não um pouco surpreso.
Emily riu. “Ah, não é isso. Jayne é uma velha amiga, de Nova York”.
Daniel se sentiu subitamente desconfortável. Havia se sentido julgado por Amy quando ela veio visitar e estava bem reticente em conhecer mais uma amiga de Emily.
“Certo”, ele disse, quase num murmúrio.
“Ela é legal”, Emily o tranquilizou. “E vai adorar você”. Então, beijou-o no rosto.
“Não